O ato de habitualmente morder a boca está frequentemente associado ao estresse e à ansiedade
O hábito compulsivo de morder a boca1, tanto os lábios quanto a parte interna da bochecha2, é denominado “Morsicatio buccarum”, e é muito mais comum do que se imagina. Ele é um comportamento compulsivo semelhante à dermatilomania, em que os sofredores cutucam a pele3, e à tricotilomania, em que as pessoas arrancam seus cabelos.
Classificado como um comportamento repetitivo focado no corpo, o hábito é considerado mais comum entre aqueles que lidam com estresse ou ansiedade, com o processo frequentemente “iniciado ou influenciado por estados emocionais”.
Embora afete apenas 750 em cada 1 milhão de pessoas, o hábito de morder a boca1 e/ou a bochecha2 é considerado mais comum em mulheres, o que se alinha com dados que mostram que as mulheres têm duas vezes mais chances de ter um transtorno de ansiedade do que os homens.
Esse hábito normalmente ocorre em momentos de estresse justamente porque o ato de mastigar é capaz de aliviar o estresse. Estudos com ratos e cachorros mostram, inclusive, uma queda de cortisol quando se oferece algo para o animal mastigar.
Porém, mastigar a boca1 ou algum objeto (como a tampa da caneta) compulsivamente não é inofensivo e pode levar a machucados e úlceras4 orais.
Leia sobre "Transtorno de ansiedade", "Transtorno obsessivo compulsivo" e "Estresse: como melhorar".
Em um estudo publicado na revista BioMed Research International, os pesquisadores investigaram a mastigação como um comportamento de enfrentamento do estresse.
Eles relatam que a exposição ao estresse crônico5 induz vários efeitos físicos e mentais que podem levar à doença. E as doenças relacionadas ao estresse tornaram-se um problema de saúde6 global.
A mastigação é um comportamento eficaz no enfrentamento do estresse, provavelmente devido às alterações que a mastigação provoca na atividade do eixo hipotálamo7-hipófise8-adrenal e do sistema nervoso autônomo9.
A mastigação sob condições estressantes atenua os aumentos induzidos pelo estresse na corticosterona plasmática e nas catecolaminas, bem como a expressão de substâncias relacionadas ao estresse, como fatores neurotróficos e óxido nítrico.
Além disso, a mastigação reduz as alterações induzidas pelo estresse na morfologia do sistema nervoso central10, especialmente no hipocampo11 e no hipotálamo7.
Em roedores, mastigar ou morder varas de madeira durante a exposição a vários estressores12 reduz a formação de úlcera gástrica13 induzida pelo estresse e atenua a disfunção cognitiva14 espacial, o comportamento semelhante à ansiedade e a perda óssea.
Em humanos, alguns estudos demonstram que mascar chiclete durante a exposição ao estresse diminui os níveis de cortisol plasmático e salivar e reduz o estresse mental, embora outros estudos não relatem tal efeito.
Fonte: BioMed Research International, publicação em 18 de maio de 2015.