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Algumas terapias hormonais foram associadas ao câncer de mama de início precoce

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Embora o uso de terapia hormonal com estrogênio tenha sido inversamente associado ao câncer1 de mama2 de início precoce, a terapia hormonal com estrogênio/progesterona foi associada a uma maior incidência3 em certos subgrupos, de acordo com uma análise publicada no The Lancet Oncology.

Entre mais de 450.000 mulheres com idades entre 16 e 54 anos, a terapia hormonal de qualquer tipo não foi associada à incidência3 de câncer1 de mama2 de início precoce (HR 0,96, IC 95% 0,88-1,04), mas já ter feito o uso de terapia hormonal com estrogênio em algum momento apresentou uma associação inversa (HR 0,86, IC 95% 0,75-0,98), relataram Katie M. O'Brien, PhD, do Instituto Nacional de Ciências da Saúde4 Ambiental dos Estados Unidos, e colegas.

No entanto, o uso prolongado (>2 anos) da terapia hormonal com estrogênio/progesterona foi positivamente associado ao câncer1 de mama2 de início precoce (HR 1,18, IC 95% 1,01-1,38), assim como o uso entre mulheres sem histerectomia5 ou ooforectomia6 bilateral (HR 1,15, IC 95% 1,02-1,31).

A terapia hormonal com estrogênio/progesterona foi mais fortemente associada à doença com receptor de estrogênio negativo (HR 1,44, IC 95% 1,11-1,88) e à doença triplo-negativa (HR 1,50, IC 95% 1,02-2,20) em comparação com outros subtipos.

“Mulheres jovens podem usar a terapia hormonal para aliviar os sintomas7 de condições relacionadas a hormônios, menopausa8 ou cirurgia ginecológica, mas os riscos e benefícios de fazê-lo não foram completamente investigados”, escreveram O'Brien e colaboradores. “Em conjunto, os resultados desta investigação em larga escala, juntamente com os resultados em grande parte consistentes de estudos anteriores com mulheres na pós-menopausa8, fornecem informações importantes que podem ser úteis para o estabelecimento de recomendações clínicas sobre o uso de terapia hormonal em mulheres jovens.”

Em um comunicado à imprensa, o co-autor Dale Sandler, PhD, também do Instituto Nacional de Ciências da Saúde4 Ambiental, observou que “essas descobertas reforçam a necessidade de aconselhamento médico personalizado ao considerar a terapia hormonal.”

“As mulheres e seus profissionais de saúde4 devem ponderar os benefícios do alívio dos sintomas7 em relação aos riscos potenciais associados à terapia hormonal, especialmente a TH-EP [terapia hormonal com estrogênio/progesterona]”, disse ele. “Para mulheres com útero9 e ovários10 intactos, o aumento do risco de câncer1 de mama2 com a TH-EP deve levar a uma reflexão cuidadosa.”

Leia sobre "Câncer1 de mama2 - o que é" e "Câncer1 de mama2 triplo negativo".

Em um comentário que acompanhou a publicação do estudo, Christelle Lévy, médica do Centro de Câncer1 Francois Baclesse, em Caen, França, escreveu que uma “estratégia única provavelmente não é a melhor abordagem”, considerando que mulheres jovens elegíveis para terapia hormonal frequentemente apresentam diversos perfis clínicos e biológicos.

“As recomendações para mulheres jovens devem considerar o conhecimento do perfil benefício-risco da terapia hormonal e as questões ainda não respondidas nesse domínio (como as características biológicas e genômicas das células11 cancerígenas em idade jovem ou o impacto de fatores endógenos e exógenos no início e na progressão neoplásica12), enfatizando a importância de estudos prospectivos que realmente estão ausentes em comparação com a abundante literatura disponível para mulheres na pós-menopausa”, acrescentou.

O'Brien e colegas reconheceram que seu estudo tinha limitações, incluindo o fato de não terem conseguido ajustar o uso de álcool ou a atividade física, e não possuíam dados sobre BRCA1/2 ou outros genes conhecidos de predisposição ao câncer1 de mama2. Além disso, observaram que seus resultados podem não ser generalizáveis para todos os grupos, visto que a amostra conjunta foi composta principalmente por mulheres brancas da América do Norte.

Confira a seguir o resumo do artigo publicado.

Uso de terapia hormonal e câncer1 de mama2 de início precoce: uma análise conjunta de coortes prospectivas incluídas no Grupo Colaborativo para Câncer1 de Mama2 na Pré-menopausa8

A terapia hormonal com estrogênio e progesterona é um fator de risco13 estabelecido para câncer1 de mama2 em mulheres na pós-menopausa8. Examinou-se a associação menos bem estudada entre hormônios exógenos e câncer1 de mama2 em mulheres jovens, que podem usar terapia hormonal após cirurgia ginecológica ou para aliviar os sintomas7 da perimenopausa.

Nesta análise de coorte14 conjunta, investigou-se a relação entre hormônios exógenos e câncer1 de mama2 em mulheres jovens, utilizando dados de 10 a 13 coortes prospectivas da América do Norte, Europa, Ásia e Austrália. As coortes participantes acompanharam mulheres para incidência3 de câncer1 de mama2 até os 55 anos de idade. Utilizou-se a regressão de riscos proporcionais de Cox, estratificada por coorte14 e ajustada por multivariáveis, para estimar as razões de risco (HRs) e o IC de 95% para associações de terapia hormonal com incidência3 de câncer1 de mama2 de início precoce. Também estimou-se as diferenças de risco com base no risco cumulativo até os 55 anos de idade.

Foram incluídas 459.476 mulheres com idades entre 16 e 54 anos (média de 42,0 anos [IQR 35,5-49,2]), das quais 8.455 (2%) desenvolveram câncer1 de mama2 de início precoce (diagnosticado antes dos 55 anos; mediana de acompanhamento de 7,8 anos [5,2-11,2]). No geral, 15% das participantes relataram uso de terapia hormonal, sendo a terapia hormonal combinada com estrogênio mais progesterona (6%) e a terapia hormonal com estrogênio isolado (5%) os tipos mais comuns.

O risco cumulativo de câncer1 de mama2 de início precoce foi de 4,1% entre as não usuárias. A terapia hormonal de qualquer tipo não foi associada à incidência3 de câncer1 de mama2 de início precoce (HR 0,96 [IC 95% 0,88 a 1,04]), mas já ter feito uso de terapia hormonal com estrogênio em algum momento foi inversamente associado (0,86 [0,75 a 0,98]; diferença de risco -0,5% [-1,0 a -0,0]).

A HR para terapia hormonal com estrogênio mais progesterona e câncer1 de mama2 de início precoce foi de 1,10 (0,98 a 1,24), com associações positivas observadas para uso a longo prazo (1,18 [1,01 a 1,38] para >2 anos) e uso entre mulheres sem histerectomia5 ou ooforectomia6 bilateral (1,15 [1,02 a 1,31]).

A associação entre terapia hormonal com estrogênio e câncer1 de mama2 de início precoce foi semelhante para todos os subtipos de câncer1 de mama2, mas a terapia hormonal com estrogênio mais progesterona foi mais fortemente associada à doença com receptor de estrogênio negativo (1,44 [1,11 a 1,88]) e à doença triplo-negativa (1,50 [1,02 a 2,20]) do que com outros subtipos.

O estudo concluiu que o uso de terapia hormonal com estrogênio foi inversamente associado ao câncer1 de mama2 de início precoce, e a terapia hormonal com estrogênio mais progesterona foi associada a uma maior incidência3 de câncer1 de mama2 de início precoce entre mulheres com útero9 e ovários10 intactos.

Esses achados são amplamente semelhantes aos resultados de estudos sobre uso de hormônios e câncer1 de mama2 de início tardio e fornecem novas evidências para o estabelecimento de recomendações clínicas entre mulheres mais jovens.

Veja também: "O que saber sobre a Terapia de Reposição Hormonal" e "Menopausa8".

 

Fontes:
The Lancet Oncology, Vol. 26, N° 7, em julho de 2025.
MedPage Today, notícia publicada em 01 de julho de 2025.

 

NEWS.MED.BR, 2025. Algumas terapias hormonais foram associadas ao câncer de mama de início precoce. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1492630/algumas-terapias-hormonais-foram-associadas-ao-cancer-de-mama-de-inicio-precoce.htm>. Acesso em: 5 ago. 2025.

Complementos

1 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
2 Mama: Em humanos, uma das regiões pareadas na porção anterior do TÓRAX. As mamas consistem das GLÂNDULAS MAMÁRIAS, PELE, MÚSCULOS, TECIDO ADIPOSO e os TECIDOS CONJUNTIVOS.
3 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
4 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
5 Histerectomia: Cirurgia através da qual se extrai o útero. Pode ser realizada mediante a presença de tumores ou hemorragias incontroláveis por outras formas. Quando se acrescenta à retirada dos ovários e trompas de Falópio (tubas uterinas) a esta cirurgia, denomina-se anexo-histerectomia.
6 Ooforectomia: Ablação ou retirada de um ou dos dois ovários.
7 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
8 Menopausa: Estado fisiológico caracterizado pela interrupção dos ciclos menstruais normais, acompanhada de alterações hormonais em mulheres após os 45 anos.
9 Útero: Orgão muscular oco (de paredes espessas), na pelve feminina. Constituído pelo fundo (corpo), local de IMPLANTAÇÃO DO EMBRIÃO e DESENVOLVIMENTO FETAL. Além do istmo (na extremidade perineal do fundo), encontra-se o COLO DO ÚTERO (pescoço), que se abre para a VAGINA. Além dos istmos (na extremidade abdominal superior do fundo), encontram-se as TUBAS UTERINAS.
10 Ovários: São órgãos pares com aproximadamente 3cm de comprimento, 2cm de largura e 1,5cm de espessura cada um. Eles estão presos ao útero e à cavidade pelvina por meio de ligamentos. Na puberdade, os ovários começam a secretar os hormônios sexuais, estrógeno e progesterona. As células dos folículos maduros secretam estrógeno, enquanto o corpo lúteo produz grandes quantidades de progesterona e pouco estrógeno.
11 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
12 Neoplásica: Que apresenta neoplasia, ou seja, que apresenta processo patológico que resulta no desenvolvimento de neoplasma ou tumor. Um neoplasma é uma neoformação de crescimento anormal, incontrolado e progressivo de tecido, mediante proliferação celular.
13 Fator de risco: Qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença.
14 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
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