Consumo de cafeína na gravidez influencia a altura da criança
O consumo materno de cafeína está associado ao crescimento infantil1 e essas associações estão presentes em grupos de baixo consumo?
Segundo um novo estudo, publicado no JAMA Network Open, crianças cujas mães consumiram produtos contendo cafeína em taxas bem acima da média durante a gravidez2 acabaram sendo mais baixas do que filhos de mulheres com menor ingestão de cafeína.
Em duas coortes acompanhadas prospectivamente, com cerca de 2.400 crianças no total, os filhos de mulheres com o maior consumo tiveram em média 1,5 a 2,2 cm a menos nas idades de 7 a 8 anos.
Houve também uma relação inversa, mas mais fraca, envolvendo o peso das crianças, e nenhuma ligação clara com os valores do índice de massa corporal3 (IMC4).
Os pesquisadores alertaram contra a conclusão precipitada de que as futuras mamães devem cortar o café da manhã. “A implicação clínica dessa diferença de altura não é clara e merece investigação futura”, escreveram eles, e o estudo não corroborou sugestões anteriores de que a exposição fetal à cafeína aumenta o risco de obesidade5 subsequente.
Ao mesmo tempo, no entanto, os pesquisadores notaram que a “diferença de altura de aproximadamente 2 cm” é semelhante à encontrada em estudos anteriores de tabagismo materno na gravidez2, que é ativamente desencorajado nas diretrizes oficiais (embora por muitas razões, não apenas por efeitos no crescimento das crianças).
Leia sobre "Usos e abusos da cafeína", "Crescimento infantil1" e "Dieta saudável na gravidez2".
No artigo, os pesquisadores contextualizam que o maior consumo de cafeína na gravidez2 está associado à redução do tamanho ao nascer, mas as associações potenciais com o crescimento na infância não são claras.
O objetivo, portanto, foi avaliar as associações das medidas de cafeína e paraxantina na gravidez2 com o crescimento infantil1 em uma coorte6 contemporânea com baixo consumo de cafeína e em uma coorte6 histórica com alto consumo de cafeína.
A coorte6 Environmental Influences on Child Health Outcomes do National Institute of Child Health and Human Development Fetal Growth Studies (ECHO-FGS; 10 locais, 2009-2013) foi uma coorte6 de gravidez2 com 1 medição infantil entre as idades de 4 e 8 anos (acompanhamento em 2017-2019). O Collaborative Perinatal Project (CPP) foi uma coorte6 de gestantes (12 locais, 1959-1965) com acompanhamento infantil por 8 anos (1960-1974). A atual análise secundária foi realizada em 2021 e 2022.
As concentrações de cafeína e seu principal metabólito7, a paraxantina, foram quantificadas a partir do plasma8 (ECHO-FGS) e do soro9 (CPP) coletados no primeiro trimestre. Os pontos de corte para análises foram definidos por quartis no ECHO-FGS e quintis no CPP.
Escores z infantis para índice de massa corporal3, peso e altura foram avaliados, bem como índice e percentual de massa gorda10 e risco de obesidade5 medidos em 1 momento entre 4 e 8 anos de idade no ECHO-FGS. Em uma análise secundária da coorte6 CPP, os escores z infantis e o risco de obesidade5 longitudinalmente até os 8 anos de idade foram avaliados.
No ECHO-FGS (ingestão mediana de cafeína <50 mg/d), 788 crianças (idade média [DP], 6,8 [1,0] anos; 411 meninos [52,2%]) de mulheres no quarto vs primeiro quartil de concentrações plasmáticas de cafeína tiveram escores z de altura mais baixos (β = -0,21; IC 95%, -0,41 a -0,02), mas diferenças nos escores z de peso foram observadas apenas no terceiro quartil (β = -0,27; IC 95%, -0,47 a -0,07).
No CPP, começando aos 4 anos de idade, 1.622 crianças (805 meninos [49,7%]) de mulheres no grupo do quintil11 mais alto de cafeína tiveram escores z de altura mais baixos do que seus pares do grupo mais baixo, com a diferença aumentando a cada ano sucessivo de idade (β = -0,16 [IC 95%, -0,31 a -0,01] aos 4 anos; β = -0,37 [IC 95%, -0,57 a -0,16] aos 8 anos). Houve ligeiras reduções de peso nas idades de 5 a 8 anos para crianças no terceiro versus primeiro quintil11 de cafeína (β = -0,16 a -0,22).
Os resultados foram consistentes para as concentrações de paraxantina em ambas as coortes.
O estudo concluiu que a exposição intrauterina a níveis crescentes de cafeína e paraxantina, mesmo em baixas quantidades, foi associada a menor estatura na primeira infância.
A implicação clínica das reduções na altura e no peso não é clara; no entanto, as reduções foram aparentes mesmo com níveis de consumo de cafeína abaixo das diretrizes clinicamente recomendadas de menos de 200 mg por dia.
Veja também sobre "Pré-natal: o que é" e "Baixo peso ao nascer".
Fontes:
JAMA Network Open, publicação em 31 de outubro de 2022.
MedPage Today, notícia publicada em 31 de outubro de 2022.