Gostou do artigo? Compartilhe!

Risco de câncer de mama associado a contraceptivos hormonais varia de acordo com o conteúdo de progestina

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie esta notícia

O uso de contraceptivos hormonais foi associado a um risco aumentado de câncer1 de mama2, mas o risco variou de acordo com o conteúdo de progestina, segundo um amplo estudo de coorte3 sueco, publicado no JAMA Oncology.

Entre mais de 2 milhões de adolescentes e mulheres, o uso de qualquer contraceptivo hormonal, mesmo que prévio, foi associado a um risco aumentado de câncer1 de mama2, correspondendo a um caso adicional a cada 7.752 usuárias. Associações foram observadas tanto para formulações combinadas quanto para formulações contendo apenas progestina, relataram Åsa Johansson, PhD, da Universidade de Uppsala, na Suécia, e seus colegas.

Vale ressaltar que as formulações orais contendo apenas desogestrel, as formulações orais combinadas com desogestrel e os implantes contendo o metabólito4 ativo do desogestrel, o etonogestrel, foram associados a um risco maior em comparação com as pílulas combinadas contendo levonorgestrel e o sistema intrauterino de levonorgestrel 52 mg. O linestrenol, uma progestina isolada, também foi associado a um risco aumentado de câncer1 de mama2.

“Os resultados deste estudo de coorte3 destacam que o risco de câncer1 de mama2 varia substancialmente de acordo com o conteúdo de progestina nos contraceptivos hormonais, fornecendo informações valiosas para embasar uma prescrição contraceptiva mais informada”, escreveram Johansson e seus colegas. “Esses achados sugerem que indivíduos com risco de câncer1 de mama2 podem se beneficiar ao evitar contraceptivos hormonais contendo desogestrel, particularmente em formulações apenas com progestina.”

Saiba mais sobre "Anticoncepção - métodos reversíveis e métodos irreversíveis" e "Pílulas anticoncepcionais - como agem".

O fato de o desogestrel poder aumentar o risco de câncer1 de mama2 mais do que outras progestinas é uma “descoberta inédita” que não havia sido relatada anteriormente, observaram os autores, acrescentando que ela é sustentada por mecanismos biológicos subjacentes.

“Embora os riscos relativos sejam estatisticamente significativos, o aumento do risco absoluto permanece pequeno e deve ser considerado no contexto mais amplo dos benefícios bem estabelecidos dos contraceptivos hormonais”, apontaram os autores, incluindo a prevenção de gravidezes indesejadas (associadas ao aumento da morbidade5 e mortalidade6 materna), o alívio da dor menstrual e do sangramento intenso e a redução dos riscos de câncer1 de ovário7 e endométrio8.

“Em conjunto, essas considerações destacam a importância do aconselhamento contraceptivo personalizado que leve em conta os perfis de risco e as preferências individuais”, concluíram.

Johansson e sua equipe também descobriram que o uso prolongado de contraceptivos hormonais resultou em um aumento do risco de câncer1 de mama2. O uso de formulações contendo desogestrel por 5 a 10 anos foi associado a um aumento de quase 50% no risco de câncer1 de mama2, enquanto o uso correspondente de produtos com levonorgestrel foi associado a um aumento de menos de 20% no risco.

Os autores afirmaram que decidiram categorizar suas descobertas com base no uso de diferentes formulações hormonais porque a maioria dos estudos existentes se concentrava em contraceptivos orais combinados, “fornecendo evidências limitadas e frequentemente inconsistentes em relação a progestinas individuais.”

No artigo publicado, os pesquisadores avaliaram formulações de contraceptivos hormonais e risco de câncer1 de mama2 em adolescentes e mulheres na pré-menopausa9. Eles relatam que os contraceptivos hormonais são amplamente utilizados, mas a forma como o risco de câncer1 de mama2 difere de acordo com o conteúdo hormonal ainda não está clara.

O objetivo do estudo, portanto, foi estimar a diferença no risco de câncer1 de mama2 associado a diferentes formulações de contraceptivos hormonais.

Este estudo de coorte3 nacional sueco, baseado na população, foi conduzido utilizando registros nacionais interligados. Todas as adolescentes e mulheres de 13 a 49 anos residentes na Suécia em 1º de janeiro de 2006, sem histórico de câncer1 de mama2, câncer1 de ovário7, câncer1 de colo do útero10, câncer1 de útero11, ooforectomia12 bilateral ou tratamento de infertilidade13, foram incluídas e acompanhadas de 2006 a 2019. As participantes foram excluídas ao atenderem a um critério de exclusão, ao atingirem 50 anos de idade ou ao término do estudo, o que ocorresse primeiro. Os dados foram analisados de novembro de 2023 a agosto de 2025.

A exposição do estudo foi o uso prévio e duração do uso de contraceptivos hormonais, categorizados por formulações hormonais e via de administração. A regressão de Cox dependente do tempo foi usada para estimar as razões de risco (HRs) com ICs de 95% para casos incidentes14 de câncer1 de mama2 in situ15 e invasivo.

Entre 2.095.130 adolescentes e mulheres (idade mediana [intervalo interquartil] no diagnóstico16, 45 [41-48] anos) que foram acompanhadas por 21.020.846 pessoas-ano, ocorreram 16.385 casos de câncer1 de mama2.

O uso de qualquer contraceptivo hormonal foi associado a um risco aumentado de câncer1 de mama2 (HR, 1,24; IC 95%, 1,20-1,28), correspondendo a 1 caso adicional por 7.752 (IC 95%, 5.350-14.070) usuárias, com associação tanto para formulações combinadas (HR, 1,12; IC 95%, 1,07-1,17) quanto para formulações apenas com progestina (HR, 1,21; IC 95%, 1,17-1,25).

Um risco maior foi associado a formulações orais contendo apenas desogestrel (HR, 1,18; IC 95%, 1,13-1,23) e a formulações orais combinadas com desogestrel (HR, 1,19; IC 95%, 1,08-1,31), bem como a implantes contendo etonogestrel, o metabólito4 ativo do desogestrel (HR, 1,22; IC 95%, 1,11-1,35), em comparação com pílulas combinadas contendo levonorgestrel (HR, 1,09; IC 95%, 1,03-1,15) e sistema intrauterino de levonorgestrel 52 mg (HR, 1,13; IC 95%, 1,09-1,18).

Não foi observado aumento estatisticamente significativo do risco com a injeção17 de acetato de medroxiprogesterona, o anel vaginal de etonogestrel ou a drospirenona oral combinada, apesar do grande número de usuárias.

Os resultados deste estudo de coorte3 destacam que o risco de câncer1 de mama2 varia substancialmente de acordo com o conteúdo de progestina nos contraceptivos hormonais, fornecendo informações valiosas para apoiar uma prescrição contraceptiva mais informada.

Leia sobre "Dispositivo intrauterino (DIU)", "Pílula do dia seguinte" e "Câncer1 de mama2 - como se preparar para uma consulta médica".

 

Fontes:
JAMA Oncology, publicação em 30 de outubro de 2025.
MedPage Today, notícia publicada em 30 de outubro de 2025.

 

NEWS.MED.BR, 2025. Risco de câncer de mama associado a contraceptivos hormonais varia de acordo com o conteúdo de progestina. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1497545/risco-de-cancer-de-mama-associado-a-contraceptivos-hormonais-varia-de-acordo-com-o-conteudo-de-progestina.htm>. Acesso em: 27 nov. 2025.

Complementos

1 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
2 Mama: Em humanos, uma das regiões pareadas na porção anterior do TÓRAX. As mamas consistem das GLÂNDULAS MAMÁRIAS, PELE, MÚSCULOS, TECIDO ADIPOSO e os TECIDOS CONJUNTIVOS.
3 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
4 Metabólito: Qualquer composto intermediário das reações enzimáticas do metabolismo.
5 Morbidade: Morbidade ou morbilidade é a taxa de portadores de determinada doença em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento.
6 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
7 Ovário: Órgão reprodutor (GÔNADAS) feminino. Nos vertebrados, o ovário contém duas partes funcionais Sinônimos: Ovários
8 Endométrio: Membrana mucosa que reveste a cavidade uterina (responsável hormonalmente) durante o CICLO MENSTRUAL e GRAVIDEZ. O endométrio sofre transformações cíclicas que caracterizam a MENSTRUAÇÃO. Após FERTILIZAÇÃO bem sucedida, serve para sustentar o desenvolvimento do embrião.
9 Menopausa: Estado fisiológico caracterizado pela interrupção dos ciclos menstruais normais, acompanhada de alterações hormonais em mulheres após os 45 anos.
10 Colo do útero: Porção compreendendo o pescoço do ÚTERO (entre o ístmo inferior e a VAGINA), que forma o canal cervical.
11 Útero: Orgão muscular oco (de paredes espessas), na pelve feminina. Constituído pelo fundo (corpo), local de IMPLANTAÇÃO DO EMBRIÃO e DESENVOLVIMENTO FETAL. Além do istmo (na extremidade perineal do fundo), encontra-se o COLO DO ÚTERO (pescoço), que se abre para a VAGINA. Além dos istmos (na extremidade abdominal superior do fundo), encontram-se as TUBAS UTERINAS.
12 Ooforectomia: Ablação ou retirada de um ou dos dois ovários.
13 Infertilidade: Capacidade diminuída ou ausente de gerar uma prole. O termo não implica a completa inabilidade para ter filhos e não deve ser confundido com esterilidade. Os clínicos introduziram elementos físicos e temporais na definição. Infertilidade é, portanto, freqüentemente diagnosticada quando, após um ano de relações sexuais não protegidas, não ocorre a concepção.
14 Incidentes: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
15 In situ: Mesmo que in loco , ou seja, que está em seu lugar natural ou normal (diz-se de estrutura ou órgão). Em oncologia, é o que permanece confinado ao local de origem, sem invadir os tecidos vizinhos (diz-se de tumor).
16 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
17 Injeção: Infiltração de medicação ou nutrientes líquidos no corpo através de uma agulha e seringa.
Gostou do artigo? Compartilhe!