Transplante cardíaco parcial mostra-se promissor em doenças cardíacas congênitas
Transplantes cardíacos parciais utilizando válvulas semilunares de doadores em pacientes com cardiopatia congênita1 pareceram ser um procedimento seguro e viável, resultando em crescimento tecidual adequado, de acordo com uma série de casos publicada no JAMA.
Entre 19 pacientes submetidos a transplante, nove na coorte2 inicial apresentavam válvulas funcionais em um acompanhamento mediano de 26 semanas, com o diâmetro anular das válvulas aórticas crescendo de uma mediana de 7 mm para 14 mm e o das válvulas pulmonares crescendo de uma mediana de 9 mm para 17 mm, de acordo com Joseph W. Turek, MD, PhD, da Duke University em Durham, Carolina do Norte, EUA, e colaboradores.
Para garantir que o crescimento do diâmetro anular não fosse simplesmente dilatação, avaliou-se o comprimento das cúspides3. As cúspides3 da válvula aórtica cresceram de uma mediana de 0,5 mm para 1 mm e as da válvula pulmonar cresceram de uma mediana de 0,49 mm para 0,675 mm.
Um paciente precisou ser reoperado, embora não devido à válvula implantada, e não houve complicações graves relacionadas à imunossupressão4.
“O transplante cardíaco parcial tem o potencial de fornecer tecido5 vivo e em crescimento para a substituição da válvula, abordando uma limitação crítica das tecnologias atuais”, escreveram os autores. “No entanto, é crucial reconhecer que o transplante cardíaco parcial não é uma panaceia, mas sim um passo promissor que requer mais refinamento.”
O tratamento das doenças das válvulas cardíacas em bebês6 é desafiador, principalmente porque as próteses valvares atualmente disponíveis não conseguem crescer junto com as crianças à medida que elas ficam mais velhas. Implantes de homoenxertos de válvulas criopreservados, provenientes de doadores falecidos, são atualmente o padrão aceito para aqueles que não são candidatos à valvuloplastia. No entanto, esse enxertos frequentemente sucumbem a calcificação7 e fibrose8, o que exige que as crianças sejam submetidas, ao longo do tempo, a múltiplas cirurgias subsequentes, cada vez mais arriscadas, frequentemente com altas taxas de resultados insatisfatórios, observaram os autores.
O transplante cardíaco parcial (implante9 de tecido5 de doador recém-obtido e uso de imunossupressão4 padrão para manter sua viabilidade) é potencialmente uma forma viável de avançar no tratamento cirúrgico da doença, pois permite o crescimento adaptativo, de forma semelhante a um transplante cardíaco completo, embora apresente seus próprios desafios e não seja universalmente aplicável.
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“Embora o transplante cardíaco parcial ofereça uma alternativa às substituições valvares convencionais, particularmente para pacientes11 em crescimento, ele nunca eliminará a necessidade de intervenções futuras devido à natureza da cardiopatia congênita1 subjacente”, escreveram os pesquisadores.
“Este estudo destaca a promessa do uso de válvulas cardíacas viáveis para o reparo de valvulopatias congênitas10 em crianças, a fim de diminuir a necessidade de reoperação e reintervenção, desde que o crescimento e a função valvar sejam mantidos a longo prazo”, escreveu Kevin P. Daly, médico do Hospital Infantil de Boston e da Harvard Medical School, em um editorial que acompanhou a publicação do estudo.
Mas ele também destacou os desafios, incluindo a alocação equitativa de válvulas, bem como uma melhor compreensão das consequências a longo prazo da imunossupressão4 nesses pacientes.
“Eventos adversos maiores relacionados à imunossupressão4 incluem infecção12 grave, dano renal13 agudo14 e crônico15, doença linfoproliferativa pós-transplante, teratogenicidade do micofenolato mofetil e outros eventos adversos relacionados a medicamentos.” Muitos desses eventos se desenvolvem ao longo do tempo, disse ele, portanto, seus riscos nesses pacientes não são claros.
“No caso de transplante cardíaco parcial em crianças, seria razoável levantar a hipótese de que a lesão16 imunológica resultaria em dano suficiente para impedir o crescimento vascular17 contínuo, mas isso ainda não foi demonstrado”, escreveu Daly. “Compreender as consequências a longo prazo da lesão16 imunológica e o grau em que essa lesão16 pode ser tolerada será fundamental para equilibrar adequadamente os benefícios e os ônus da imunossupressão4.”
No artigo publicado os pesquisadores relatam que o transplante cardíaco parcial, ou substituição valvar intervivos, tem o potencial de promover o tratamento cirúrgico da doença valvar irreparável, fornecendo uma opção viável com capacidade de crescimento.
O objetivo deste estudo, portanto, foi descrever a experiência inicial e avaliar a viabilidade, segurança e eficácia do transplante cardíaco parcial em pacientes com doença das válvulas cardíacas congênita1.
É relata uma série de casos dos primeiros 19 pacientes submetidos a transplante cardíaco parcial em um único centro de cirurgia cardíaca pediátrica e transplante de alto volume nos EUA entre abril de 2022 e dezembro de 2024. Nenhum paciente foi excluído ou perdido no acompanhamento.
A exposição do estudo foi transplante cardíaco parcial utilizando válvulas semilunares de corações de doadores. A imunossupressão4 de manutenção consistiu em monoterapia com tacrolimus com uma meta de nível mínimo de 4 a 8 ng/mL.
A eficácia foi definida como o crescimento do anel e das cúspides3 valvares transplantados ao longo do tempo. Os desfechos secundários incluíram disfunção valvar e complicações relacionadas à imunossupressão4.
Entre os 19 participantes com disfunção valvar cardíaca congênita1 irreparável, 53% eram do sexo masculino e 47% do feminino. A idade mediana no momento do transplante foi de 97 dias. O acompanhamento mediano foi de 26 semanas.
Três pacientes receberam transplante cardíaco parcial de ambas as válvulas semilunares, 7 foram submetidos à substituição da válvula pulmonar viva na posição pulmonar, 2 tiveram um aloenxerto de válvula aórtica viva na posição aórtica e 7 tiveram um aloenxerto de válvula aórtica viva na posição pulmonar.
Nove pacientes que constituem a coorte2 inicial de receptores de transplante cardíaco parcial tiveram seu diâmetro anular e comprimento da cúspide18 da válvula analisados longitudinalmente para crescimento.
Todas as válvulas funcionaram bem e demonstraram crescimento ao longo dos escores z apropriados. O diâmetro anular aumentou de medianas de 7 mm (válvula aórtica) e 9 mm (válvula pulmonar) para 14 mm (válvula aórtica) e 17 mm (válvula pulmonar), respectivamente. O comprimento da cúspide18 também aumentou de medianas de 0,5 mm (válvula aórtica) e 0,49 mm (válvula pulmonar) para 1 mm (válvula aórtica) e 0,675 mm (válvula pulmonar), respectivamente.
Um paciente necessitou de reoperação não relacionada à válvula implantada. Não foram observadas complicações significativas relacionadas à imunossupressão4.
O estudo concluiu que o transplante cardíaco parcial parece viável, seguro e eficaz. Todas as válvulas transplantadas demonstraram crescimento com base nas medidas do anel e do comprimento da cúspide18. Acompanhamento e monitoramento cuidadosos são cruciais para apoiar a expansão contínua desta nova técnica.
Leia sobre "Transplante cardíaco" e "Imunossupressão4 e imunodepressão".
Fontes:
JAMA, publicação em 27 de agosto de 2025.
MedPage Today, notícia publicada em 27 de agosto de 2025.