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Lesão da medula espinhal pode suprimir a função imunológica

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Observações anteriores de que pacientes com lesões1 na medula espinhal2 são propensos a desenvolver infecções3 podem agora ter uma explicação.

Os biomarcadores da atividade imune ficaram deprimidos por pelo menos 2 semanas após a lesão4 da medula espinhal2 (LME), pesquisadores descobriram em um estudo prospectivo5, publicado na revista Brain, de 70 pacientes com LME e 41 controles com fraturas vertebrais, mas medula espinhal2 intacta.

Além disso, de acordo com Jan M. Schwab, MD, PhD, da Ohio State University em Columbus, e colegas, o grau de supressão imunológica se correlacionou com a gravidade e localização das LMEs.

“Pacientes com lesão4 da medula espinhal2 podem adquirir uma síndrome6 de imunodeficiência7 neurogênica secundária, caracterizada por expressão reduzida de mHLA-DR (antígeno8 leucocitário humano DR monocítico) e hipogamaglobulinemia relativa (deficiência imunológica celular e humoral9 combinadas)”, concluíram Schwab e colegas.

Saiba mais sobre "Lesões1 da medula espinhal2" e "Imunossupressão10 e imunodepressão".

As explicações para o aumento do risco de infecção11 postulando desregulação autonômica e imunossupressão10 já haviam sido avançadas antes, observou o grupo. No entanto, esses mecanismos não foram quantificados e como a função do anticorpo12 pode ser afetada não foi abordado.

“Para determinar ambos, é necessário separar um nível de lesão4 neurogênica e síndrome6 de imunodeficiência7 relacionada a lesão4 medular dependente de gravidade de uma síndrome6 pós-agressão inespecífica relacionada a trauma que espelha uma resposta generalizada ao estresse”, explicaram Schwab e seus colegas.

Para fazer isso, o grupo iniciou o novo estudo, chamado SCIentinel, há quase 15 anos, com o objetivo de rastrear pacientes com LME estratificados por localização e gravidade da lesão4, juntamente com um grupo de controle com lesões1 traumáticas que não fossem LME.

No artigo publicado, os pesquisadores relatam os resultados do estudo SCIentinel apontando para a síndrome6 de imunodeficiência7 induzida por lesão4 medular.

Eles contextualizam que as infecções3 são prevalentes após a lesão4 da medula espinhal2 (LME), constituem a principal causa de morte e são um fator de confusão na reabilitação associado à recuperação prejudicada.

A hipótese é que a LME causa uma supressão imune dependente de lesão4 adquirida (neurogênica) como um mecanismo subjacente para facilitar infecções3.

O estudo de coorte13 multicêntrico prospectivo5 internacional (SCIentinel; n = 111 pacientes) foi projetado para distinguir efeitos neurogênicos de efeitos gerais relacionados ao trauma no sistema imunológico14. Portanto, grupos de pacientes com LME diferenciados por nível neurológico, ou seja, LME alta (torácica [Th]4 ou superior); LME baixa (Th5 ou inferior) e gravidade (LME completa; LME incompleta), foram comparados com um grupo de referência de pacientes com fratura15 vertebral (FV) sem LME.

O desfecho primário foi a expressão quantitativa do Antígeno8 Leucocitário Humano DR monocítico (mHLA-DR, sinônimo MHC II), um marcador validado para supressão imunológica em pacientes criticamente enfermos associado à suscetibilidade à infecção11. O mHLA-DR foi avaliado desde o dia 1 até 10 semanas após a lesão4 por meio da aplicação de procedimentos padronizados de citometria de fluxo.

Os desfechos secundários foram contagens de subpopulações de leucócitos16, níveis séricos de imunoglobulina17 e infecções3 clinicamente definidas. Modelos lineares mistos com imputação múltipla foram aplicados para avaliar diferenças de grupo de parâmetros de transformação logarítmica.

Os níveis quantitativos médios de mHLA-DR (anticorpos18/célula19) no desfecho primário 84h após a lesão4 indicaram um estado imunossupressor20 abaixo dos valores normativos de 9,62 em todos os grupos, que diferiram ainda mais em sua dimensão por nível neurológico: LME alta (8,95 [intervalo de confiança de 98,3%: 8,63; 9,26], n = 41), LME baixa (9,05 [IC 98,3%: 8,73; 9,36], n = 29) e FV sem LME (9,25 [IC 98,3%: 8,97; 9,53], n = 41, P = 0,003).

A análise post hoc contabilizando a gravidade da LME revelou a diminuição mais forte de mHLA-DR (8,79 [IC 95%: 8,50; 9,08]) no grupo de LME alta completa, demonstrando ainda mais a recuperação atrasada de mHLA-DR (9,08 [IC 95%: 8,82; 9,38]) e mostrando uma diferença dos controles de FV de -0,43 (IC 95%: -0,66; -0,20) em 14 dias.

Pacientes com LME alta completa também revelaram níveis séricos constantemente mais baixos de imunoglobulina17 G (-0,27 [IC 95%: -0,45; -0,10]) e imunoglobulina17 A (-0,25 [IC 95%: -0,49; -0,01]) (g/l × 1000) até 10 semanas após a lesão4.

Baixos níveis de mHLA-DR na faixa de imunoparalisia limítrofe (abaixo de 9,21) foram positivamente associados à ocorrência e início precoce de infecções3, o que é consistente com os resultados de estudos sobre acidente vascular cerebral21 ou cirurgia de grande porte.

O estudo concluiu que pacientes com lesão4 da medula espinhal2 podem adquirir uma síndrome6 de imunodeficiência7 neurogênica secundária, caracterizada por expressão reduzida de mHLA-DR e hipogamaglobulinemia relativa (deficiência imunológica celular e humoral9 combinadas).

A expressão de mHLA-DR fornece uma base para estratificar o risco de infecção11 em pacientes com lesão4 medular.

Leia sobre "Conhecendo o sistema imunológico14", "Infecções3 oportunistas" e "Antígenos22 e anticorpos18 - o que são".

 

Fontes:
Brain, publicação em 28 de junho de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 05 de julho de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Lesão da medula espinhal pode suprimir a função imunológica. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1441740/lesao-da-medula-espinhal-pode-suprimir-a-funcao-imunologica.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.

Complementos

1 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
2 Medula Espinhal:
3 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
4 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
5 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
6 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
7 Imunodeficiência: Distúrbio do sistema imunológico que se caracteriza por um defeito congênito ou adquirido em um ou vários mecanismos que interferem na defesa normal de um indivíduo perante infecções ou doenças tumorais.
8 Antígeno: 1. Partícula ou molécula capaz de deflagrar a produção de anticorpo específico. 2. Substância que, introduzida no organismo, provoca a formação de anticorpo.
9 Humoral: 1. Relativo a humor. 2. Em fisiologia, relativo a ou próprio do conjunto de líquidos do organismo (sangue, linfa, líquido cefalorraquidiano).
10 Imunossupressão: Supressão das reações imunitárias do organismo, induzida por medicamentos (corticosteroides, ciclosporina A, etc.) ou agentes imunoterápicos (anticorpos monoclonais, por exemplo); que é utilizada em alergias, doenças autoimunes, etc. A imunossupressão é impropriamente tomada por alguns como sinônimo de imunodepressão.
11 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
12 Anticorpo: Proteína circulante liberada pelos linfócitos em reação à presença no organismo de uma substância estranha (antígeno).
13 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
14 Sistema imunológico: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
15 Fratura: Solução de continuidade de um osso. Em geral é produzida por um traumatismo, mesmo que possa ser produzida na ausência do mesmo (fratura patológica). Produz como sintomas dor, mobilidade anormal e ruídos (crepitação) na região afetada.
16 Leucócitos: Células sangüíneas brancas. Compreendem tanto os leucócitos granulócitos (BASÓFILOS, EOSINÓFILOS e NEUTRÓFILOS) como os não granulócitos (LINFÓCITOS e MONÓCITOS). Sinônimos: Células Brancas do Sangue; Corpúsculos Sanguíneos Brancos; Corpúsculos Brancos Sanguíneos; Corpúsculos Brancos do Sangue; Células Sanguíneas Brancas
17 Imunoglobulina: Proteína do soro sanguíneo, sintetizada pelos plasmócitos provenientes dos linfócitos B como reação à entrada de uma substância estranha (antígeno) no organismo; anticorpo.
18 Anticorpos: Proteínas produzidas pelo organismo para se proteger de substâncias estranhas como bactérias ou vírus. As pessoas que têm diabetes tipo 1 produzem anticorpos que destroem as células beta produtoras de insulina do próprio organismo.
19 Célula: Unidade funcional básica de todo tecido, capaz de se duplicar (porém algumas células muito especializadas, como os neurônios, não conseguem se duplicar), trocar substâncias com o meio externo à célula, etc. Possui subestruturas (organelas) distintas como núcleo, parede celular, membrana celular, mitocôndrias, etc. que são as responsáveis pela sobrevivência da mesma.
20 Imunossupressor: Medicamento que suprime a resposta imune natural do organismo. Os imunossupressores são dados aos pacientes transplantados para evitar a rejeição de órgãos ou para pacientes com doenças autoimunes.
21 Acidente vascular cerebral: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
22 Antígenos: 1. Partículas ou moléculas capazes de deflagrar a produção de anticorpo específico. 2. Substâncias que, introduzidas no organismo, provocam a formação de anticorpo.
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