Gostou do artigo? Compartilhe!

Exame de sangue sugere risco de pré-eclâmpsia com precisão usando RNA

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie esta notícia

A pré-eclâmpsia1 pode levar a muitas complicações na gravidez2, incluindo a morte, mas pode ser difícil de detectar no início da gestação. Um novo exame de sangue3 pode ajudar os médicos a identificar mulheres em risco de desenvolver a condição meses antes do início dos sintomas4, de acordo com estudo publicado na revista Nature Communications.

“Podemos reduzir a incidência5 para cerca de 1 em cada 4 gestações que são realmente de alto risco, e isso é um grande passo”, afirma Maneesh Jain, da Mirvie, uma startup de saúde6 sediada na Califórnia, EUA.

A pré-eclâmpsia1 é um tipo de distúrbio hipertensivo da gravidez2 (DHG) que ocorre quando algo (os cientistas não sabem exatamente o quê) dá errado durante o desenvolvimento da placenta. Isso leva à pressão alta, que pode causar doenças cardiovasculares7, danos a órgãos, convulsões e até mesmo a morte. Também pode prejudicar o feto8 em desenvolvimento.

No entanto, diagnosticar a pré-eclâmpsia1 e outros DHGs pode ser difícil, pois os sintomas4 geralmente só aparecem após pelo menos 20 semanas de gestação. Às vezes, os sinais9 passam despercebidos até o parto. E monitorar o desenvolvimento da placenta é difícil, pois a coleta de uma amostra de tecido10 do órgão é extremamente invasiva.

O novo exame de sangue3 é relativamente não invasivo e usa marcadores de RNA para prever se alguém tem probabilidade de desenvolver DHG. Especificamente, o teste se concentra em certos genes, incluindo PAPPA2 e CD163, cuja superexpressão já foi associada a DHGs. Os pesquisadores queriam verificar se conseguiriam detectar essa superexpressão em amostras de sangue3.

O estudo de validação com mais de 9.000 gestantes sugere que sim: Jain afirma que o teste foi capaz de determinar com mais de 99% de precisão se alguém sem fatores de risco preexistentes superexpressava os genes e, portanto, apresentava alto risco de pré-eclâmpsia1 ou outro DHG. Aproximadamente um quarto das participantes sem fatores de risco preexistentes para DHG superexpressaram os genes.

Saiba mais sobre "Diferenças entre pré-eclâmpsia1 e eclâmpsia11" e "Hipertensão12 da gravidez2".

Pessoas em determinados grupos demográficos, por exemplo, aquelas com pressão alta preexistente ou histórico familiar de pré-eclâmpsia1, apresentam um risco moderadamente maior de desenvolver a condição, afirma Morten Rasmussen, da Mirvie. Mas, para muitas, a condição surge do nada.

Quando alguém sabe que tem alto risco de pré-eclâmpsia1, pode tomar medidas para preveni-la. Intervenções comuns incluem tomar medicamentos como aspirina, adotar uma dieta mediterrânea13 e monitorar a pressão arterial14 diariamente.

No entanto, o novo teste analisou apenas pessoas com idade gestacional entre 17,5 e 22 semanas. “Idealmente, o uso de aspirina deve ser iniciado antes das 16 semanas”, diz Kathryn Gray15, da Universidade de Washington, em Seattle, EUA. “Portanto, já perdemos essa janela quando a maioria das pessoas receberia os resultados deste teste.”

A Mirvie planeja disponibilizar o exame de sangue3 comercialmente em breve. Assim que estiver no mercado, a equipe espera que outros cientistas o utilizem para desenvolver medicamentos direcionados especificamente à expressão de genes como o PAPPA2. Essa identificação molecular “dá uma chance muito maior para o tratamento mostrar efeito”, diz Rasmussen.

Gray15 também gostaria que os pesquisadores usassem o banco de dados de RNA de Mirvie para identificar melhor os genes responsáveis pelo risco de pré-eclâmpsia1 em pessoas específicas. Restringir o perfil de busca poderia ajudar a reduzir o custo do teste, tornando-o acessível a mais pessoas, diz ela.

No artigo publicado, os pesquisadores relatam a subtipificação molecular de distúrbios hipertensivos da gravidez2.

Eles contextualizam que os distúrbios hipertensivos da gravidez2 (DHG), incluindo a pré-eclâmpsia1, afetam 1 em cada 6 gestações, são importantes contribuintes para a morbidade16 e mortalidade17 materna, mas carecem de estratégias de medicina de precisão.

Analisando dados transcriptômicos de uma coorte18 diversificada coletada prospectivamente (n = 9.102), este estudo revela subtipos distintos de RNA no sangue3 materno, reclassificando fenótipos clínicos de DHG, como pré-eclâmpsia1 de início precoce/tardio.

O gene placentário PAPPA2 prediz fortemente as formas mais graves de pré-eclâmpsia1 em indivíduos sem fatores de alto risco preexistentes, meses antes dos sintomas4, e sua superexpressão se correlaciona com partos mais precoces de forma dose-dependente.

Além disso, subtipos moleculares caracterizados por genes imunológicos são suprarregulados em formas menos graves de DHG.

Esses resultados reclassificam os fenótipos clínicos de DHG em dois subtipos moleculares distintos: associado à placenta ou associado ao sistema imunológico19. O desempenho de validação para DHG associada à placenta produz uma AUC20 de 0,88 na população materna em idade avançada sem fatores de alto risco preexistentes.

Os subtipos moleculares criam novas oportunidades para a aplicação da medicina de precisão na saúde6 materna.

Leia sobre "Gravidez2 de alto risco", "Pré-natal: o que é" e "Sintomas4 da hipertensão arterial21".

 

Fontes:
Nature Communications, publicação em 08 de abril de 2025.
New Scientist, notícia publicada em 08 de abril de 2025.

 

NEWS.MED.BR, 2025. Exame de sangue sugere risco de pré-eclâmpsia com precisão usando RNA. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1493840/exame-de-sangue-sugere-risco-de-pre-eclampsia-com-precisao-usando-rna.htm>. Acesso em: 5 set. 2025.

Complementos

1 Pré-eclâmpsia: É caracterizada por hipertensão, edema (retenção de líquidos) e proteinúria (presença de proteína na urina). Manifesta-se na segunda metade da gravidez (após a 20a semana de gestação) e pode evoluir para convulsão e coma, mas essas condições melhoram com a saída do feto e da placenta. No meio médico, o termo usado é Moléstia Hipertensiva Específica da Gravidez. É a principal causa de morte materna no Brasil atualmente.
2 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
3 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
4 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
5 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
6 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
7 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
8 Feto: Filhote por nascer de um mamífero vivíparo no período pós-embrionário, depois que as principais estruturas foram delineadas. Em humanos, do filhote por nascer vai do final da oitava semana após a CONCEPÇÃO até o NASCIMENTO, diferente do EMBRIÃO DE MAMÍFERO prematuro.
9 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
10 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
11 Eclâmpsia: Ocorre quando a mulher com pré-eclâmpsia grave apresenta covulsão ou entra em coma. As convulsões ocorrem porque a pressão sobe muito e, em decorrência disso, diminui o fluxo de sangue que vai para o cérebro.
12 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
13 Dieta Mediterrânea: Alimentação rica em carboidratos, fibras, elevado consumo de verduras, legumes e frutas (frescas e secas) e pobre em ácidos graxos saturados. É recomendada uma ingestão maior de gordura monoinsaturada em decorrência da grande utilização do azeite de oliva. Além de vinho.
14 Pressão arterial: A relação que define a pressão arterial é o produto do fluxo sanguíneo pela resistência. Considerando-se a circulação como um todo, o fluxo total é denominado débito cardíaco, enquanto a resistência é denominada de resistência vascular periférica total.
15 Gray: Em radioterapia, a dose absorvida é medida em rad (do inglês radiation absorbed dose) e significa a energia (dose) realmente absorvida por um corpo específico. 1 rad equivale a 0,01 joules por kg. Atualmente usa-se o gray (Gy) para expressar dose absorvida no sistema internacional (SI), que corresponde a 100 rad (1 joule de energia para 1 kg de massa).
16 Morbidade: Morbidade ou morbilidade é a taxa de portadores de determinada doença em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento.
17 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
18 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
19 Sistema imunológico: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
20 AUC: A área sob a curva ROC (Receiver Operator Characteristic Curve ou Curva Característica de Operação do Receptor), também chamada de AUC, representa a acurácia ou performance global do teste, pois leva em consideração todos os valores de sensibilidade e especificidade para cada valor da variável do teste. Quanto maior o poder do teste em discriminar os indivíduos doentes e não doentes, mais a curva se aproxima do canto superior esquerdo, no ponto que representa a sensibilidade e 1-especificidade do melhor valor de corte. Quanto melhor o teste, mais a área sob a curva ROC se aproxima de 1.
21 Hipertensão arterial: Aumento dos valores de pressão arterial acima dos valores considerados normais, que no adulto são de 140 milímetros de mercúrio de pressão sistólica e 85 milímetros de pressão diastólica.

Resultados de busca relacionada no catalogo.med.br:

Fábio Marcelo Martins Vara

Ginecologista e Obstetra

São Paulo/SP

Alessandra Kohatsu Shimabuco Yoshizumi

Ginecologista e Obstetra

Campo Grande/MS

Demetrio Alves de Araujo

Ginecologista e Obstetra

Januária/MG

Gostou do artigo? Compartilhe!