Cientistas identificam causa do enjoo matinal grave na gravidez: um hormônio produzido pelo feto
As náuseas1 e os vômitos2 que costumam definir o primeiro trimestre da gravidez3 são causados principalmente por um único hormônio4 liberado pelas células5 fetais na placenta, de acordo com um estudo publicado na revista Nature.
Os pesquisadores disseram que a descoberta pode levar a melhores tratamentos para os enjoos matinais, incluindo casos raros e potencialmente fatais.
Mulheres que são mais sensíveis ao hormônio4, que aumenta durante o início da gravidez3, podem correr maior risco de sofrer uma forma grave de náusea6 e vômito7, chamada hiperêmese gravídica, segundo o estudo.
“Pela primeira vez, a hiperêmese gravídica poderia ser tratada na causa raiz, em vez de apenas aliviar os sintomas”, diz Tito Borner, fisiologista da Universidade da Pensilvânia.
Saiba mais sobre "Enjoo na gravidez3 - como aliviá-lo" e "Como é a hiperêmese gravídica".
O estudo confirma pesquisas anteriores que apontavam para o hormônio4, denominado GDF15. Os pesquisadores descobriram que a quantidade de hormônio4 circulando no sangue8 de uma mulher durante a gravidez3 – bem como a sua exposição a ele antes da gravidez3 – determina a gravidade dos seus sintomas9.
Mais de dois terços das gestantes apresentam náuseas1 e vômitos2 durante o primeiro trimestre. E cerca de 2% das mulheres são hospitalizadas pela condição chamada hiperêmese gravídica, que causa vômitos2 e náuseas1 incessantes durante toda a gravidez3. A condição pode levar à desnutrição10, perda de peso e desidratação11. Também aumenta o risco de parto prematuro, pré-eclâmpsia12 e coágulos sanguíneos, ameaçando a vida da mãe e do feto13.
Talvez porque as náuseas1 e os vômitos2 sejam tão comuns na gravidez3, os médicos muitas vezes ignoram a hiperêmese, descartando os seus sintomas9 graves como psicológicos, embora seja a principal causa de hospitalização durante o início da gravidez3, disseram os especialistas.
“Tenho trabalhado nisso há 20 anos e ainda há relatos de mulheres morrendo por causa disso e de mulheres sendo maltratadas”, disse a Dra. Marlena Fejzo, geneticista da Escola de Medicina Keck da Universidade do Sul da Califórnia e co-autora do novo estudo.
Os hormônios são substâncias químicas que enviam mensagens por todo o corpo. O GDF15 é liberado por muitos tecidos em resposta ao estresse, como uma infecção14. E seu sinal15 é altamente específico: os receptores do hormônio4 estão agrupados em uma parte do cérebro16 responsável por enjoos e vômitos2.
No novo estudo, a Dra. Fejzo e colaboradores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, mediram o hormônio4 no sangue8 de grávidas e analisaram os fatores de risco genéticos para hiperêmese.
Os pesquisadores descobriram que as mulheres com hiperêmese apresentavam níveis de GDF15 significativamente mais elevados durante a gravidez3 do que aquelas que não apresentavam sintomas9.
Mas o efeito do hormônio4 parece depender da sensibilidade e da exposição da mulher ao hormônio4 antes da gravidez3. Os pesquisadores descobriram, por exemplo, que as mulheres no Sri Lanka com uma doença sanguínea rara que causa níveis cronicamente elevados de GDF15 raramente sentiam náuseas1 ou vômitos2 durante a gravidez3.
“Isso eliminou completamente todas as náuseas1. Elas praticamente não apresentam sintomas9 durante a gravidez”, disse o Dr. Stephen O’Rahilly, endocrinologista17 de Cambridge que liderou a pesquisa.
O’Rahilly levantou a hipótese de que a exposição prolongada ao GDF15 antes da gravidez3 poderia ter um efeito protetor, tornando as mulheres menos sensíveis ao aumento acentuado do hormônio4 causado pelo feto13 em desenvolvimento.
Em experimentos de laboratório, os cientistas expuseram alguns ratos a uma pequena quantidade do hormônio4. Quando receberam uma dose muito maior três dias depois, os ratos não perderam o apetite tanto quanto os animais que não receberam a dose anterior – mostrando um efeito robusto de dessensibilização18.
As descobertas oferecem esperança de melhores tratamentos para a hiperêmese, disseram os especialistas. Pacientes com hiperêmese poderão um dia tomar medicamentos para bloquear os efeitos do hormônio4 no cérebro16, se os ensaios clínicos19 descobrirem que os medicamentos são seguros durante a gravidez3. Esses medicamentos estão sendo testados em ensaios com pacientes com câncer20 com perda de apetite e vômitos2 também causados pelo GDF15.
Pode até ser possível prevenir a doença. Mulheres em risco, como aquelas que tiveram náuseas1 e vômitos2 intensos durante uma gravidez3 anterior, podem ser expostas a baixas doses do hormônio4 antes de engravidar. (Um medicamento para diabetes21, a metformina22, aumenta os níveis de GDF15 e já é prescrito para ajudar na fertilidade em algumas pacientes.)
O novo estudo é poderoso porque oferece prova genética de uma relação causal entre o GDF15 e a doença, disse a Dra. Rachel Freathy, que é geneticista da Universidade de Exeter e não esteve envolvida no estudo. Isso ajudará a condição a ganhar maior reconhecimento, disse ela.
“Há uma espécie de suposição feita por muitas pessoas de que as mulheres deveriam ser capazes de lidar com isso”, disse Freathy. Com esta explicação biológica, disse ela, “haverá mais crença de que isto é uma coisa real, em vez de algo na cabeça23 de alguém”.
Leia sobre "Náuseas1 e vômitos2" e "Diferenças entre pré-eclâmpsia12 e eclâmpsia24".
No artigo publicado, os pesquisadores relatam que o GDF15, um hormônio4 que atua no tronco cerebral25, tem sido implicado nas náuseas1 e vômitos2 da gravidez3 (NVG), incluindo sua forma mais grave, a hiperêmese gravídica (HG), mas falta uma compreensão mecanicista completa.
Neste estudo, relatou-se que a produção fetal de GDF15 e a sensibilidade materna a ele contribuem substancialmente para o risco de HG. Confirmou-se que níveis mais elevados de GDF15 no sangue8 materno estão associados a vômitos2 na gravidez3 e HG.
Utilizando espectrometria de massa para detectar uma variante GDF15 marcada naturalmente, demonstrou-se que a grande maioria do GDF15 no plasma26 materno é derivado da unidade feto13-placentária.
Ao estudar portadores de variantes genéticas raras e comuns, descobriu-se que baixos níveis de GDF15 no estado de não gravidez3 aumentam o risco de desenvolver HG. Por outro lado, mulheres com talassemia27 beta, uma condição em que os níveis de GDF15 são cronicamente elevados, relatam níveis muito baixos de NVG.
Em camundongos, a resposta aguda da ingestão alimentar a um bolus28 de GDF15 é influenciada bidirecionalmente pelos níveis anteriores de GDF15 circulante, sugerindo que este sistema é suscetível à dessensibilização18.
Essas descobertas apoiam um suposto papel causal do GDF15 de origem fetal nas náuseas1 e vômitos2 da gravidez3 humana, com a sensibilidade materna, pelo menos parcialmente determinada pela exposição pré-gravidez3 ao hormônio4, sendo uma grande influência em sua gravidade. Eles também sugerem abordagens baseadas em mecanismos para o tratamento e prevenção da HG.
Fontes:
Nature, publicação em 13 de dezembro de 2023.
Nature, notícia publicada em 13 de dezembro de 2023.
The New York Times, notícia publicada em 13 de dezembro de 2023.