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Alterações na retina surgem anos antes da doença de Parkinson

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Pessoas com doença de Parkinson1 apresentaram alterações na retina2 que podiam ser observadas com a tomografia de coerência óptica (TCO) anos antes do diagnóstico3, sugeriram dados transversais de um estudo publicado na revista Neurology. Os dados da TCO podem um dia contribuir para o rastreio do Parkinson.

Tanto a doença de Parkinson1 incidente4 quanto a prevalente foram associadas à redução das espessuras da camada plexiforme interna das células5 ganglionares (CPICG) e da camada nuclear interna (CNI), relataram Siegfried Karl Wagner, MD, da University College London, na Inglaterra, e co-autores.

Pessoas com doença de Parkinson1 prevalente tiveram a CPICG e a CNI mais finas após ajuste para idade, sexo, etnia, hipertensão6 e diabetes7. O Parkinson incidente4 também foi associado a CPICG e CNI mais finas.

Leia sobre "Doença ou Mal de Parkinson" e "10 sinais8 precoces da doença de Parkinson1".

O estudo “estabelece novos padrões para o papel da morfologia da retina2 como potencial biomarcador em doenças neurodegenerativas”, observaram Valeria Koska e Philipp Albrecht, MD, ambos da Heinrich Heine University Düsseldorf, na Alemanha, em um editorial que acompanhou a publicação do estudo.

“Isso não apenas corrobora estudos anteriores, mas também fornece novas evidências, por exemplo, uma espessura reduzida da camada nuclear interna”, escreveram Koska e Albrecht. “Isso promove a nossa compreensão de que a doença de Parkinson1 é uma doença sistêmica, que se estende além dos neurônios9 dopaminérgicos e também envolve a retina2 como parte periférica do sistema nervoso central10 já em um estágio muito inicial e aparentemente até pré-sintomático”.

Os tamanhos dos efeitos no estudo foram pequenos e o valor prático do uso de imagens de TCO da retina2 para identificar o Parkinson precoce com os protocolos e a tecnologia atuais no atendimento clínico é limitado, observaram os editorialistas.

“No entanto, com o advento da inteligência artificial, essas imagens poderão revelar-se úteis para o desenvolvimento de novos fatores prognósticos multivariáveis baseados em combinações de vários biomarcadores”, salientaram.

No novo estudo, os pesquisadores relatam as características da tomografia de coerência óptica da retina2 associadas à doença de Parkinson1 incidente4 e prevalente.

Eles contextualizam que estudos em cadáveres mostraram neurodegeneração relacionada à doença e outras anormalidades morfológicas na retina2 de indivíduos com doença de Parkinson1 (DP), no entanto, ainda não está claro se isso pode ser detectado de forma confiável com imagens in vivo.

Investigou-se, portanto, a anatomia interna da retina2, medida por tomografia de coerência óptica (TCO), na DP prevalente e posteriormente avaliou-se a associação desses marcadores com o desenvolvimento da DP usando uma coorte11 de pesquisa prospectiva.

Esta análise transversal utilizou dados de dois estudos. Para a detecção de marcadores retinianos na DP prevalente, utilizou-se dados do AlzEye, uma coorte11 retrospectiva de 154.830 pacientes com 40 anos ou mais atendidos em hospitais oftalmológicos de atenção secundária em Londres, Reino Unido, entre 2008 e 2018. Para a avaliação de marcadores retinianos na DP incidente4, usou-se dados do UK Biobank, uma coorte11 prospectiva de base populacional onde 67.311 voluntários com idades entre 40 e 69 anos foram recrutados entre 2006 e 2010 e foram submetidos a exames de imagem da retina2.

As espessuras da camada de fibras nervosas da retina2 macular (CFNRm), da camada plexiforme interna das células5 ganglionares (CPICG) e da camada nuclear interna (CNI) foram extraídas da TCO centrada na fóvea.

Modelos lineares de efeitos mistos foram ajustados para examinar a associação entre DP prevalente e espessuras retinianas. As razões de risco para a associação entre o tempo até o diagnóstico3 de DP e as espessuras da retina2 foram estimadas usando modelos de fragilidade.

Na coorte11 AlzEye, havia 700 indivíduos com DP prevalente e 105.770 controles (idade média de 65,5 ± 13,5 anos, 51,7% do sexo feminino). Indivíduos com DP prevalente tinham a CPICG (-2,12 μm, intervalo de confiança de 95%: -3,17, -1,07, p = 8,2 × 10-5) e a CNI (-0,99 μm, intervalo de confiança de 95%: -1,52, -0,47, p = 2,1 × 10-4) mais finas.

O UK Biobank incluiu 50.405 participantes (idade média 56,1 ± 8,2 anos, 54,7% mulheres), dos quais 53 desenvolveram DP em uma média de 2.653 ± 851 dias. A CPICG mais fina (taxa de risco: 0,62 por aumento do desvio padrão, intervalo de confiança de 95%: 0,46, 0,84, p = 0,002) e a CNI mais fina (taxa de risco: 0,70, intervalo de confiança de 95%: 0,51, 0,96, p = 0,026) também foram associadas com DP incidente4.

O estudo concluiu que indivíduos com doença de Parkinson1 apresentam espessura reduzida da camada nuclear interna e da camada plexiforme interna das células5 ganglionares da retina2. O envolvimento dessas camadas vários anos antes da apresentação clínica destaca um papel potencial do exame de imagem da retina2 para estratificação de risco da doença de Parkinson1.

Veja também sobre "Manifestações oculares de doenças sistêmicas".

 

Fontes:
Neurology, publicação em 21 de agosto de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 22 de agosto de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Alterações na retina surgem anos antes da doença de Parkinson. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1444115/alteracoes-na-retina-surgem-anos-antes-da-doenca-de-parkinson.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.

Complementos

1 Doença de Parkinson: Doença degenerativa que afeta uma região específica do cérebro (gânglios da base), e caracteriza-se por tremores em repouso, rigidez ao realizar movimentos, falta de expressão facial e, em casos avançados, demência. Os sintomas podem ser aliviados por medicamentos adequados, mas ainda não se conhece, até o momento, uma cura definitiva.
2 Retina: Parte do olho responsável pela formação de imagens. É como uma tela onde se projetam as imagens: retém as imagens e as traduz para o cérebro através de impulsos elétricos enviados pelo nervo óptico. Possui duas partes: a retina periférica e a mácula.
3 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
4 Incidente: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
5 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
6 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
7 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
8 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
9 Neurônios: Unidades celulares básicas do tecido nervoso. Cada neurônio é formado por corpo, axônio e dendritos. Sua função é receber, conduzir e transmitir impulsos no SISTEMA NERVOSO. Sinônimos: Células Nervosas
10 Sistema Nervoso Central: Principais órgãos processadores de informação do sistema nervoso, compreendendo cérebro, medula espinhal e meninges.
11 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
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