Crianças e adolescentes que sobrevivem ao câncer apresentam risco aumentado para doenças cardiovasculares, segundo artigo do BMJ
O estudo Childhood Cancer1 Survivor Study, publicado em dezembro de 2009 no BMJ, mostra que adultos jovens sobreviventes de câncer1 na infância ou na adolescência possuem maior risco de sofrer uma variedade de eventos cardiovasculares tais quais insuficiência cardíaca congestiva2, infarto do miocárdio3, doenças do pericárdio4 e alterações em válvulas cardíacas, mesmo após 30 anos da terapia contra o câncer1. O risco aparentemente ocorre com exposição a doses mais baixas de antraciclinas e de radioterapia5 do que o reconhecido previamente por outras pesquisas.
Principais achados do estudo:
- Doenças cardiovasculares6 contribuem para morbimortalidade precoce em crianças e adolescentes sobreviventes do câncer1. Há aumento do risco para insuficiência cardíaca congestiva2, infarto do miocárdio3, doenças do pericárdio4 e alterações em válvulas cardíacas. Estudos prévios já tinham demonstrado o maior risco de mortalidade7 por doenças cardiovasculares6. O presente estudo mostra o aumento da morbidade8 por estas doenças.
- Eventos cardíacos, geralmente raros em adultos jovens, são significativamente mais frequentes nestes jovens sobreviventes do câncer1 do que no grupo controle. A incidência9 aumenta com o tempo do diagnóstico10. Notavelmente com a exposição a antraciclinas ou à radioterapia5 cardíaca com uma dose de 1500 cGy ou maior.
- A maioria dos estudos nesta área se limitaram aos sobreviventes de leucemia11, linfoma12 Hodgkin's, tumor13 de Wilms e tumores ósseos, e a uma dose particular de radiação. O presente estudo amplia a gama de diagnósticos envolvidos neste tipo de pesquisa.
- A antraciclina induz cardiomiopatia, como observado em estudos prévios. Também foi observada uma associação entre insuficiência cardíaca congestiva2 e exposição à cisplatina. A cardiomiopatia pode ser assintomática em 50% dos pacientes, mas pode ser detectada com exames complementares não invasivos. O desenvolvimento de agentes cardioprotetores e medidas preventivas pode ajudar a atenuar estes riscos no futuro.
- Quanto ao infarto do miocárdio3, o risco foi maior para os sobreviventes de linfoma12 Hodgking's e neuroblastoma, mas em uma dose de radiação mais baixa do que a observada anteriormente.
- Para as doenças do pericárdio4, observou-se um risco 3 a 10 vezes maior em sobreviventes do câncer1 comparados ao grupo controle em relação a todos os tumores examinados, exceto em sobreviventes de câncer1 renal14.
- O risco de alterações valvulares é cerca de cinco vezes maior para sobreviventes de vários tipos de tumores malignos e observou-se associação entre doença valvular e altas doses de antraciclina.
Os resultados mostram que esses pacientes precisam de monitoramento clínico, particularmente quando chegam na idade em que as doenças cardiovasculares6 tornam-se mais prevalentes. Outras pesquisas são necessárias para determinar a estratificação de risco para esses pacientes e para avaliar os benefícios e os custos para um rastreamento precoce de doenças cardiovasculares6 nesta população.
Fonte consultada: British Medical Journal - BMJ