Conectados para o crescimento: a sinalização neurônio-tumor no pulmão e no cérebro aumenta o crescimento de um câncer de difícil tratamento
Alguns cânceres se beneficiam da interação com o sistema nervoso1, seja formando diretamente conexões funcionais, chamadas sinapses, com células2 neuronais, seja recebendo indiretamente sinais3 liberados por neurônios4.
Esse fenômeno é mais comumente estudado em cânceres cerebrais, como os gliomas, mas tumores localizados em outros locais do organismo também podem se beneficiar de interações com neurônios4.
Em 2 artigos publicados na revista Nature, pesquisadores revelam que as interações entre neurônios4 e células2 cancerosas promovem o crescimento do câncer5 de pulmão6 de pequenas células2 (CPPC), um tipo de tumor7 pulmonar altamente agressivo, que frequentemente se dissemina para o cérebro8 e conta com opções de tratamento bastante limitadas. Essas interações podem constituir um alvo terapêutico.
Saiba mais sobre "Câncer5 de pulmão6 - como é" e "Como as funções do corpo se comunicam - o papel dos neurotransmissores".
Confira a seguir os resumos dos artigos publicados.
Mecanismos dependentes da atividade neuronal na patogênese9 do câncer5 de pulmão6 de pequenas células2
A atividade neuronal é cada vez mais reconhecida como um regulador crucial do crescimento do câncer5. No cérebro8, a atividade neuronal influencia de forma robusta o crescimento de gliomas por meio de mecanismos parácrinos e pela integração eletroquímica de células2 malignas aos circuitos neurais através de sinapses neurônio-glioma.
Fora do sistema nervoso central10, a inervação de tumores como os de próstata11, cabeça12 e pescoço13, mama14, pâncreas15 e gastrointestinais por nervos periféricos regula de forma semelhante a progressão do câncer5. No entanto, a extensão em que o sistema nervoso1 regula a progressão do câncer5 de pulmão6 de pequenas células2 (CPPC), seja no pulmão6 ou quando em crescimento no cérebro8, é menos compreendida. O CPPC é um tumor7 neuroendócrino letal de alto grau que apresenta uma forte propensão a metastatizar para o cérebro8.
Neste estudo, demonstrou-se que, no pulmão6, a transecção do nervo vago inibe acentuadamente o desenvolvimento e a progressão do tumor7 pulmonar primário, destacando um papel crítico da inervação no crescimento do CPPC.
No cérebro8, as células2 do CPPC cooptam mecanismos regulados pela atividade neuronal para estimular o crescimento e a progressão tumoral. A atividade neuronal cortical glutamatérgica e GABAérgica (produtora de ácido γ-aminobutírico) impulsiona a proliferação do CPPC no cérebro8 por meio de interações parácrinas e sinápticas entre neurônios4 e células2 cancerígenas.
As células2 do CPPC formam sinapses neurônio-CPPC genuínas e exibem correntes despolarizantes com consequentes transientes de cálcio em resposta à atividade neuronal; essa despolarização da membrana celular16 do CPPC é suficiente para promover o crescimento de tumores intracranianos.
Em conjunto, esses achados ilustram que a atividade neuronal desempenha um papel crucial na patogênese9 do CPPC.
Sinapses funcionais entre neurônios4 e câncer5 de pulmão6 de pequenas células2
O câncer5 de pulmão6 de pequenas células2 (CPPC) é um tipo altamente agressivo de câncer5 de pulmão6, caracterizado por rápida proliferação, disseminação metastática precoce, recidivas17 precoces frequentes e alta taxa de mortalidade18.
Evidências recentes sugerem que a inervação desempenha um papel importante no desenvolvimento e progressão de diversos tipos de câncer5. Sinapses entre células2 cancerígenas e neurônios4 foram relatadas em gliomas, mas ainda não se sabe se tumores periféricos podem formar tais estruturas.
Neste estudo, demonstrou-se que células2 de CPPC podem formar sinapses funcionais e receber transmissão sináptica. Utilizando triagem por mutagênese insercional in vivo, em conjunto com validação genômica e transcriptômica entre espécies, identificou-se conjuntos de genes relacionados à sinalização neuronal, sináptica e glutamatérgica em CPPC em camundongos e humanos.
Experimentos adicionais revelaram a capacidade das células2 de CPPC de formar estruturas sinápticas com neurônios4 in vitro e in vivo. Experimentos de eletrofisiologia e optogenética confirmaram que as células2 cancerígenas podem receber entradas sinápticas mediadas por receptores NMDA e GABA19A.
Em consonância com o potencial papel oncogênico das interações neurônio-CPPC, demonstrou-se que essas células2 obtêm vantagem proliferativa quando cultivadas em conjunto com neurônios4 sensoriais vagais ou corticais. Além disso, a inibição da sinalização do glutamato apresentou eficácia terapêutica20 em um modelo murino autóctone21 de CPPC.
Portanto, após a transformação maligna, as células2 de CPPC parecem sequestrar a sinalização sináptica para promover o crescimento tumoral, revelando assim uma nova via para intervenção terapêutica20.
Leia sobre "Como se dá o processo de formação do câncer5", "O que são metástases22" e "O glioma e as suas características".
Fontes:
Estudo 1 – Nature, publicação em 10 de setembro de 2025.
Estudo 2 – Nature, publicação em 10 de setembro de 2025.















