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Remédio para leucemia se mostra promissor no tratamento do câncer de mama quando ele se espalha

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Um medicamento que é comumente usado para tratar a leucemia1 mieloide crônica impediu que o tipo mais comum de células2 de câncer3 de mama4 se dividisse depois que elas se espalharam para os pulmões5 em camundongos, de acordo com um estudo publicado na revista Nature Cancer3.

O medicamento pode causar efeitos colaterais6, no entanto, e não há como dizer quem corre mais risco de ver seu câncer3 de mama4 se espalhar, o que pode limitar o uso do tratamento como medida preventiva para o câncer3 secundário.

Frances Turrell, do Institute of Cancer3 Research, no Reino Unido, e seus colegas induziram câncer3 de mama4 positivo para receptor de estrogênio (ER+) em camundongos. Este é o tipo mais comum de câncer3 de mama4 em humanos, representando até 80% dos casos, e geralmente ocorre em pessoas com mais de 50 anos.

O câncer3 de mama4 ER+ frequentemente recorre vários anos após o tratamento aparentemente bem-sucedido. Isso ocorre porque as células2 podem se mover para outros locais do corpo antes do tratamento e não podem ser detectadas antes do início da terapia, diz Turrell. “Essas células2 permanecem essencialmente adormecidas e então algo pode acioná-las para despertá-las.”

Saiba mais sobre "Câncer3 de mama4", "Metástases7" e "Leucemias".

Para saber mais, os pesquisadores deram a camundongos jovens (com idades entre 8 e 10 semanas) e camundongos mais velhos (com idades entre 9 e 18 meses) câncer3 de mama4 ER+ positivo. Os camundongos, todos fêmeas, não foram tratados para esses tumores. Entre duas e cinco semanas depois, quase todos tinham células2 cancerígenas em locais secundários.

Nos camundongos jovens, essas células2 cancerígenas secundárias não se dividiram em tumores, enquanto nos camundongos mais velhos as células2 eram mais propensas a se desenvolver em tumores, que cresciam principalmente nos pulmões5 dos animais.

Os pesquisadores descobriram então que o crescimento do tumor8 nos camundongos mais velhos estava ligado a um aumento no fator de crescimento PDGF-C (fator de crescimento C derivado de plaquetas9) nos pulmões5, que ocorreu menos nos camundongos mais jovens.

Tanto em pessoas quanto em camundongos, os níveis de PDGF-C aumentam nos pulmões5 com a idade, o que pode desencadear um ambiente que estimula a divisão das células2 cancerígenas secundárias, diz Turrell.

De acordo com Clare Isacke, do Institute of Cancer3 Research, níveis mais altos de PDGF-C podem estar relacionados a um sistema imunológico10 enfraquecido.

Em outra parte do experimento, os pesquisadores bloquearam parcialmente o crescimento do tumor8 nos camundongos mais velhos depois que as células2 cancerígenas se espalharam para os pulmões5 dos animais. Isso foi feito inibindo o PDGF-C usando o medicamento imatinibe, que é amplamente administrado a pessoas com leucemia1 mieloide crônica.

O imatinibe inibiu a taxa de crescimento dos tumores secundários dos camundongos, mas algumas lesões11 ainda se formaram, diz Turrell.

Embora isso possa ter potencial para uso em pessoas, não há como prever qual tipo de câncer3 de mama4 ER+ pode recorrer posteriormente em outras partes do corpo, diz ela.

O imatinibe tem efeitos colaterais6, como dor de estômago12 e fadiga13. “Você não quer tratar alguém que não vai realmente ter uma recaída”, diz Isacke.

Os pesquisadores agora planejam repetir esse experimento em camundongos usando um medicamento que tem um efeito mais direcionado nos níveis de PDGF-C.

Suzanne Wardell, da Duke University, Estados Unidos, diz que o estudo destaca a necessidade de entender melhor os fatores ambientais no corpo que causam o crescimento de um tumor8 secundário. “É necessário mais trabalho para determinar a aplicabilidade geral das descobertas ao tratamento do câncer3 humano”, diz ela.

No artigo os pesquisadores relatam que alterações microambientais associadas à idade destacam o papel do PDGF-C na recidiva14 metastática do câncer3 de mama4 ER+.

Eles contextualizam que pacientes com câncer3 de mama4 positivo para receptor de estrogênio (ER+) correm o risco de recidiva14 metastática por décadas após a ressecção e tratamento do tumor8 primário, uma consequência do despertar de células2 tumorais disseminadas (CTDs) dormentes em locais secundários.

Neste estudo, usou-se modelos de camundongos ER+ singênicos nos quais as CTDs exibem um fenótipo15 dormente em camundongos jovens, mas crescimento metastático acelerado em um microambiente envelhecido ou fibrótico.

Em camundongos jovens, a expressão de Pdgfc de baixo nível por CTDs ER+ é necessária para sua manutenção em locais secundários, mas é insuficiente para apoiar o desenvolvimento de macrometástases.

Por outro lado, o ambiente de alto fator de crescimento C derivado de plaquetas9 (PDGF-C) de pulmões5 envelhecidos ou fibróticos promove a proliferação da CTD e regula positivamente a expressão de Pdgfc de células2 tumorais, estimulando uma ativação estromal adicional, eventos que podem ser bloqueados pela inibição farmacológica de PDGFRα ou com um anticorpo16 bloqueador de PDGF-C.

Esses resultados destacam o papel do microambiente em mudança na regulação do crescimento da célula17 tumoral disseminada e a oportunidade de direcionar a sinalização do PDGF-C para limitar a recidiva14 metastática no câncer3 de mama4 ER+.

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Fontes:
Nature Cancer3, publicação em 13 de março de 2023.
New Scientist, notícia publicada em 13 de março de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Remédio para leucemia se mostra promissor no tratamento do câncer de mama quando ele se espalha. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1435460/remedio-para-leucemia-se-mostra-promissor-no-tratamento-do-cancer-de-mama-quando-ele-se-espalha.htm>. Acesso em: 24 abr. 2024.

Complementos

1 Leucemia: Doença maligna caracterizada pela proliferação anormal de elementos celulares que originam os glóbulos brancos (leucócitos). Como resultado, produz-se a substituição do tecido normal por células cancerosas, com conseqüente diminuição da capacidade imunológica, anemia, distúrbios da função plaquetária, etc.
2 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
3 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
4 Mama: Em humanos, uma das regiões pareadas na porção anterior do TÓRAX. As mamas consistem das GLÂNDULAS MAMÁRIAS, PELE, MÚSCULOS, TECIDO ADIPOSO e os TECIDOS CONJUNTIVOS.
5 Pulmões: Órgãos do sistema respiratório situados na cavidade torácica e responsáveis pelas trocas gasosas entre o ambiente e o sangue. São em número de dois, possuem forma piramidal, têm consistência esponjosa e medem cerca de 25 cm de comprimento. Os pulmões humanos são divididos em segmentos denominados lobos. O pulmão esquerdo possui dois lobos e o direito possui três. Os pulmões são compostos de brônquios que se dividem em bronquíolos e alvéolos pulmonares. Nos alvéolos se dão as trocas gasosas ou hematose pulmonar entre o meio ambiente e o corpo, com a entrada de oxigênio na hemoglobina do sangue (formando a oxiemoglobina) e saída do gás carbônico ou dióxido de carbono (que vem da célula como carboemoglobina) dos capilares para o alvéolo.
6 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
7 Metástases: Formação de tecido tumoral, localizada em um lugar distante do sítio de origem. Por exemplo, pode se formar uma metástase no cérebro originário de um câncer no pulmão. Sua gravidade depende da localização e da resposta ao tratamento instaurado.
8 Tumor: Termo que literalmente significa massa ou formação de tecido. É utilizado em geral para referir-se a uma formação neoplásica.
9 Plaquetas: Elemento do sangue (não é uma célula porque não apresenta núcleo) produzido na medula óssea, cuja principal função é participar da coagulação do sangue através da formação de conglomerados que tamponam o escape do sangue por uma lesão em um vaso sangüíneo.
10 Sistema imunológico: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
11 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
12 Estômago: Órgão da digestão, localizado no quadrante superior esquerdo do abdome, entre o final do ESÔFAGO e o início do DUODENO.
13 Fadiga: 1. Sensação de enfraquecimento resultante de esforço físico. 2. Trabalho cansativo. 3. Redução gradual da resistência de um material ou da sensibilidade de um equipamento devido ao uso continuado.
14 Recidiva: 1. Em medicina, é o reaparecimento de uma doença ou de um sintoma, após período de cura mais ou menos longo; recorrência. 2. Em direito penal, significa recaída na mesma falta, no mesmo crime; reincidência.
15 Fenótipo: Características apresentadas por um indivíduo sejam elas morfológicas, fisiológicas ou comportamentais. Também fazem parte do fenótipo as características microscópicas e de natureza bioquímica, que necessitam de testes especiais para a sua identificação, como, por exemplo, o tipo sanguíneo do indivíduo.
16 Anticorpo: Proteína circulante liberada pelos linfócitos em reação à presença no organismo de uma substância estranha (antígeno).
17 Célula: Unidade funcional básica de todo tecido, capaz de se duplicar (porém algumas células muito especializadas, como os neurônios, não conseguem se duplicar), trocar substâncias com o meio externo à célula, etc. Possui subestruturas (organelas) distintas como núcleo, parede celular, membrana celular, mitocôndrias, etc. que são as responsáveis pela sobrevivência da mesma.
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