Estudo estima que o gerenciamento ideal após um ataque cardíaco pode prolongar os anos saudáveis de vida de um paciente em mais de 7 anos
Dados de um estudo de coorte1 agrupado realizado por pesquisadores do Centro Médico da Universidade de Amsterdã, e apresentado no Congresso de 2021 da European Society of Cardiology (ESC), sugere que a adesão a conselhos sólidos de estilo de vida e aos medicamentos pode prolongar os anos saudáveis de vida de um paciente em mais de 7 anos após um ataque cardíaco.
Usando dados de 6 estudos prospectivos com mais de 3.200 pacientes, os investigadores determinaram que o risco residual ao longo da vida de eventos cardiovasculares adversos importantes poderia diminuir de 54% para 21%, se o tratamento for feito de forma ideal, o que se traduziu em um aumento médio de 7,5 anos de vida sem eventos em um modelo de simulação.
“As descobertas mostram que, apesar dos esforços atuais para reduzir a probabilidade de novos eventos após um ataque cardíaco, há um espaço considerável para melhorias”, disse a autora do estudo, Tinka van Trier, médica, do Centro Médico da Universidade de Amsterdã, na Holanda, em um comunicado. “Nossa análise sugere que o risco de outro evento cardiovascular poderia, em média, ser reduzido pela metade se as terapias fossem aplicadas ou intensificadas. Para pacientes2 individuais, isso se traduziria em um ganho médio de 7,5 anos sem eventos”.
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O estudo INTERHEART demonstrou anteriormente que 80-90% do risco de um ataque cardíaco pode ser modificado controlando fatores como tabagismo, dieta pouco saudável, obesidade6 abdominal, atividade física inadequada, hipertensão7, diabetes8 e níveis elevados de lipídios no sangue9. Tal gerenciamento consiste de duas estratégias principais: mudança de estilo de vida e medicação.
No entanto, os estudos RESPONSE mostraram que níveis adequados desses fatores de risco raramente são alcançados após um ataque cardíaco, mesmo em programas que visam ajudar os pacientes a melhorar seu estilo de vida e otimizar sua medicação. Portanto, o “risco residual”, ou seja, o risco de outro ataque cardíaco que permanece após o tratamento convencional, é alto a muito alto em um grande número de pacientes.
Nesse contexto, o estudo foi realizado por van Trier e colegas de várias instituições da Holanda com o objetivo de quantificar o impacto da abordagem dos fatores de risco modificáveis e da adesão ideal à medicação sobre o risco residual em uma coorte10 secundária de prevenção. Para fazer isso, os pesquisadores modelaram seu estudo como uma análise de coorte10 agrupada de pacientes dos estudos RESPONSE 1 e 2, Opticare, EuroAspire IV e V, e HELIUS, que resultou na identificação de uma coorte10 de 3.230 pacientes.
A coorte10 do estudo reuniu dados desses 3.230 pacientes que tiveram um ataque cardíaco ou receberam um stent ou cirurgia de ponte de safena. A idade média era de 61 anos e 24% eram mulheres. Os desfechos de interesse para a análise foram a redução percentual no risco individual ao longo da vida de infarto do miocárdio4, acidente vascular cerebral11 ou morte cardiovascular usando o modelo SMART-REACH e anos livres de eventos ganhos pela mudança do tratamento atual para uma situação ideal simulada direcionada por diretrizes.
Dos 3.230 pacientes incluídos no estudo, apenas 7% cumpriram todas as metas de risco relacionadas ao estilo de vida no acompanhamento. Em contraste, 10% dos pacientes não atingiram nenhuma das metas de risco relacionadas ao estilo de vida no acompanhamento.
Os investigadores apontaram que 30% da coorte10 continuaram fumando, 79% tinham um IMC12 de 25 kg/m² ou mais e 45% relataram atividade física insuficiente. Além disso, apenas 2% atingiram as metas de tratamento para pressão arterial13, colesterol14 LDL15 (“ruim”) e níveis de glicose16 – com 40% tendo pressão arterial sistólica17 de 140 mmHg ou mais e 65% com colesterol14 LDL15 acima da meta. Também 40% dos considerados com sobrepeso18 preenchiam os critérios para obesidade6.
Porém, os investigadores observaram que o uso de medicamentos preventivos era comum. Especificamente, 87% usavam agentes antitrombóticos, 85% usavam medicamentos hipolipemiantes e 86% relataram uso de medicamentos redutores da pressão arterial13.
Após a análise, os investigadores determinaram que o risco residual ao longo da vida para eventos cardiovasculares e morte cardiovascular diminuiria de uma média de 54 ± 11% para 21 ± 0% se os pacientes aderissem ao tratamento direcionado pelas diretrizes ideais. Além disso, os resultados indicaram que a mediana de anos de vida sem eventos ganhos seria de 7,4 (IQR, 5,2-10,6) anos.
Assim, o risco residual médio ao longo da vida estimado foi de 54% – o que significa que metade teria um ataque cardíaco, derrame19 ou morreria de doença cardiovascular em algum momento da vida. Se o tratamento dos pacientes no estudo fosse otimizado para atender a todas as metas do modelo, o risco médio cairia para 21% (um em cinco pacientes).
“A maioria dos pacientes com ataque cardíaco permanece em alto risco de um segundo ataque um ano depois”, acrescentou van Trier. “Nosso estudo sugere que melhorar o estilo de vida e o uso de medicamentos pode diminuir esse risco, com um ganho em muitos anos de vida sem um evento cardiovascular.”
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Fontes:
European Society of Cardiology, publicação em 26 de agosto de 2021.
Practical Cardiology, notícia publicada em 27 de agosto de 2021.