The Lancet: efeito da gravidade sobre o volume de transfusão placentária durante clampeamento do cordão umbilical
O clampeamento tardio do cordão umbilical1 permite a passagem do sangue2 da placenta para o bebê e reduz o risco de deficiência de ferro na infância. Segurar um recém-nascido que acabou de nascer, durante mais de um minuto, no mesmo nível da vagina3 da mãe (como é atualmente recomendado), pressupondo que a gravidade afeta o volume de transfusão4 placentária é complicado, podendo resultar em fraca adesão a esta prática e interferência no contato imediato do bebê com a mãe.
Com o objetivo de avaliar se a gravidade afeta o volume de transfusão4 placentária da mãe para o bebê foi realizado um estudo multicêntrico, randomizado5, que teve sua publicação online no The Lancet. A pesquisa foi realizada em três hospitais universitários da Argentina, sendo financiada pela Fundação para a Saúde6 Materna e Infantil (Foundation for Maternal and Child Health ou FUNDASAMIN). Obteve-se o consentimento informado de mães saudáveis, com gestações a termo, admitidas no início do trabalho de parto. Bebês7 nascidos de parto normal vigoroso foram distribuídos aleatoriamente em uma proporção de 1:1 por grupos gerados por computador e numerados sequencialmente em envelopes opacos selados, a serem segurados por dois minutos antes do clampeamento do cordão umbilical1, ao nível da vagina3 (grupo introito) ou ao nível do abdome8 ou tórax9 da mãe (grupo abdome8). Os recém-nascidos foram pesados imediatamente após o parto e após o clampeamento do cordão.
Entre 1º de agosto de 2011 e 31 de agosto de 2012, foram destinados 274 recém-nascidos para o grupo introito e 272 para o grupo abdome8. 77 recém-nascidos no grupo de introito e 78 no grupo abdome8 eram inelegíveis após a randomização (por exemplo, cesariana, parto com fórceps, cordão umbilical1 curto ou cordão nucal). A variação média de peso foi de 56 gramas (IC 95% 50-63) para 197 bebês7 no grupo introito em comparação com 53 gramas (IC 95% 46-59) para 194 bebês7 no grupo abdome8, apoiando a não inferioridade das duas abordagens (diferença de três gramas, IC 95% 5,8-12,8; p=0,45). Não foram observados quaisquer eventos adversos graves durante o estudo.
Os resultados mostraram que a posição do recém-nascido antes do clampeamento do cordão umbilical1 não parece afetar o volume de transfusão4 placentária. As mães podem seguramente ser autorizadas a manter seu bebê próximo ao abdome8 ou ao tórax9. Esta mudança na prática médica pode aumentar a adesão ao procedimento obstétrico, aumentar a ligação materno-infantil e diminuir a carência de ferro na infância.