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Estudo aponta ligações genéticas entre endometriose e distúrbios psiquiátricos

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A endometriose1 foi associada a vários transtornos psiquiátricos por meio de mecanismos genéticos e fenotípicos2, mesmo após levar em conta várias comorbidades3, incluindo dor crônica, de acordo com um estudo de associação genética.

Uma análise de regressão multivariada de mais de 200.000 mulheres descobriu que a endometriose1 estava associada à depressão, ansiedade e transtornos alimentares por meio de um mecanismo pleiotrópico, mesmo após considerar idade, índice de massa corporal4, status socioeconômico e fenótipos relacionados à dor crônica, relataram Dora Koller, PhD, da Yale School of Medicine e do Veterans Affairs Connecticut Healthcare Center, e colegas.

Conforme mostrado em seu estudo no JAMA Network Open, a endometriose1 foi associada ao aumento das chances de depressão, transtornos alimentares e ansiedade.

Uma randomização mendeliana de uma amostra mostrou que as disposições genéticas para depressão e ansiedade, embora não para transtornos alimentares, foram associadas a maiores chances de endometriose1.

“O principal argumento é que encontramos evidências genéticas e epidemiológicas de que a endometriose1 não afeta apenas a saúde5 física, mas também a saúde5 mental, e a dor crônica não é o único fator que explica essa associação”, disse Koller.

“Espera-se que a dor crônica cause depressão, ansiedade e transtornos alimentares, mas sabemos que não é só por causa disso”, disse Koller. “Existem alguns mecanismos biológicos que são causais, provavelmente tanto para a endometriose1 quanto para as condições de saúde5 mental”.

Saiba mais sobre "Endometriose1", "Dor crônica" e "Genética - conceitos básicos".

O co-autor Renato Polimanti, PhD, também da Yale School of Medicine e do VA Connecticut Healthcare Center, observou que os resultados reforçam a natureza complexa da endometriose1 e suas associações com distúrbios de saúde5 mental, bem como outras comorbidades3, como dor crônica.

“Uma coisa que esperamos com este estudo é acrescentar ao conhecimento sobre a complexidade da endometriose1 do ponto de vista da saúde5 mental, mas também destacar que a endometriose1 é, infelizmente, uma doença muito comum”, disse Polimanti, acrescentando que cerca de 10% das mulheres em todo o mundo desenvolvem a condição.

No artigo, os pesquisadores relatam as associações epidemiológicas e genéticas da endometriose1 com depressão, ansiedade e transtornos alimentares.

Eles contextualizam que a endometriose1 é uma patologia6 ginecológica crônica comum com grande impacto negativo na saúde5 da mulher. Além dos sintomas7 físicos graves, a endometriose1 também está associada a várias comorbidades3 psiquiátricas, incluindo depressão e ansiedade.

O objetivo do presente estudo foi investigar se a pleiotropia contribui para a associação da endometriose1 com depressão, ansiedade e transtornos alimentares.

Este estudo de associação genética foi realizado entre 13 de setembro de 2021 e 24 de junho de 2022, em 202.276 mulheres não aparentadas. Informações genotípicas e fenotípicas8 do U.K. Biobank foram combinadas com estatísticas de associação do genoma disponíveis no Psychiatric Genomics Consortium (11 países), no Million Veteran Program (EUA), no FinnGen study (Finlândia) e no consórcio CHARGE (Cohorts for Heart and Aging Research in Genomic Epidemiology) (5 países).

Os principais resultados foram as associações fenotípicas8 e genéticas da endometriose1 com ansiedade, depressão e transtornos alimentares.

Um total de 8.276 mulheres com endometriose1 (idade média [DP], 53,1 [7,9] anos) e 194.000 mulheres controles (idade média [DP], 56,7 [7,9] anos) foram incluídas no estudo.

Em uma análise de regressão multivariada considerando idade, índice de massa corporal4, status socioeconômico, fenótipos relacionados à dor crônica, síndrome9 do intestino irritável e comorbidades3 psiquiátricas, a endometriose1 foi associada ao aumento da probabilidade de depressão (odds ratio [OR], 3,61; IC 95%, 3,32-3,92), transtornos alimentares (OR, 2,94; IC 95%, 1,96-4,41) e ansiedade (OR, 2,61; IC 95%, 2,30-2,97).

Essas associações foram apoiadas por correlações genéticas (rg) consistentes (depressão rg, 0,36, P = 1,5 × 10-9; ansiedade rg, 0,33, P = 1,17 × 10-5; e transtornos alimentares rg, 0,61, P = 0,02).

Com a aplicação de uma randomização mendeliana de uma amostra, as disposições genéticas para depressão e ansiedade foram associadas ao aumento das chances de endometriose1 (depressão: OR, 1,09; IC 95%, 1,08-1,11; ansiedade: OR, 1,39; IC 95%, 1,13-1.65).

Uma análise de todo o genoma de associações pleiotrópicas compartilhadas entre endometriose1 e transtornos psiquiátricos identificou um locus, DGKB rs12666606, com evidência de pleiotropia entre endometriose1 e depressão após correção de testes múltiplos (z = -9,46 para endometriose1, z = 8,10 para depressão, P = 5,56 × 10-8; taxa de descoberta falsa q = 4,95 × 10-4).

Esses achados destacam que a endometriose1 está associada à saúde5 mental das mulheres por meio de mecanismos pleiotrópicos. Até onde se sabe, este é o primeiro estudo em larga escala a fornecer evidências genéticas e fenotípicas8 dos processos subjacentes às comorbidades3 psiquiátricas da endometriose1.

Leia sobre "Principais transtornos mentais", "Depressão em mulheres" e "Transtornos alimentares".

 

Fontes:
JAMA Network Open, publicação em 18 de janeiro de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 18 de janeiro de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Estudo aponta ligações genéticas entre endometriose e distúrbios psiquiátricos. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1432670/estudo-aponta-ligacoes-geneticas-entre-endometriose-e-disturbios-psiquiatricos.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.

Complementos

1 Endometriose: Doença que acomete as mulheres em idade reprodutiva e consiste na presença de endométrio em locais fora do útero. Endométrio é a camada interna do útero que é renovada mensalmente pela menstruação. Os locais mais comuns da endometriose são: Fundo de Saco de Douglas (atrás do útero), septo reto-vaginal (tecido entre a vagina e o reto ), trompas, ovários, superfície do reto, ligamentos do útero, bexiga e parede da pélvis.
2 Fenotípicos: Referente a fenótipo, ou seja, à manifestação visível ou detectável de um genótipo. Características físicas, morfológicas e fisiológicas do organismo.
3 Comorbidades: Coexistência de transtornos ou doenças.
4 Índice de massa corporal: Medida usada para avaliar se uma pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. É a medida mais usada na prática para saber se você é considerado obeso ou não. Também conhecido como IMC. É calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Existe uma tabela da Organização Mundial de Saúde que classifica as medidas de acordo com o resultado encontrado.
5 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
6 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
7 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
8 Fenotípicas: Referente a fenótipo, ou seja, à manifestação visível ou detectável de um genótipo. Características físicas, morfológicas e fisiológicas do organismo.
9 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
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