Estudo avaliou taxas de mortalidade por todas as causas e por causa específica entre pessoas com doença mental grave no Brasil
Pessoas com doença mental grave têm uma taxa de mortalidade1 maior do que a população em geral, vivendo em média 10 a 20 anos a menos. A maioria dos estudos de mortalidade1 entre pessoas com doença mental grave ocorreu em países de alta renda.
O objetivo deste estudo, publicado no The Lancet Psychiatry, foi estimar o risco relativo (RR) de todas as causas e de causa específica e a taxa de mortalidade1 excessiva (TME) em uma coorte2 nacional de pacientes internados com doença mental grave em comparação com pacientes internados sem doença mental grave em um país de renda média, Brasil.
Leia sobre "Principais transtornos mentais" e "Saúde3 mental - o que é".
Este estudo de coorte4 retrospectivo5 nacional incluiu todos os pacientes internados pelo Sistema Único de Saúde3 (SUS) entre 1º de janeiro de 2000 e 21 de abril de 2015. Vinculações de registros probabilísticos e determinísticos integrou dados do Sistema de Informações Hospitalares e do Sistema de Informação sobre Mortalidade1. A duração do acompanhamento foi medida desde a data da primeira hospitalização do paciente até sua morte, ou até 21 de abril de 2015.
Doença mental grave foi definida como esquizofrenia6, transtorno bipolar ou transtorno depressivo pelos códigos da CID-10 usados para a admissão. RR e TME foram calculados com IC 95%, comparando a mortalidade1 entre pacientes com doença mental grave com aqueles com outros diagnósticos para pacientes7 com 15 anos ou mais.
As mortes foram redistribuídas usando a metodologia do Estudo de Carga Global de Doenças, Lesões8 e Fatores de Risco se causas de morte mal definidas foram declaradas como causa básica.
De 1º de janeiro de 2000 a 21 de abril de 2015, 72.021.918 pacientes (31.510.035 [43,8%] registrados como homens e 40.974.426 [56,9%] registradas como mulheres; idade média 41,1 [DP 23,8] anos) foram admitidos no hospital, com 749.720 pacientes (372.458 [49,7%] registrados como homens e 378.670 [50,5%] como mulheres) com doença mental grave.
5.102.055 mortes de pacientes (2.862.383 [56,1%] registrados como homens e 2.314.781 [45,4%] como mulheres) e 67.485 mortes em pacientes com doença mental grave (39.099 [57,9%] registrados como homens e 28.534 [42,3%] como mulheres).
O RR para mortalidade1 por todas as causas em pacientes com doença mental grave foi de 1,27 (IC 95% 1,27-1,28) e a TME foi de 2,52 (2,44-2,61) em comparação com pacientes não psiquiátricos internados durante o período de acompanhamento.
O RR de todas as causas foi maior no sexo feminino e nas faixas etárias mais jovens; no entanto, a TME foi maior naqueles com idade entre 30-59 anos. O RR e a TME variaram entre as principais causas de morte, sexo e faixas etárias.
Identificou-se lesões8 (suicídio, violência interpessoal e lesões8 no trânsito) e doenças cardiovasculares9 (doença isquêmica do coração10) como tendo a TME mais alta entre aqueles com doença mental grave. Dados sobre etnia não estavam disponíveis.
Em contraste com estudos de países de alta renda, pacientes internados com doença mental grave no Brasil apresentaram alto risco relativo para epilepsia11 idiopática12, tuberculose13, HIV14 e hepatite15 aguda, e não houve diferença significativa na mortalidade1 por câncer16 em comparação com pacientes internados sem doença mental grave.
Essas causas identificadas devem ser abordadas como prioridade para maximizar a prevenção da mortalidade1 entre pessoas com doença mental grave, especialmente em um país de renda média como o Brasil, que tem baixo investimento em saúde3 mental.
Veja também sobre "O desafio das famílias que convivem com a doença mental".
Fonte: The Lancet Psychiatry, publicação em 11 de agosto de 2022.