Resultados do diabetes tipo 1 são particularmente ruins para as meninas
As meninas podem enfrentar uma taxa mais alta de complicações relacionadas ao diabetes tipo 11 e de resultados ruins em comparação aos meninos, de acordo com uma revisão sistemática.
Em 86 estudos observacionais focados nas diferenças entre os sexos em pacientes pediátricos com diabetes tipo 11, todos os estudos que compararam a HbA1c2 no momento do diagnóstico3 descobriram que pacientes do sexo feminino tinham níveis de HbA1c2 mais altos do que os do sexo masculino, relatou Silvia de Vries, MSc, candidata a MD/PhD no Centro Médico da Universidade de Amsterdã, na Holanda.
Essa diferença persistiu ao longo do tratamento, com 20 estudos descobrindo que as meninas continuaram a ter níveis de HbA1c2 mais altos do que os meninos, versus apenas um estudo que favoreceu as meninas, destacou de Vries durante uma apresentação na reunião da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes4 (EASD).
A metanálise mostrou que as meninas necessitaram de doses de insulina5 mais altas do que os meninos na população total, em faixas etárias selecionadas e mesmo observando apenas os primeiros dias após o diagnóstico3 inicial. Pacientes do sexo feminino necessitaram tanto de doses basais de insulina5 mais altas quanto de doses totais de insulina5, descobriram os pesquisadores.
Por outro lado, grande parte da literatura sugeriu que a terapia com bomba de insulina6 ou infusões subcutâneas contínuas de insulina5 eram muito mais usadas entre meninas com diabetes tipo 11 do que meninos.
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“Achamos que pode haver vários mecanismos em jogo”, disse de Vries durante uma entrevista coletiva. “Pode haver uma influência biológica, especialmente na puberdade – os hormônios podem influenciar a sensibilidade à insulina”. Ela acrescentou que tanto a composição corporal quanto a distribuição de gordura8 podem ser fatores biológicos adicionais que influenciam essas diferenças entre os sexos.
“Nós também achamos que as causas psicológicas são muito importantes”, continuou ela. “Meninos e meninas diferem em atitudes e comportamentos relacionados à doença. Já sabemos, por exemplo, que os escores de qualidade de vida também são menores em meninas sem diabetes4. Mas isso pode muito bem interferir no tratamento do diabetes4 tipo 1”.
Os meninos também podem ter níveis mais altos de atividade física e diferentes padrões alimentares, que podem influenciar essas diferenças, sugeriu de Vries.
Seu grupo descobriu que, quando se tratava de complicações do diabetes7, as pacientes do sexo feminino enfrentavam resultados piores na maioria das vezes: enquanto tendiam a ter menos hipoglicemia9, tinham taxas esmagadoramente mais altas de cetoacidose diabética10 (CAD), incluindo no diagnóstico3, CAD grave e CAD ao longo do tratamento.
As meninas não apenas viram mais internações hospitalares por CAD ao longo dos estudos incluídos, mas também observaram uma taxa mais alta de internações hospitalares em geral, juntamente com maior tempo de internação. Comparadas aos meninos, elas também enfrentaram mais complicações vasculares11, incluindo nefropatia12.
Quanto à qualidade de vida, todos os 15 estudos (nove somente em adolescentes) que avaliaram esse desfecho favoreceram pacientes do sexo masculino. Não só as pacientes do sexo feminino tiveram uma pior qualidade de vida geral, mas também viram mais angústia relacionada ao diabetes4 e maior medo de hipoglicemia9.
“Acreditamos firmemente que a identificação dessas diferenças é um primeiro passo muito importante”, disse de Vries.
No entanto, “não podemos excluir a influência da equipe de tratamento e da abordagem do cuidador”, ressaltou. “Sabemos que em mulheres adultas com diabetes tipo 11 ainda parece haver um viés de tratamento”.
No resumo do estudo, divulgado pela revista Diabetologia, os pesquisadores buscaram descobrir se existem diferenças entre os sexos no diabetes tipo 11 pediátrico.
Eles contextualizam que as diferenças entre os sexos estão presentes nos cuidados e desfechos cardiovasculares entre pacientes adultos com diabetes mellitus13 tipo 1 (DM1), que normalmente começa na infância. Idade mais jovem no diagnóstico3 e maior duração da doença aumentam os riscos de resultados adversos. Não se sabe se o sexo influencia os cuidados e os resultados na infância.
Esta revisão sistemática fornece uma visão14 geral das diferenças entre os sexos em crianças com DM1 com foco nas características do paciente e da doença, tratamento, comorbidades15 e complicações.
A literatura na base de dados MEDLINE até 15 de junho de 2021 foi pesquisada, usando os termos diabetes mellitus13, características sexuais, distribuição por sexo, crianças e/ou adolescentes. Artigos que relatavam diferenças entre os sexos foram identificados e avaliados em qualidade com ferramentas de avaliação crítica do Joanna Briggs Institute. Síntese narrativa e um Harvest plot adaptado foram usados para resumir as evidências por categoria.
Foram identificados 8.640 artigos, totalizando 86 estudos para revisão. Estudos selecionados mostraram maior HbA1c2 para meninas, no momento do diagnóstico3 e durante o tratamento, e aumento da HbA1c2 ao longo do tempo.
Estudos relataram maior prevalência16 de sobrepeso17 ou obesidade18, maior IMC19 e mais dislipidemia em meninas.
Hipoglicemia9 e remissão parcial ocorreram mais em meninos, mas cetoacidose e hospitalização ocorreram mais em meninas.
As meninas usavam a terapia com bomba de insulina6 com mais frequência e precisavam de doses mais altas de insulina5. A maioria das comorbidades15 foi mais comum em meninas.
Todos os estudos relataram menor qualidade de vida em meninas adolescentes.
O estudo mostrou que disparidades sexuais foram observadas em crianças com diabetes mellitus13 tipo 1. Vários resultados foram desvantajosos para as meninas, especialmente durante a adolescência.
A atenção para a causa e o tratamento dessas diferenças podem oferecer uma oportunidade para melhores resultados.
Veja também sobre "Cetoacidose diabética10", "Hipoglicemia9" e "Nefropatia12 diabética".
Fontes:
Diabetologia, publicação em 03 de agosto de 2022.
MedPage Today, notícia publicada em 23 de setembro de 2022.