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Álcool e risco de câncer: documento aponta aumento do risco com apenas 1 ou menos bebidas por dia e maior risco para mulheres

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O serviço de saúde1 pública dos Estados Unidos, através do escritório do U.S. Surgeon General, publicou um importante documento destacando o uso de álcool como uma das principais causas evitáveis de câncer2 no país.

No governo americano, o Surgeon General, ou Cirurgião Geral, é o chefe operacional do Corpo comissionado do Serviço de Saúde1 Pública dos EUA, sendo o principal porta-voz para questões de saúde1 pública do país.

Um Surgeon General’s Advisory, ou Aviso do Cirurgião Geral, é uma declaração pública que chama a atenção do povo americano para um problema urgente de saúde1 pública e fornece recomendações sobre como ele deve ser abordado. Avisos são reservados para desafios significativos de saúde1 pública que exigem conscientização e ação imediatas da nação.

O novo documento publicado relata que o uso de álcool é muito comum – em 2019-2020, 72% dos adultos dos EUA relataram que consumiam uma ou mais bebidas por semana, mas menos da metade dos adultos dos EUA estão cientes da relação entre o consumo de álcool e o risco de câncer2.

A ligação direta entre o uso de álcool e o câncer2 foi estabelecida pela primeira vez no final da década de 1980, e as evidências dessa ligação se fortaleceram ao longo do tempo. Este conjunto de evidências científicas demonstra uma relação causal entre o uso de álcool e o aumento do risco de pelo menos sete tipos diferentes de câncer2, incluindo mama3 (em mulheres), colorretal, esôfago4, fígado5, boca6 (cavidade oral7), garganta8 (faringe9) e caixa vocal (laringe10).

Quanto mais álcool consumido, maior o risco de câncer2. Para certos tipos de câncer2, como câncer2 de mama3, boca6 e garganta8, as evidências mostram que esse risco pode começar a aumentar em torno de uma ou menos bebidas por dia. O aviso publicado descreve as evidências científicas para a ligação causal entre o consumo de álcool e o aumento do risco de câncer2. Ele também ajuda a informar melhor o público sobre essa relação e oferece recomendações importantes para reduzir os cânceres relacionados ao álcool.

A dimensão do problema

O álcool representa a terceira principal causa evitável de câncer2 nos Estados Unidos, após tabaco e obesidade11. O impacto é devastador: aproximadamente 100.000 novos casos de câncer2 e 20.000 mortes anuais, resultando na perda de mais de 305.000 anos potenciais de vida. Este número é particularmente alarmante quando comparado às 13.500 mortes anuais por acidentes de trânsito relacionados ao álcool.

No mundo, foram relatados 741.300 casos de câncer2 atribuíveis ao consumo de álcool em 2020.

Entendendo os mecanismos

O álcool causa câncer2 através de quatro mecanismos principais, cada um atuando como uma via distinta para o desenvolvimento da doença:

  1. A transformação do álcool em acetaldeído, que age como uma toxina12 que danifica diretamente o DNA celular, funcionando como uma chave que destrói uma fechadura molecular.
  2. A geração de espécies reativas de oxigênio (ROS), que provocam inflamação13 e danos celulares, criando um ambiente propício ao desenvolvimento do câncer2.
  3. A alteração dos níveis hormonais, particularmente relevante no câncer2 de mama3, onde o álcool interfere no equilíbrio do estrogênio.
  4. O efeito solvente do álcool, que facilita a absorção de outros carcinogênicos pelo corpo, especialmente as partículas da fumaça do tabaco.

O panorama dos riscos

Os dados mostram um aumento progressivo no risco de câncer2 relacionado ao álcool em mulheres e homens conforme o consumo:

Para mulheres:

  • 16,5% de risco com menos de uma bebida por semana
  • 19,0% com uma bebida diária
  • 21,8% com duas bebidas diárias

Para homens:

  • 10,0% de risco com menos de uma bebida por semana
  • 11,4% com uma bebida diária
  • 13,1% com duas bebidas diárias

Para as mulheres, o maior consumo de álcool também aumenta o risco específico para câncer2 de mama3:

  • 11,3% de risco com menos de uma bebida por semana
  • 13,1% com uma bebida diária
  • 15,3% com duas bebidas diárias
Leia sobre "Como evitar o câncer2", "Como manter mais baixo o risco do consumo de bebidas alcoólicas" e "Parar de beber: entendendo o processo e os benefícios".

O desafio da conscientização

Existe uma disparidade crítica entre o risco real e a percepção pública. Enquanto 72% dos adultos americanos consomem álcool regularmente, apenas 45% reconhecem sua relação com o câncer2. Este contraste é ainda mais evidente quando comparado com o reconhecimento de outros fatores de risco:

  • Radiação (91%)
  • Tabaco (89%)
  • Amianto (81%)
  • Obesidade11 (53%)

Evidências de prevenção e mitigação

Pesquisas recentes mostram que a cessação ou redução do consumo de álcool pode diminuir significativamente o risco de certos tipos de câncer2, particularmente os de boca6 e esôfago4. Esta evidência reforça a importância das estratégias de prevenção.

Caminhos para mudança

O relatório propõe ações concretas e abrangentes:

  1. Atualização dos rótulos de advertência (inalterados desde 1988)
  2. Reavaliação das diretrizes de consumo
  3. Fortalecimento de campanhas educativas
  4. Implementação de estratégias de prevenção populacional
  5. Promoção de intervenções clínicas
  6. Investimento em pesquisas sobre padrões específicos de consumo

Implicações para a saúde1 pública

Um dado crucial é que 83% das mortes por câncer2 relacionado ao álcool ocorrem em níveis acima das diretrizes recomendadas, enquanto 17% ocorrem dentro dos limites considerados “seguros”. Isto sugere a necessidade de revisar as recomendações atuais de consumo.

Panorama internacional

Alguns países já estão tomando medidas mais assertivas. A Coreia do Sul implementou advertências específicas sobre câncer2 nos rótulos de bebidas alcoólicas, e a Irlanda aprovou uma lei que exigirá, a partir de 2026, rótulos informando que “existe uma ligação direta entre álcool e cânceres fatais”.

Perspectivas futuras

O relatório identifica áreas críticas para pesquisas futuras:

  • Impacto de padrões específicos de consumo
  • Efeitos do consumo em diferentes fases da vida
  • Possíveis conexões com outros tipos de câncer2
  • Efetividade de diferentes estratégias de prevenção
  • Influência de fatores genéticos e ambientais no risco

Esta análise abrangente revela não apenas a complexidade do problema, mas também a urgência14 de ações mais efetivas em saúde1 pública. O relatório serve como um importante alerta para a necessidade de reconsiderar nossa relação com o álcool e implementar medidas mais rigorosas de prevenção e controle.

Confira o documento completo:

Alcohol and Cancer2 Risk 2025 – The U.S. Surgeon General’s Advisory

 

NEWS.MED.BR, 2025. Álcool e risco de câncer: documento aponta aumento do risco com apenas 1 ou menos bebidas por dia e maior risco para mulheres. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/saude/1482110/alcool-e-risco-de-cancer-documento-aponta-aumento-do-risco-com-apenas-1-ou-menos-bebidas-por-dia-e-maior-risco-para-mulheres.htm>. Acesso em: 20 mar. 2025.

Complementos

1 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
2 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
3 Mama: Em humanos, uma das regiões pareadas na porção anterior do TÓRAX. As mamas consistem das GLÂNDULAS MAMÁRIAS, PELE, MÚSCULOS, TECIDO ADIPOSO e os TECIDOS CONJUNTIVOS.
4 Esôfago: Segmento muscular membranoso (entre a FARINGE e o ESTÔMAGO), no TRATO GASTRINTESTINAL SUPERIOR.
5 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
6 Boca: Cavidade oral ovalada (localizada no ápice do trato digestivo) composta de duas partes
7 Cavidade Oral: Cavidade oral ovalada (localizada no ápice do trato digestivo) composta de duas partes
8 Garganta: Tubo fibromuscular em forma de funil, que leva os alimentos ao ESÔFAGO e o ar à LARINGE e PULMÕES. Situa-se posteriormente à CAVIDADE NASAL, à CAVIDADE ORAL e à LARINGE, extendendo-se da BASE DO CRÂNIO à borda inferior da CARTILAGEM CRICÓIDE (anteriormente) e à borda inferior da vértebra C6 (posteriormente). É dividida em NASOFARINGE, OROFARINGE e HIPOFARINGE (laringofaringe).
9 Faringe: Canal músculo-membranoso comum aos sistemas digestivo e respiratório. Comunica-se com a boca e com as fossas nasais. É dividida em três partes: faringe superior (nasofaringe ou rinofaringe), faringe bucal (orofaringe) e faringe inferior (hipofaringe, laringofaringe ou faringe esofagiana), sendo um órgão indispensável para a circulação do ar e dos alimentos.
10 Laringe: É um órgão fibromuscular, situado entre a traqueia e a base da língua que permite a passagem de ar para a traquéia. Consiste em uma série de cartilagens, como a tiroide, a cricóide e a epiglote e três pares de cartilagens: aritnoide, corniculada e cuneiforme, todas elas revestidas de membrana mucosa que são movidas pelos músculos da laringe. As dobras da membrana mucosa dão origem às pregas vocais.
11 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
12 Toxina: Substância tóxica, especialmente uma proteína, produzida durante o metabolismo e o crescimento de certos microrganismos, animais e plantas, capaz de provocar a formação de anticorpos ou antitoxinas.
13 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
14 Urgência: 1. Necessidade que requer solução imediata; pressa. 2. Situação crítica ou muito grave que tem prioridade sobre outras; emergência.

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