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Estimulação cerebral profunda revive a função cognitiva após lesão cerebral traumática

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Um dispositivo que foi implantado no cérebro1 de pessoas com lesões2 cerebrais traumáticas melhorou substancialmente sua função cognitiva3 um ano depois, sugeriu um pequeno estudo publicado na revista Nature Medicine.

A estimulação cerebral profunda (ECP) no núcleo lateral central do tálamo4 levou a melhorias cognitivas em pessoas com déficits de longo prazo devido a traumatismo5 cranioencefálico (TCE).

A velocidade de processamento melhorou de 15% a 52% em relação ao valor inicial, excedendo o valor de referência de 10% para melhoria para todas as cinco pessoas que completaram o estudo, relataram Jaimie Henderson, MD, da Stanford Medicine na Califórnia, e co-autores.

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Os participantes tiveram um TCE moderado a grave que ocorreu de 3 a 18 anos atrás. Eles recuperaram alguma função após a lesão6, mas tiveram comprometimento cognitivo7 persistente por mais de 2 anos que os impediu de retornar aos níveis anteriores à lesão6 de trabalho, estudo e atividades sociais.

“Nestes pacientes, essas vias estão praticamente intactas, mas tudo foi regulado negativamente”, disse Henderson em comunicado. “É como se as luzes tivessem diminuído e simplesmente não houvesse eletricidade suficiente para acendê-las novamente.”

O TCE moderado a grave pode afetar a velocidade de processamento, a memória e a função executiva8. Seus déficits cognitivos9 sustentados são diferentes dos prejuízos mais transitórios observados no TCE leve e os mecanismos subjacentes dos dois tipos de lesão6 cerebral podem ser distintos.

Pesquisas anteriores sugeriram que a perda de atividade nos principais circuitos talâmicos pode estar associada à disfunção cognitiva3 após lesão6 cerebral moderada a grave. Em um artigo de 2007, os pesquisadores relataram que a ECP bilateral direcionada ao tálamo4 central melhorou as medidas de cognição10 e comportamento em um paciente com TCE grave que estava em estado minimamente consciente por 6 anos.

“O núcleo lateral central é otimizado para impulsionar as coisas de forma ampla, mas sua vulnerabilidade é que, se você tiver uma lesão6 multifocal, ele tende a sofrer um impacto maior porque um impacto pode vir de quase qualquer lugar do cérebro”, observou o co-autor Nicholas Schiff, MD, da Weill Cornell Medicine na cidade de Nova York.

O artigo publicado detalha o estudo de viabilidade, randomizado11, de fase 1, que avaliou a estimulação cerebral profunda talâmica na lesão6 cerebral traumática.

Os pesquisadores relatam que evidências convergentes indicam que deficiências na função executiva8 e na velocidade de processamento de informações limitam a qualidade de vida e o reingresso social após traumatismo5 cranioencefálico moderado a grave (TCEmg). Esses déficits refletem a disfunção das redes frontoestriatais para as quais o núcleo lateral central (LC) do tálamo4 é um nó crítico.

O objetivo principal deste estudo de viabilidade foi testar a segurança e eficácia da estimulação cerebral profunda dentro do trato LC e tegmental dorsal medial associado (LC/DTTm).

Seis participantes com TCEmg, que tinham entre 3 e 18 anos desde a lesão6, foram submetidos à cirurgia com colocação de eletrodos guiada por imagem e modelagem biofísica específica do sujeito para prever a ativação do trato LC/DTTm.

Os participantes tinham idades entre 22 e 60 anos e idade média de 36 anos. Quatro eram homens e duas eram mulheres.

As pontuações da Escala de Coma12 de Glasgow foram de 3 a 12 (pontuações de 8 ou menos indicam lesão6 grave; pontuações de 9 a 12 indicam lesão6 moderada) e as pontuações pré-operatórias da Escala de Coma12 de Glasgow Estendida foram 5 ou 6, indicando incapacidade moderada. Todos os participantes perderam a consciência quando sofreram as lesões2. A maioria das lesões2 foi resultado de um acidente automobilístico.

Os implantes foram programados para estimular o cérebro1 12 horas por dia, por 90 dias, durante as horas típicas de vigília, e eram desligados à noite.

A principal medida de eficácia foi a melhoria no controle executivo indexado pela velocidade de processamento na parte B do teste de trilha, que envolve conectar um conjunto de 25 pontos o mais rápido possível para medir a velocidade mental, o processamento e a flexibilidade.

Todos os seis participantes foram implantados com segurança. Cinco participantes completaram o estudo e um foi retirado por não cumprimento do protocolo. A velocidade de processamento na parte B do teste de trilha melhorou de 15% a 52% em relação à linha de base, excedendo a referência de 10% para melhoria em todos os cinco casos.

Houve 14 eventos adversos; dois foram classificados como graves. Um participante desenvolveu uma infecção13 pós-operatória do couro cabeludo que exigiu a explantação do sistema antes da fase de ajuste; esta pessoa foi retirada do estudo. Outro participante sentiu dor nas costas14, dor no pescoço15, dor de cabeça16 e rigidez nos isquiotibiais, começando vários dias após a cirurgia, que foram atribuídas a uma possível meningite17 asséptica. Todos os eventos adversos foram resolvidos sem sequelas18.

O estudo concluiu que a estimulação cerebral profunda do LC/DTTm pode ser aplicada com segurança e pode melhorar o controle executivo em pacientes com TCEmg que estão na fase crônica de recuperação.

Os cinco participantes que completaram o estudo ainda têm seus implantes de ECP anos após o término do estudo, observou Henderson.

Um estudo de fase II é o próximo passo, acrescentou. “Nosso objetivo agora é expandir este estudo, confirmar a eficácia de nossa técnica de ECP e ver até que ponto ela pode ser aplicada a pacientes com TCE com déficits cognitivos9 crônicos”, disse Henderson.

Veja também sobre "Concussão cerebral19" e "Quando a perda de memória não é normal".

 

Fontes:
Nature Medicine, publicação em 04 de dezembro de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 04 de dezembro de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Estimulação cerebral profunda revive a função cognitiva após lesão cerebral traumática. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1462672/estimulacao-cerebral-profunda-revive-a-funcao-cognitiva-apos-lesao-cerebral-traumatica.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.

Complementos

1 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
2 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
3 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
4 Tálamo: Corpos pareados (contendo principalmente substância cinzenta), que formam uma parte da parede lateral do terceiro ventrículo do cérebro. O tálamo é a maior porção do diencéfalo, sendo geralmente dividido em agregados celulares (conhecidos como grupos nucleares).
5 Traumatismo: Lesão produzida pela ação de um agente vulnerante físico, químico ou biológico e etc. sobre uma ou várias partes do organismo.
6 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
7 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
8 Função executiva: Também conhecida como controle cognitivo ou sistema supervisor atencional é um conceito neuropsicológico que se aplica ao processo cognitivo responsável pelo planejamento e execução de atividades, que podem incluir, por exemplo, a iniciação de tarefas, memória de trabalho, atenção sustentada e inibição de impulsos.
9 Cognitivos: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
10 Cognição: É o conjunto dos processos mentais usados no pensamento, percepção, classificação, reconhecimento e compreensão para o julgamento através do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas.
11 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
12 Coma: 1. Alteração do estado normal de consciência caracterizado pela falta de abertura ocular e diminuição ou ausência de resposta a estímulos externos. Pode ser reversível ou evoluir para a morte. 2. Presente do subjuntivo ou imperativo do verbo “comer.“
13 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
14 Costas:
15 Pescoço:
16 Cabeça:
17 Meningite: Inflamação das meninges, aguda ou crônica, quase sempre de origem infecciosa, com ou sem reação purulenta do líquido cefalorraquidiano. As meninges são três membranas superpostas (dura-máter, aracnoide e pia-máter) que envolvem o encéfalo e a medula espinhal.
18 Sequelas: 1. Na medicina, é a anomalia consequente a uma moléstia, da qual deriva direta ou indiretamente. 2. Ato ou efeito de seguir. 3. Grupo de pessoas que seguem o interesse de alguém; bando. 4. Efeito de uma causa; consequência, resultado. 5. Ato ou efeito de dar seguimento a algo que foi iniciado; sequência, continuação. 6. Sequência ou cadeia de fatos, coisas, objetos; série, sucessão. 7. Possibilidade de acompanhar a coisa onerada nas mãos de qualquer detentor e exercer sobre ela as prerrogativas de seu direito.
19 Concussão cerebral: Perda imediata da consciência no momento de um trauma, mas recuperável em 24 horas ou menos e sem seqüelas. Acompanha-se de amnésia retrógrada e pós-traumática, isto é, o paciente não se recorda do trauma, dos momentos que o antecederam, nem de eventos imediatamente posteriores. Hoje a tendência é considerar a concussão como resultante de um grau leve de lesão axonal difusa.
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