Adaptação do HIV reduz a sua virulência em populações de alta soroprevalência do vírus, publicado pelo periódico PNAS
Fatores que influenciam a virulência1 do HIV2 são de relevância direta para os atuais esforços para conter e, finalmente erradicar, a epidemia de HIV2. Pesquisadores coordenados pelo Dr. Philip J. R. Goulder, pediatra e imunologista que estuda o HIV2 e dirige o grupo HIV2 Infection and Immune Control Group, investigaram na Botswana e na África do Sul, países severamente afetados pelo HIV2, o impacto sobre a virulência1 do HIV2 na adaptação do HIV2 para alelos3 HLA de proteção, como o HLA-B*57. Na Botswana, onde a epidemia começou mais cedo e alcançou maior soroprevalência em adultos do que na África do Sul, a capacidade de replicação do HIV2 é menor. O HIV2 é também melhor adaptado para o HLA-B*57, o qual na Botswana não tem nenhum efeito protetor, em contraste com o seu impacto na África do Sul. Estudos de modelagem indicam que o aumento do acesso à terapia antirretroviral pode também contribuir para a queda acelerada na virulência1 do HIV2 ao longo das próximas décadas.
Acredita-se amplamente que as epidemias em novos hospedeiros diminuíram em virulência1 ao longo do tempo, com a seleção natural favorecendo patógenos que causam a doença mais branda. No entanto, existe uma troca frequente entre alta virulência1 encurtando a sobrevivência4 do hospedeiro por um lado, mas permitindo a transmissão mais rápida, por outro lado. Este é o caso da infecção5 pelo HIV2, em que as altas cargas virais aumentam o risco de transmissão no coito, mas reduz a longevidade do hospedeiro. Os pesquisadores investigaram o impacto sobre a virulência1 do HIV2 da adaptação do HIV2 às moléculas de HLA que protegem contra a progressão da doença, tais como HLA-B*57 e HLA-B*58:01. Foram analisadas coortes na Botswana e na África do Sul. Na Botswana a adaptação do HIV2 para HLA incluindo o HLA-B*57/58:01 foi maior em comparação com a África do Sul (P=7×10-82), o efeito protetor do HLA-B*57/58:01 está ausente (P=0,0002) e a capacidade de replicação da população viral é menor (P=0,03).
Estes dados sugerem que a evolução viral está ocorrendo de forma relativamente rápida, e que a adaptação do HIV2 para a maioria dos alelos3 HLA de proteção pode contribuir para uma diminuição da capacidade de replicação viral a nível populacional e para uma consequente redução na virulência1 do HIV2 ao longo do tempo. O papel potencial desempenhado pelo crescente acesso à terapia antirretroviral neste processo também é explorado. Modelos desenvolvidos por estes pesquisadores sugerem benefícios distintos da terapia antirretroviral, além de reduzir a doença e a transmissão do HIV2, ela está conduzindo uma redução da virulência1 do HIV2 durante o curso da epidemia, acelerando assim os efeitos da adaptação viral HLA-mediada.