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Tumores podem se formar sem mutações genéticas

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Acredita-se que a formação de tumores e a progressão para o câncer1 sejam geralmente causadas pelo acúmulo de mutações genéticas permanentes. Mutações genéticas específicas que têm sido associadas ao câncer1 alteram frequentemente os programas de expressão genética, promovendo alterações em uma série de funções celulares, incluindo proliferação, diferenciação, metabolismo2 e sobrevivência3.

Agora, em um estudo publicado na revista Nature, pesquisadores desafiam a ideia de que os tumores surgem apenas de mutações genéticas permanentes. Utilizando moscas da fruta (Drosophila melanogaster), eles demonstram que perturbar transitoriamente os mecanismos que regulam a expressão genética sem fazer alterações na sequência de DNA – um processo conhecido como regulação epigenética – é suficiente para estabelecer programas de expressão genética que apoiam a iniciação e progressão do tumor4. A inibição breve e reversível desse mecanismo de silenciamento de genes levou à formação irreversível de tumores nas moscas da fruta.

No artigo publicado, os pesquisadores descrevem como a perda transitória de componentes do complexo Polycomb induz um destino epigenético de câncer1.

Eles relatam que, embora o início e a progressão do câncer1 estejam geralmente associados à acumulação de mutações somáticas, alterações epigenômicas substanciais estão subjacentes a muitos aspectos da tumorigênese e da susceptibilidade5 ao câncer1, sugerindo que os mecanismos genéticos podem não ser os únicos impulsionadores da transformação maligna.

No entanto, não se sabe se mecanismos puramente não genéticos são suficientes para iniciar a tumorigênese, independentemente das mutações.

Neste estudo, mostrou-se que uma perturbação transitória do silenciamento transcricional mediada por proteínas6 do grupo Polycomb é suficiente para induzir uma mudança irreversível para um destino de célula7 cancerígena em Drosophila.

Isso está ligado à desrepressão irreversível de genes que podem conduzir a tumorigênese, incluindo membros da via de sinalização JAK-STAT e zfh1, o homólogo na mosca do oncogene ZEB1, cuja ativação aberrante é necessária para a tumorigênese induzida por perturbação do complexo Polycomb.

Estes dados mostram que uma depleção8 reversível de proteínas6 do grupo Polycomb pode induzir câncer1 na ausência de mutações condutoras9, sugerindo que os tumores podem surgir através da desregulação epigenética, levando à herança de destinos celulares alterados.

Saiba mais sobre "Genética - conceitos básicos", "Oncogênese - processo de formação do câncer1" e "O que é o câncer1".

 

Fontes:
Nature, publicação em 24 de abril de 2024.
Nature, notícia publicada em 24 de abril de 2024.

 

NEWS.MED.BR, 2024. Tumores podem se formar sem mutações genéticas. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1469757/tumores-podem-se-formar-sem-mutacoes-geneticas.htm>. Acesso em: 24 nov. 2024.

Complementos

1 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
2 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
3 Sobrevivência: 1. Ato ou efeito de sobreviver, de continuar a viver ou a existir. 2. Característica, condição ou virtude daquele ou daquilo que subsiste a um outro. Condição ou qualidade de quem ainda vive após a morte de outra pessoa. 3. Sequência ininterrupta de algo; o que subsiste de (alguma coisa remota no tempo); continuidade, persistência, duração.
4 Tumor: Termo que literalmente significa massa ou formação de tecido. É utilizado em geral para referir-se a uma formação neoplásica.
5 Susceptibilidade: 1. Ato, característica ou condição do que é suscetível. 2. Capacidade de receber as impressões que põem em exercício as ações orgânicas; sensibilidade. 3. Disposição ou tendência para se ofender e se ressentir com (algo, geralmente sem importância); delicadeza, melindre. 4. Em física, é o coeficiente de proporcionalidade entre o campo magnético aplicado a um material e a sua magnetização.
6 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
7 Célula: Unidade funcional básica de todo tecido, capaz de se duplicar (porém algumas células muito especializadas, como os neurônios, não conseguem se duplicar), trocar substâncias com o meio externo à célula, etc. Possui subestruturas (organelas) distintas como núcleo, parede celular, membrana celular, mitocôndrias, etc. que são as responsáveis pela sobrevivência da mesma.
8 Depleção: 1. Em patologia, significa perda de elementos fundamentais do organismo, especialmente água, sangue e eletrólitos (sobretudo sódio e potássio). 2. Em medicina, é o ato ou processo de extração de um fluido (por exxemplo, sangue) 3. Estado ou condição de esgotamento provocado por excessiva perda de sangue. 4. Na eletrônica, em um material semicondutor, medição da densidade de portadores de carga abaixo do seu nível e do nível de dopagem em uma temperatura específica.
9 Mutações condutoras: Também conhecidas como “driver mutations“ são aquelas que tem efeito causal sobre o crescimento de células cancerígenas.
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