Gostou do artigo? Compartilhe!

Medicamento para diabetes retarda o desenvolvimento da doença de Parkinson

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie esta notícia

Um medicamento para diabetes1 relacionado à última geração de medicamentos para obesidade2, como o Wegovy, pode retardar o desenvolvimento dos sintomas3 da doença de Parkinson4, sugere um ensaio clínico publicado no The New England Journal of Medicine.

Os participantes que tomaram o medicamento, um agonista5 do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon6 (GLP-1) chamado lixisenatida (Adlyxin), durante 12 meses não apresentaram piora dos sintomas3 – um ganho em uma condição marcada pela perda progressiva do controle motor.

Leia: "10 sinais7 precoces da doença de Parkinson4".

No estudo de fase II LIXIPARK, aos 12 meses, as pontuações motoras na Escala de Avaliação da Doença de Parkinson4 Unificada da Sociedade de Transtornos do Movimento (MDS-UPDRS) parte III melhoraram 0,04 pontos no grupo lixisenatida e pioraram 3,04 pontos no grupo placebo8, uma diferença de 3,08 pontos, relataram Olivier Rascol, MD, PhD, da Universidade de Toulouse, na França, e co-autores.

Náuseas9 ocorreram em 46% e vômitos10 em 13% dos participantes tratados com lixisenatida. Os resultados do desfecho secundário não diferiram substancialmente entre os grupos.

O receptor do GLP-1 está presente no cérebro11 e acredita-se que a atividade agonista5 seja anti-inflamatória, reduzindo a ativação da micróglia. Pesquisas observacionais mostraram que a incidência12 de Parkinson é menor entre pessoas com diabetes1 tratadas com agonistas do receptor do GLP-1 ou inibidores da dipeptidil peptidase 4 (DPP4) em comparação com outros medicamentos para diabetes1.

Vários agonistas do receptor do GLP-1 estão sendo testados como potenciais tratamentos para Parkinson. Um ensaio unicêntrico de exenatida (Byetta, Bydureon) mostrou efeitos positivos na função motora. Um análogo peguilado da exenatida conhecido como NLY01 falhou em um estudo de fase II, mas sugeriu benefícios para pacientes13 com menos de 60 anos.

“Produzir uma demonstração convincente de um efeito neuroprotetor modificador da doença na doença de Parkinson4 é uma tarefa difícil”, observou David Standaert, MD, PhD, da Universidade do Alabama em Birmingham, em um editorial que acompanhou a publicação do estudo.

No LIXIPARK, a diferença nas pontuações do MDS-UPDRS após 12 meses de tratamento com lixisenatida foi estatisticamente significativa, mas pequena, observou Standaert.

“A importância desta descoberta não é a magnitude da mudança, mas o que ela pressagia. Na verdade, a principal preocupação da maioria dos pacientes com doença de Parkinson4 não é a sua condição atual – é o medo da progressão da doença”, escreveu ele.

“Se uma melhoria de três pontos na pontuação do MDS-UPDRS for o máximo que pode ser alcançado com a lixisenatida, então o valor do tratamento com o medicamento pode ser limitado (especialmente tendo em conta os efeitos adversos)”, destacou. “Por outro lado, se o benefício da lixisenatida for cumulativo, acrescentando mais três pontos a cada ano durante um período de 5 a 10 anos ou mais, então este poderia ser um tratamento verdadeiramente transformador”.

No artigo publicado, os pesquisadores relatam que a lixisenatida, um agonista5 do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon6 usado para o tratamento de diabetes1, mostrou propriedades neuroprotetoras em um modelo de camundongo com doença de Parkinson4.

Neste estudo de fase 2, duplo-cego, randomizado14 e controlado por placebo8, avaliou-se o efeito da lixisenatida na progressão da incapacidade motora em pessoas com doença de Parkinson4. Os participantes nos quais a doença de Parkinson4 foi diagnosticada há menos de 3 anos, que estavam recebendo uma dose estável de medicamentos para tratar os sintomas3 e que não apresentavam complicações motoras foram randomizados em uma proporção de 1:1 para lixisenatida subcutânea15 diária ou placebo8 por 12 meses, seguido por um período de eliminação (washout) de 2 meses.

O desfecho primário foi a mudança da linha de base nas pontuações da Escala de Avaliação da Doença de Parkinson4 Unificada da Sociedade de Transtornos do Movimento (MDS-UPDRS) parte III (variação de 0 a 132, com pontuações mais altas indicando maior incapacidade motora), que foi avaliada em pacientes no estado sob medicação aos 12 meses. Os desfechos secundários incluíram outras sub-pontuações da MDS-UPDRS aos 6, 12 e 14 meses e doses de equivalente de levodopa.

Um total de 156 pessoas foram inscritas, com 78 designadas para cada grupo. As pontuações da parte III da MDS-UPDRS no início do estudo foram de aproximadamente 15 em ambos os grupos. Aos 12 meses, as pontuações na MDS-UPDRS parte III mudaram em -0,04 pontos (indicando melhora) no grupo lixisenatida e 3,04 pontos (indicando agravamento da incapacidade) no grupo placebo8 (diferença, 3,08; intervalo de confiança de 95%, 0,86 a 5,30; P = 0,007).

Aos 14 meses, após um período de eliminação de 2 meses, as pontuações motoras médias da MDS-UPDRS no estado sem medicação foram de 17,7 (IC 95%, 15,7 a 19,7) com lixisenatida e 20,6 (IC 95%, 18,5 a 22,8) com placebo8.

Outros resultados relativos aos desfechos secundários não diferiram substancialmente entre os grupos. Náuseas9 ocorreram em 46% dos participantes que receberam lixisenatida e vômitos10 em 13%.

O estudo concluiu que, em participantes com doença de Parkinson4 em fase inicial, a terapêutica16 com lixisenatida resultou numa menor progressão da incapacidade motora do que o placebo8 aos 12 meses num ensaio de fase 2, mas foi associada a efeitos secundários gastrointestinais. São necessários ensaios mais longos e maiores para determinar os efeitos e a segurança da lixisenatida em pessoas com doença de Parkinson4.

Veja também sobre "Doenças degenerativas17" e "Distúrbios dos movimentos".

 

Fontes:
The New England Journal of Medicine, Vol. 390, Nº 13, em 03 de abril de 2024.
MedPage Today, notícia publicada em 03 de abril de 2024.

 

NEWS.MED.BR, 2024. Medicamento para diabetes retarda o desenvolvimento da doença de Parkinson. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1468917/medicamento-para-diabetes-retarda-o-desenvolvimento-da-doenca-de-parkinson.htm>. Acesso em: 16 mai. 2024.

Complementos

1 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
2 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
3 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
4 Doença de Parkinson: Doença degenerativa que afeta uma região específica do cérebro (gânglios da base), e caracteriza-se por tremores em repouso, rigidez ao realizar movimentos, falta de expressão facial e, em casos avançados, demência. Os sintomas podem ser aliviados por medicamentos adequados, mas ainda não se conhece, até o momento, uma cura definitiva.
5 Agonista: 1. Em farmacologia, agonista refere-se às ações ou aos estímulos provocados por uma resposta, referente ao aumento (ativação) ou diminuição (inibição) da atividade celular. Sendo uma droga receptiva. 2. Lutador. Na Grécia antiga, pessoa que se dedicava à ginástica para fortalecer o físico ou como preparação para o serviço militar.
6 Glucagon: Hormônio produzido pelas células-alfa do pâncreas. Ele aumenta a glicose sangüínea. Uma forma injetável de glucagon, disponível por prescrição médica, pode ser usada no tratamento da hipoglicemia severa.
7 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
8 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
9 Náuseas: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc .
10 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
11 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
12 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
13 Para pacientes: Você pode utilizar este texto livremente com seus pacientes, inclusive alterando-o, de acordo com a sua prática e experiência. Conheça todos os materiais Para Pacientes disponíveis para auxiliar, educar e esclarecer seus pacientes, colaborando para a melhoria da relação médico-paciente, reunidos no canal Para Pacientes . As informações contidas neste texto são baseadas em uma compilação feita pela equipe médica da Centralx. Você deve checar e confirmar as informações e divulgá-las para seus pacientes de acordo com seus conhecimentos médicos.
14 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
15 Subcutânea: Feita ou situada sob a pele; hipodérmica.
16 Terapêutica: Terapia, tratamento de doentes.
17 Degenerativas: Relativas a ou que provocam degeneração.
Gostou do artigo? Compartilhe!