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Exame de sangue diagnosticou com precisão a doença celíaca em adultos

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Um exame de sangue1 pode ser confiável no diagnóstico2 de alguns adultos com suspeita de doença celíaca, ajudando a evitar uma biópsia3, de acordo com um estudo de coorte4 prospectivo5 publicado no The Lancet Gastroenterology and Hepatology.

Em 436 adultos com doença suspeita e sem deficiência de IgA, um exame de anti-transglutaminase tecidual IgA (tTG-IgA) sérica foi comparado com o padrão-ouro: biópsia3 duodenal. O resultado foi que os exames séricos revelaram 348 verdadeiros positivos e 66 verdadeiros negativos, mas também 15 falsos positivos e 7 falsos negativos, disseram pesquisadores liderados por Carolina Ciacci, médica, da Universidade de Salerno, na Itália.

O grupo de Ciacci disse que o valor preditivo positivo do exame de sangue1 foi de 95,9% e o valor preditivo negativo foi de 90,4%. A sensibilidade foi de 98% e a especificidade foi de 81,5%.

Numa análise post-hoc de adultos cujo tTG-IgA era mais de 10 vezes o limite superior do normal, o exame sérico teve um valor preditivo positivo de 97,5%, observaram os pesquisadores.

“Com o uso de tTG-IgA em pacientes com concentrações conhecidas de IgA sérica total, o diagnóstico2 será estabelecido mais rapidamente e o tratamento com dieta sem glúten6 será iniciado mais cedo do que com biópsia”, escreveram Ciacci e colegas.

Além disso, uma abordagem sem biópsia3 reduz a pressão nas clínicas de endoscopia7 e reduz custos, segundo os autores do estudo. Outro benefício para os pacientes é evitar um procedimento invasivo e desconfortável que muitas vezes requer sedação8 e, às vezes, anestesia9 geral, disseram.

Além disso, embora a biópsia3 do intestino delgado10 tenha sido o padrão-ouro para o diagnóstico2, a interpretação histológica11 nem sempre é simples, o que pode levar a atrasos no diagnóstico2 ou mesmo a erros de diagnóstico2, acrescentaram.

Vários estudos clínicos demonstraram que o exame tTG-IgA é viável em crianças com suspeita de doença celíaca, e esta abordagem foi adotada por muitos sistemas de saúde12 e médicos, principalmente na Europa, afirmaram os autores do estudo. No entanto, a abordagem sem biópsia3 não foi amplamente adotada na prática clínica em adultos.

Saiba mais sobre "Doença celíaca" e "Intolerância ao glúten6: o que comer?"

Um porta-voz da Associação Americana de Gastroenterologia, que não esteve envolvido no estudo, entretanto, informou que o diagnóstico2 por biópsia3 deveria permanecer o padrão por enquanto.

“Este estudo apoia uma base crescente de evidências de que níveis altamente elevados de transglutaminase IgA tecidual significam que o paciente tem alta probabilidade de ter doença celíaca”, disse Benjamin Lebwohl, MD, gastroenterologista do Centro Médico Irving da Universidade de Columbia, na cidade de Nova York. “No entanto, ‘altamente provável’ não é 100%, e a dieta sem glúten6 é um tratamento de longo prazo que implica uma grande mudança de vida, por isso é importante chegar o mais próximo possível de 100%”.

“Como estes anticorpos13 permanecem imperfeitos”, continuou Lebwohl, “recomendo que a biópsia3 intestinal continue a ser o padrão para todos os adultos com suspeita de doença celíaca; em casos excepcionais, onde a biópsia3 pode ser impraticável ou apresentar preocupações de segurança, estes resultados podem ajudar-nos a quantificar a probabilidade de um indivíduo ter doença celíaca”.

No artigo publicado, os pesquisadores relatam que a possibilidade da doença celíaca em adultos ser diagnosticada apenas com sorologia permanece controversa. O objetivo, portanto, foi avaliar a precisão da anti-transglutaminase tecidual IgA (tTG-IgA) sérica no diagnóstico2 da doença celíaca.

Neste estudo de coorte4 prospectivo5 multicêntrico, participantes adultos (com idade ≥18 anos) com suspeita de doença celíaca sem deficiência de IgA que não estavam em uma dieta isenta de glúten6 e que tinham uma medição local de tTG-IgA sérica foram inscritos, a partir de 27 de fevereiro de 2018 até 24 de dezembro de 2020, por 14 centros de referência terciários (dez da Europa, dois da Ásia, um da Oceania e um da América do Sul) para realização de biópsia3 duodenal endoscópica local.

A tTG-IgA sérica local foi medida com 14 marcas de exame diferentes e a concentração foi expressa como um múltiplo do limite superior de normalidade (LSN) de cada exame e definida como positiva quando maior que 1 vez o LSN.

O principal desfecho do estudo foi a confiabilidade dos exames séricos para o diagnóstico2 de doença celíaca, definida por atrofia14 das vilosidades duodenais (Marsh tipo 3 ou Corazza-Villanacci grau B). A histologia foi avaliada pelo patologista15 local, com casos discordantes (tTG-IgA positivo sem atrofia14 das vilosidades duodenais ou tTG-IgA negativo com atrofia14 das vilosidades duodenais) reavaliados por um patologista15 central.

A confiabilidade dos exames séricos para predição de atrofia14 das vilosidades duodenais foi avaliada de acordo com a sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo, valor preditivo negativo e área sob a curva (AUC16) característica de operação do receptor para dados categóricos e contínuos.

Foram inscritos 436 participantes com dados locais completos sobre tTG-IgA sérica e histologia duodenal (296 [68%] mulheres e 140 [32%] homens; idade média de 40 anos [DP 15]). TTG-IgA sérica positiva foi detectada em 363 (83%) participantes e tTG-IgA sérica negativa em 73 (17%).

Dos 363 participantes com tTG-IgA sérica positiva, 341 tiveram histologia positiva (verdadeiros positivos) e 22 tiveram histologia negativa (falsos positivos) após revisão local. Dos 73 participantes com tTG-IgA sérica negativa, sete tiveram histologia positiva (falsos negativos) e 66 tiveram histologia negativa (verdadeiros negativos) após revisão local.

O valor preditivo positivo foi de 93,9% (IC 95% 89,2-98,6), o valor preditivo negativo foi de 90,4% (85,5-95,3), a sensibilidade foi de 98,0% (95,3-100,0) e a especificidade foi de 75,0% (66,6-83,4).

Após reavaliação central da histologia duodenal em 29 casos discordantes, houve 348 casos verdadeiros positivos, 15 casos falsos positivos, 66 casos verdadeiros negativos e 7 casos falsos negativos, resultando num valor preditivo positivo de 95,9% (92,0-99,8), um valor preditivo negativo de 90,4% (85,5-95,3), uma sensibilidade de 98,0% (95,3-100,0) e uma especificidade de 81,5 % (73,9-89·1).

Utilizando a definição local ou central da histologia duodenal, o valor preditivo positivo da tTG-IgA sérica local aumentou quando o limiar sorológico foi definido em múltiplos crescentes do LSN (p <0,0001).

A AUC16 para tTG-IgA sérica para a previsão de atrofia14 das vilosidades duodenais foi de 0,87 (IC 95% 0,81-0,92) ao aplicar a definição categórica de tTG-IgA sérica (positiva [>1 × LSN] vs negativa [≤1 × LSN]) e 0,93 (0,89-0,96) ao aplicar a definição numérica de tTG-IgA sérica (múltiplos do LSN).

Achados endoscópicos adicionais incluíram gastrite17 péptica (nove pacientes), gastrite17 atrófica18 autoimune19 (três), esofagite de refluxo20 (31), úlcera gástrica21 ou duodenal (três) e esôfago22 de Barrett (um). No acompanhamento de 1 ano, um linfoma23 do íleo24 do intestino médio foi diagnosticado em uma mulher em dieta sem glúten6.

Esses dados mostraram que a biópsia3 poderia ser razoavelmente evitada no diagnóstico2 de doença celíaca em adultos com suspeita confiável de doença celíaca e tTG-IgA sérica elevada.

Leia sobre "Biópsia3: o que é", "Antígenos25 e anticorpos13" e "Intolerâncias alimentares".

 

Fontes:
The Lancet Gastroenterology and Hepatology, Vol. 8, Nº 11, em novembro de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 14 de setembro de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Exame de sangue diagnosticou com precisão a doença celíaca em adultos. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1460525/exame-de-sangue-diagnosticou-com-precisao-a-doenca-celiaca-em-adultos.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.

Complementos

1 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
2 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
3 Biópsia: 1. Retirada de material celular ou de um fragmento de tecido de um ser vivo para determinação de um diagnóstico. 2. Exame histológico e histoquímico. 3. Por metonímia, é o próprio material retirado para exame.
4 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
5 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
6 Glúten: Substância viscosa, extraída de cereais, depois de eliminado o amido. É uma proteína composta pela mistura das proteínas gliadina e glutenina.
7 Endoscopia: Método no qual se visualiza o interior de órgãos e cavidades corporais por meio de um instrumento óptico iluminado.
8 Sedação: 1. Ato ou efeito de sedar. 2. Aplicação de sedativo visando aliviar sensação física, por exemplo, de dor. 3. Diminuição de irritabilidade, de nervosismo, como efeito de sedativo. 4. Moderação de hiperatividade orgânica.
9 Anestesia: Diminuição parcial ou total da sensibilidade dolorosa. Pode ser induzida por diferentes medicamentos ou ser parte de uma doença neurológica.
10 Intestino delgado: O intestino delgado é constituído por três partes: duodeno, jejuno e íleo. A partir do intestino delgado, o bolo alimentar é transformado em um líquido pastoso chamado quimo. Com os movimentos desta porção do intestino e com a ação dos sucos pancreático e intestinal, o quimo é transformado em quilo, que é o produto final da digestão. Depois do alimento estar transformado em quilo, os produtos úteis para o nosso organismo são absorvidos pelas vilosidades intestinais, passando para os vasos sanguíneos.
11 Histológica: Relativo à histologia, ou seja, relativo à disciplina biomédica que estuda a estrutura microscópica, composição e função dos tecidos vivos.
12 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
13 Anticorpos: Proteínas produzidas pelo organismo para se proteger de substâncias estranhas como bactérias ou vírus. As pessoas que têm diabetes tipo 1 produzem anticorpos que destroem as células beta produtoras de insulina do próprio organismo.
14 Atrofia: 1. Em biologia, é a falta de desenvolvimento de corpo, órgão, tecido ou membro. 2. Em patologia, é a diminuição de peso e volume de órgão, tecido ou membro por nutrição insuficiente das células ou imobilização. 3. No sentido figurado, é uma debilitação ou perda de alguma faculdade mental ou de um dos sentidos, por exemplo, da memória em idosos.
15 Patologista: Estudioso ou especialista em patologia, que é a especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo.
16 AUC: A área sob a curva ROC (Receiver Operator Characteristic Curve ou Curva Característica de Operação do Receptor), também chamada de AUC, representa a acurácia ou performance global do teste, pois leva em consideração todos os valores de sensibilidade e especificidade para cada valor da variável do teste. Quanto maior o poder do teste em discriminar os indivíduos doentes e não doentes, mais a curva se aproxima do canto superior esquerdo, no ponto que representa a sensibilidade e 1-especificidade do melhor valor de corte. Quanto melhor o teste, mais a área sob a curva ROC se aproxima de 1.
17 Gastrite: Inflamação aguda ou crônica da mucosa do estômago. Manifesta-se por dor na região superior do abdome, acidez, ardor, náuseas, vômitos, etc. Pode ser produzida por infecções, consumo de medicamentos (aspirina), estresse, etc.
18 Atrófica: Relativa à atrofia, atrofiada. Que atrofia; que mingua, atrofiador, atrofiante. Que se torna mais debilitada e menos intensa.
19 Autoimune: 1. Relativo à autoimunidade (estado patológico de um organismo atingido por suas próprias defesas imunitárias). 2. Produzido por autoimunidade. 3. Autoalergia.
20 Esofagite de refluxo: É uma inflamação na mucosa do esôfago (camada que reveste o esôfago) causada pelo refluxo (retorno) do conteúdo gástrico ao esôfago. Se não tratada pode causar danos, desde o estreitamento (estenose) do esôfago - o que irá causar dificuldades na deglutição dos alimentos - até o câncer. Portadores de hérnia do hiato (projeção do estômago para o tórax), obesos, sedentários, fumantes, etilistas, pessoas tensas ou ansiosas têm maior predisposição à esofagite de refluxo.
21 Úlcera gástrica: Lesão na mucosa do estômago. Pode ser provocada por excesso de ácido clorídrico produzido pelo próprio estômago ou por medicamentos como antiinflamatórios ou aspirina. É uma doença infecciosa, causada pela bactéria Helicobacter pylori em quase 100 % dos casos.
22 Esôfago: Segmento muscular membranoso (entre a FARINGE e o ESTÔMAGO), no TRATO GASTRINTESTINAL SUPERIOR.
23 Linfoma: Doença maligna que se caracteriza pela proliferação descontrolada de linfócitos ou seus precursores. A pessoa com linfoma pode apresentar um aumento de tamanho dos gânglios linfáticos, do baço, do fígado e desenvolver febre, perda de peso e debilidade geral.
24 Íleo: A porção distal and mais estreita do INTESTINO DELGADO, entre o JEJUNO e a VALVA ILEOCECAL do INTESTINO GROSSO. Sinônimos: Ileum
25 Antígenos: 1. Partículas ou moléculas capazes de deflagrar a produção de anticorpo específico. 2. Substâncias que, introduzidas no organismo, provocam a formação de anticorpo.
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