Um exame de sangue pode ser capaz de dizer quais órgãos apresentam envelhecimento acelerado
À medida que as pessoas envelhecem, as suas células1 passam por uma série de alterações bioquímicas que levam a danos nos órgãos e, eventualmente, à morte. Mas um novo estudo que rastreia proteínas2 sugere que estas alterações não são uniformes: os órgãos de um indivíduo podem envelhecer a ritmos diferentes, e um determinado órgão pode envelhecer a um ritmo mais rápido numa pessoa do que em outra com a mesma idade cronológica.
No estudo publicado na revista Nature, os autores estudaram 11 órgãos principais e relatam que todos eles podem estar sujeitos a um envelhecimento “acelerado”, definido pelos níveis de certas proteínas2 no sangue3. Cerca de um quinto das mais de 5.600 pessoas saudáveis com 50 anos ou mais que participaram do estudo atenderam aos critérios dos autores para envelhecimento acelerado em pelo menos um órgão.
Numa análise de amostras de sangue3 para proteínas2 provenientes de órgãos específicos, 18,4% das pessoas com 50 anos ou mais tinham um órgão com envelhecimento acelerado e 1,7% tinham envelhecimento em múltiplos órgãos, relatou Tony Wyss-Coray, PhD, da Universidade de Stanford, na Califórnia, e co-autores.
Leia sobre "O processo de envelhecimento", "Envelhecimento precoce", "Envelhecimento cerebral" e "Envelhecimento da pele4".
Esses órgãos hiperenvelhecidos estão associados a uma maior prevalência5 de doenças, e ter um órgão com uma idade invulgarmente avançada está associado a um maior risco de morte prematura, concluiu o estudo.
Quando a idade biológica de um órgão era muito maior que a idade cronológica da pessoa, havia um risco 20% a 50% maior de mortalidade6 e doenças específicas do órgão.
Por exemplo, pessoas com envelhecimento cardíaco acelerado tiveram um risco 250% maior de insuficiência cardíaca7, enquanto o envelhecimento cerebral e vascular8 acelerado previu a progressão da doença de Alzheimer9 com tanta precisão quanto a tau 181 fosforilada (p-tau181) plasmática, um biomarcador de Alzheimer10 de alto desempenho. O envelhecimento acelerado dos rins11 foi associado a diabetes12, obesidade13, hipercolesterolemia14 e hipertensão15, e o envelhecimento acelerado dos músculos16 foi associado a problemas de marcha.
Notavelmente, o ataque cardíaco e a doença de Alzheimer9, entre outras doenças, foram associados ao envelhecimento acelerado em “praticamente todos os órgãos”, enquanto outras condições foram associadas apenas ao envelhecimento de um órgão ou de um subconjunto de órgãos.
Particularmente significativos ao nível da população foram os rins11 envelhecidos. Os indivíduos hipertensos tinham rins11, em média, um ano mais velhos do que os seus pares da mesma idade, enquanto as pessoas com diabetes12 tinham rins11 cerca de 1,3 anos mais velhos. Pessoas com fibrilação atrial tinham corações 2,8 anos mais velhos, e aquelas que tiveram ataque cardíaco tinham corações 2,6 anos mais velhos.
“Se conseguirmos reproduzir esta descoberta em 50.000 ou 100.000 indivíduos, isso significará que, ao monitorar a saúde17 de órgãos individuais em pessoas aparentemente saudáveis, poderemos ser capazes de encontrar órgãos que estão sofrendo um envelhecimento acelerado no corpo das pessoas, e poderemos ser capazes de tratar as pessoas antes que fiquem doentes”, disse Wyss-Coray em um comunicado à imprensa.
Segundo Hamilton Oh, biólogo computacional da Universidade de Stanford, na Califórnia, e co-autor do estudo, exames para proteínas2 relacionadas à idade dos órgãos podem ajudar os pesquisadores a desenvolver tratamentos para problemas de saúde17 relacionados à idade e também orientar planos de tratamento personalizados. Os médicos já monitoram os níveis de algumas proteínas2 dos pacientes, e o teste proposto pelos autores “seria uma expansão do seu conjunto de ferramentas”, diz ele.
No artigo, os pesquisadores relatam como assinaturas de envelhecimento de órgãos no proteoma plasmático rastreiam saúde17 e doença.
Eles contextualizam que estudos em animais mostram que o envelhecimento varia entre indivíduos, bem como entre órgãos de um indivíduo, mas não se sabe se isso é verdade em humanos e qual seria o efeito nas doenças relacionadas à idade.
Utilizou-se níveis de proteínas2 do plasma sanguíneo18 humano provenientes de órgãos específicos para medir diferenças de envelhecimento específicas de órgãos em indivíduos vivos. Usando modelos de aprendizado de máquina, analisou-se o envelhecimento em 11 órgãos principais e estimou-se a idade dos órgãos de forma reprodutível em cinco coortes independentes, abrangendo 5.676 adultos ao longo da vida humana.
Descobriu-se que quase 20% da população apresenta idade fortemente acelerada em um órgão e 1,7% apresentam envelhecimento acelerado em múltiplos órgãos. O envelhecimento acelerado dos órgãos confere um risco de mortalidade6 20-50% maior, e as doenças específicas dos órgãos estão relacionadas com o envelhecimento mais rápido desses órgãos.
Descobriu-se que indivíduos com envelhecimento cardíaco acelerado têm um risco 250% aumentado de insuficiência cardíaca7 e o envelhecimento cerebral e vascular8 acelerado prediz a progressão da doença de Alzheimer9 (DA) independentemente e tão fortemente quanto a pTau-181 plasmática, o melhor biomarcador sanguíneo atual para DA. Os modelos utilizados vinculam calcificação19 vascular8, alterações na matriz extracelular e eliminação de proteínas2 sinápticas ao declínio cognitivo20 precoce.
Apresentou-se, assim, um método simples e interpretável para estudar o envelhecimento de órgãos usando dados de proteômica21 plasmática, prevendo doenças e efeitos do envelhecimento.
Veja também sobre "O envelhecimento saudável" e "Longevidade - o que é".
Fontes:
Nature, publicação em 06 de dezembro de 2023.
Nature, notícia publicada em 06 de dezembro de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 06 de dezembro de 2023.