O SARS-CoV-2 infecta astrócitos cerebrais de pacientes com COVID-19 e prejudica a viabilidade neuronal
Os pacientes com COVID-19 podem apresentar sintomas1 neuropsiquiátricos e/ou neurológicos. Pesquisadores da Unicamp e da USP, com colaboração de pesquisadores do LNBio, do IDOR e da UFRJ descobriram que ansiedade e prejuízo cognitivo2 são manifestados por 28-56% dos indivíduos infectados com SARS-CoV-2 com sintomas1 respiratórios leves ou sem sintomas1 respiratórios, e estão associados com espessura cortical cerebral alterada.
O estudo foi publicado na plataforma medRxiv, e comprovou que o novo coronavírus afeta o cérebro3, detalhando então seus efeitos nas células nervosas4. Usando uma coorte5 independente, eles encontraram sinais6 histopatológicos de dano cerebral em 19% dos indivíduos que morreram de COVID-19.
Todos os tecidos cerebrais afetados exibiram focos de infecção7 por SARS-CoV-2, particularmente em astrócitos8. A infecção7 de astrócitos8 derivados de células-tronco9 neurais alterou o metabolismo10 energético, alterou proteínas11-chave e metabólitos12 usados para alimentar neurônios13 e para biogênese de neurotransmissores, além de desencadear um fenótipo14 secretor que reduz a viabilidade neuronal.
Os pesquisadores adotaram uma técnica conhecida como imuno-histoquímica, que consiste em usar anticorpos15 para marcar antígenos16 virais ou componentes do tecido17 analisado, como explica Daniel Martins-de-Souza, professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, pesquisador do IDOR e um dos coordenadores da investigação. “Por exemplo, podemos colocar na amostra um anticorpo18 que ao se ligar no astrócito faz a célula19 adquirir a coloração vermelha; outro que ao se ligar na proteína de espícula do SARS-CoV-2 marca a molécula de verde; e, por último, um anticorpo18 para marcar de roxo o RNA viral de fita dupla, que só aparece durante o processo de replicação do microrganismo. Quando todas as imagens feitas durante o experimento foram colocadas em sobreposição, notamos que as três cores apareceram simultaneamente apenas dentro dos astrócitos8.”
Os dados suportam o modelo em que o SARS-CoV-2 atinge o cérebro3, infecta astrócitos8 e desencadeia mudanças neuropatológicas que contribuem para as alterações estruturais e funcionais no cérebro3 de alguns pacientes com COVID-19.
Leia sobre "Manifestações neurológicas da COVID-19" e "O que os psiquiatras podem aprender com os surtos de SARS e MERS".
Fontes:
medRxiv, publicação em 13 de outubro de 2020.
Agência FAPESP, notícia publicada em 15 de outubro de 2020.