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Uso de paracetamol durante a gravidez pode alterar o desenvolvimento fetal

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O paracetamol (N-acetil-p-aminofenol [APAP], também conhecido como acetaminofeno) é o ingrediente ativo em mais de 600 medicamentos usados ​​para aliviar a dor leve a moderada e reduzir a febre1.

O APAP é amplamente usado por grávidas, pois as agências governamentais, incluindo a FDA e a EMA, há muito consideram o APAP apropriado para uso durante a gravidez2, quando usado conforme as instruções.

No entanto, o aumento da pesquisa experimental e epidemiológica sugere que a exposição pré-natal ao APAP pode alterar o desenvolvimento fetal, o que pode aumentar os riscos de alguns distúrbios neurodesenvolvimentais, reprodutivos e urogenitais.

Leia sobre "Quais medicamentos podem ou não podem ser tomados durante a gravidez2" e "Os perigos da automedicação3".

Estudos observacionais em humanos sugerem que a exposição pré-natal ao APAP pode estar associada a anormalidades reprodutivas e neurocomportamentais em ambos os sexos.

A exposição ao APAP durante a gravidez2 pode aumentar o risco de anomalias do trato urogenital4 e reprodutivo masculino, pois estudos encontraram um risco elevado de testículos5 não descidos (criptorquidia6) e distância reduzida entre o ânus7 e a base do pênis8, uma medida conhecida como distância anogenital (DAG). Tanto a redução de DAG quanto a criptorquidia6 são indicadores de masculinização perturbada e fatores de risco para distúrbios reprodutivos na vida adulta.

A exposição pré-natal ao APAP também foi associada ao desenvolvimento puberal feminino precoce.

Além disso, estudos epidemiológicos sugerem consistentemente que a exposição pré-natal ao APAP pode aumentar o risco de desfechos neurodesenvolvimentais e comportamentais adversos, como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro autista (TEA), atraso de linguagem (em meninas) e diminuição do quociente de inteligência9.

Coletivamente, os estudos sugerem que o momento e a duração do uso de APAP pela mãe são fatores críticos.

Nesse contexto, em um consenso publicado na revista Nature Reviews Endocrinology, pesquisadores resumiram essas evidências e pediram ações de precaução por meio de um esforço de pesquisa direcionado e do aumento da conscientização entre profissionais de saúde10 e gestantes.

O APAP é um medicamento importante e as alternativas para o tratamento da febre1 alta e da dor intensa são limitadas. Recomenda-se que grávidas sejam alertadas no início da gravidez2 para:

  • abster-se de usar APAP, a menos que seu uso seja clinicamente indicado;
  • consultar um médico ou farmacêutico se não tiver certeza se o uso é indicado e antes de usar a longo prazo;
  • e minimizar a exposição usando a menor dose eficaz pelo menor tempo possível.

O APAP é uma exposição modificável. Os autores do consenso indicam reconhecer que existem alternativas médicas limitadas para tratar a dor e a febre1; entretanto, acreditam que o peso combinado das evidências científicas humanas e animais é forte o suficiente para que grávidas sejam advertidas por profissionais de saúde10 contra seu uso indiscriminado, tanto como um único ingrediente quanto em combinação com outros medicamentos.

Recomenda-se, assim, que o APAP seja usado por grávidas com cautela na menor dose eficaz pelo menor tempo possível. O uso a longo prazo ou em altas doses deve ser limitado às indicações de um profissional de saúde10. A embalagem deve incluir rótulos de advertência incluindo essas recomendações.

Dada a alta prevalência11 do uso de APAP por grávidas, as implicações para a saúde10 pública da redução do uso podem ser substanciais.

Os pesquisadores sugerem ações específicas para implementar essas recomendações. Esta Declaração de Consenso reflete as preocupações dos autores e atualmente é apoiada por 91 cientistas, médicos e profissionais de saúde10 pública de todo o mundo.

Veja também sobre "Agentes teratogênicos12 e Teratologia", "Malformações13 fetais" e "Gestação semana a semana".

 

Fonte: Nature Reviews Endocrinology, publicação em 23 de setembro de 2021.

 

NEWS.MED.BR, 2021. Uso de paracetamol durante a gravidez pode alterar o desenvolvimento fetal. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/saude/1402580/uso-de-paracetamol-durante-a-gravidez-pode-alterar-o-desenvolvimento-fetal.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.

Complementos

1 Febre: É a elevação da temperatura do corpo acima dos valores normais para o indivíduo. São aceitos como valores de referência indicativos de febre: temperatura axilar ou oral acima de 37,5°C e temperatura retal acima de 38°C. A febre é uma reação do corpo contra patógenos.
2 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
3 Automedicação: Automedicação é a prática de tomar remédios sem a prescrição, orientação e supervisão médicas.
4 Urogenital: Na anatomia geral, é a região relativa aos órgãos genitais e urinários; geniturinário.
5 Testículos: Os testículos são as gônadas sexuais masculinas que produzem as células de fecundação ou espermatozóides. Nos mamíferos ocorrem aos pares e são protegidos fora do corpo por uma bolsa chamada escroto. Têm função de glândula produzindo hormônios masculinos.
6 Criptorquidia: 1. Falha na descida de testículo para o escroto, também conhecida como criptorquia.
7 Ânus: Segmento terminal do INTESTINO GROSSO, começando na ampola do RETO e terminando no ânus.
8 Pênis: Órgão reprodutor externo masculino. É composto por uma massa de tecido erétil encerrada em três compartimentos cilíndricos fibrosos. Dois destes compartimentos, os corpos cavernosos, ficam lado a lado ao longo da parte superior do órgão. O terceiro compartimento (na parte inferior), o corpo esponjoso, abriga a uretra.
9 Quociente de inteligência: O QI é utilizado para dimensionar a inteligência humana em relação à faixa etária a que um sujeito pertence. Em 1905, os franceses Alfred Binet e Theodore Simon desenvolveram uma ferramenta para avaliar os potenciais cognitivos dos estudantes, tentando detectar entre eles aqueles que precisavam de um auxílio maior de seus mestres, criando a Escala de Binet-Simon. Outros estudiosos aperfeiçoaram esta metodologia. William Stern foi quem, em 1912, propôs o termo QI. O Quociente de Inteligência é a razão entre a Idade Mental e a Cronológica, multiplicada por 100 para se evitar a utilização dos decimais. Seguindo-se este indicador, é possível avaliar se um infante é precoce ou se apresenta algum retardamento no aprendizado. Os que apresentam o quociente em torno de 100 são considerados normais, os acima deste resultado revelam-se precoces e os que alcançam um valor mais inferior (cerca de 70) são classificados como retardados. Uma alta taxa de QI não indica que o indivíduo seja mentalmente são, ou mesmo feliz, e também não avalia outros potenciais e capacidades, tais como as artísticas e as de natureza espiritual. O QI mede bem os talentos linguísticos, os pensamentos lógicos, matemáticos e analíticos, a facilidade de abstração em construções teóricas, o desenvolvimento escolar, o saber acadêmico acumulado ao longo do tempo. Os grandes gênios do passado, avaliados dessa forma, apresentavam uma taxa de aproximadamente 180, o que caracteriza um superdotado.
10 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
11 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
12 Teratogênicos: Agente teratogênico ou teratógeno é tudo aquilo capaz de produzir dano ao embrião ou feto durante a gravidez. Estes danos podem se refletir como perda da gestação, malformações ou alterações funcionais ou ainda distúrbios neurocomportamentais, como retardo mental.
13 Malformações: 1. Defeito na forma ou na formação; anomalia, aberração, deformação. 2. Em patologia, é vício de conformação de uma parte do corpo, de origem congênita ou hereditária, geralmente curável por cirurgia. Ela é diferente da deformação (que é adquirida) e da monstruosidade (que é incurável).
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