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Aspirina diária não ajuda na prevenção de fraturas em idosos e aumenta o risco de quedas graves em 17%

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A aspirina em baixa dose não reduziu os riscos de fratura1 em idosos saudáveis, mas foi associada a um risco aumentado de quedas graves, mostrou um subestudo do estudo randomizado2 ASPREE.

Durante um acompanhamento médio de 4,6 anos, não houve diferença no risco de primeira fratura1 entre os participantes que tomavam aspirina 100 mg por dia e os que tomavam placebo3, mas a aspirina foi associada a um maior risco de quedas graves, que foram 17% mais frequentes, relataram Anna L. Barker, PhD, da Monash University em Melbourne, Austrália, e co-autores.

Os resultados não mudaram após o ajuste para covariáveis conhecidas por influenciar o risco de fratura1 e queda, observaram os pesquisadores no artigo publicado no JAMA Internal Medicine.

“Esta descoberta se soma às evidências do ensaio principal ASPREE, que mostrou que, entre esses participantes, o uso de aspirina em baixa dose não conferiu qualquer vantagem em termos de sobrevida4 livre de incapacidade (um composto que integrou os riscos e benefícios da aspirina)”,

eles escreveram.

“O aumento de quedas graves observadas entre aqueles randomizados para aspirina não foi antecipado e pode ter resultado de uma maior tendência a quedas ou de lesões5 não fraturantes mais substanciais sofridas como consequência de queda”, observaram. “A hipótese original era de que a aspirina poderia diminuir as quedas, retardando o declínio físico, reduzindo os eventos cardiovasculares e cerebrovasculares por meio de efeitos antiplaquetários e/ou reduzindo o declínio cognitivo6, protegendo contra a doença de Alzheimer7 e/ou demência8 vascular9 – fatores de risco de queda bem conhecidos”.

As quedas representam 95% das fraturas de quadril e cerca de 80% das apresentações hospitalares e mortes relacionadas a lesões5 cerebrais traumáticas em idosos, disseram Barker e co-autores, acrescentando que “o fardo de quedas e fraturas provavelmente aumentará com o envelhecimento da população pois os riscos de quedas e fraturas aumentam exponencialmente com a idade.”

Saiba mais sobre "Queda em idosos", "Queda da própria altura" e "Fratura1 óssea".

Uma razão para a falta de redução nos riscos de queda observada no grupo de tratamento pode estar relacionada à semelhante falta de efeito protetor da aspirina contra a deterioração cognitiva10, eles sugeriram, apontando para descobertas recentes de outra análise do ASPREE, que mostrou que a aspirina em baixa dose diária não reduziu os riscos de demência8, comprometimento cognitivo6 leve ou declínio cognitivo6.

No artigo, os pesquisadores contextualizam que quedas e fraturas são frequentes e deletérias à saúde11 dos idosos. Foi relatado que a aspirina reduz a fragilidade óssea e retarda a perda óssea.

O objetivo, portanto, foi determinar se uma dose baixa diária de aspirina (100 mg) reduz o risco de fraturas ou quedas graves (apresentações hospitalares relacionadas a quedas) em homens e mulheres idosos saudáveis.

Este subestudo de um estudo duplo-cego12, randomizado13 e controlado por placebo3 estudou homens e mulheres idosos em 16 locais importantes no sudeste da Austrália. O subestudo ASPREE-FRACTURE foi conduzido como parte do componente australiano do estudo ASPREE.

Entre 2010 e 2014, voluntários saudáveis (livres de doenças cardiovasculares14, demência8 ou deficiência física) residentes na comunidade com 70 anos ou mais foram recrutados para participar do estudo ASPREE. Os participantes potencialmente elegíveis foram identificados por médicos e pessoal do estudo e, em seguida, receberam uma carta de convite para participar.

Os participantes interessados foram selecionados para adequação. Os participantes elegíveis com autorização do médico e aderentes a um teste run-in da medicação de 4 semanas foram randomizados. Os dados foram analisados de 17 de outubro de 2019 a 31 de agosto de 2022.

Os participantes do grupo de intervenção receberam uma dose diária de 100 mg de aspirina com revestimento entérico (baixa dose). O grupo de controle recebeu diariamente um comprimido de placebo3 com revestimento entérico idêntico.

O desfecho primário do ASPREE-FRACTURE foi a ocorrência de qualquer fratura1. O desfecho secundário foi queda grave resultando em internação hospitalar.

No total, foram recrutadas 16.703 pessoas com idade mediana (IQR) de 74 (72-78) anos, sendo 9.179 (55,0%) mulheres. Houve 8.322 participantes de intervenção e 8.381 participantes de controle incluídos na análise de resultados primário e secundário de 2.865 fraturas e 1.688 quedas graves durante o acompanhamento médio de 4,6 anos.

Embora não houvesse diferença no risco de primeira fratura1 entre os participantes da intervenção e do controle (taxa de risco, 0,97; IC 95%, 0,87-1,06; P = 0,50), a aspirina foi associada a um risco maior de quedas graves (total de quedas 884 vs 804; razão da taxa de incidência15, 1,17; IC 95%, 1,03-1,33; P = 0,01).

Os resultados permaneceram inalterados nas análises ajustadas para covariáveis conhecidas por influenciar o risco de fratura1 e queda.

Neste subestudo de um ensaio clínico randomizado13, a falha da aspirina em baixa dose em reduzir o risco de fraturas enquanto aumenta o risco de quedas graves aumenta a evidência de que esse agente oferece poucos benefícios favoráveis em uma população saudável de idosos brancos.

Leia sobre "Fratura1 do colo do fêmur16" e "Osteoporose17".

 

Fontes:
JAMA Internal Medicine, publicação em 07 de novembro de 2022.
MedPage Today, notícia publicada em 07 de novembro de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Aspirina diária não ajuda na prevenção de fraturas em idosos e aumenta o risco de quedas graves em 17%. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1429375/aspirina-diaria-nao-ajuda-na-prevencao-de-fraturas-em-idosos-e-aumenta-o-risco-de-quedas-graves-em-17.htm>. Acesso em: 18 abr. 2024.

Complementos

1 Fratura: Solução de continuidade de um osso. Em geral é produzida por um traumatismo, mesmo que possa ser produzida na ausência do mesmo (fratura patológica). Produz como sintomas dor, mobilidade anormal e ruídos (crepitação) na região afetada.
2 Estudo randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle - o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
3 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
4 Sobrevida: Prolongamento da vida além de certo limite; prolongamento da existência além da morte, vida futura.
5 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
6 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
7 Doença de Alzheimer: É uma doença progressiva, de causa e tratamentos ainda desconhecidos que acomete preferencialmente as pessoas idosas. É uma forma de demência. No início há pequenos esquecimentos, vistos pelos familiares como parte do processo normal de envelhecimento, que se vão agravando gradualmente. Os pacientes tornam-se confusos e por vezes agressivos, passando a apresentar alterações da personalidade, com distúrbios de conduta e acabam por não reconhecer os próprios familiares e até a si mesmos quando colocados frente a um espelho. Tornam-se cada vez mais dependentes de terceiros, iniciam-se as dificuldades de locomoção, a comunicação inviabiliza-se e passam a necessitar de cuidados e supervisão integral, até mesmo para as atividades elementares como alimentação, higiene, vestuário, etc..
8 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
9 Vascular: Relativo aos vasos sanguíneos do organismo.
10 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
11 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
12 Estudo duplo-cego: Denominamos um estudo clínico “duplo cego†quando tanto voluntários quanto pesquisadores desconhecem a qual grupo de tratamento do estudo os voluntários foram designados. Denominamos um estudo clínico de “simples cego†quando apenas os voluntários desconhecem o grupo ao qual pertencem no estudo.
13 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
14 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
15 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
16 Colo do Fêmur: Porção comprimida do osso da coxa entre cabeça do fêmur e trocanter.
17 Osteoporose: Doença óssea caracterizada pela diminuição da formação de matriz óssea que predispõe a pessoa a sofrer fraturas com traumatismos mínimos ou mesmo na ausência deles. É influenciada por hormônios, sendo comum nas mulheres pós-menopausa. A terapia de reposição hormonal, que administra estrógenos a mulheres que não mais o produzem, tem como um dos seus objetivos minimizar esta doença.
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