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Terapia genética do receptor de células T se mostra promissora para o câncer de pâncreas

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Uma nova terapia genética do receptor de células1 T (RCT) pode ser eficaz no tratamento de pacientes com câncer2 de pâncreas3 e outros cânceres que expressam a mutação4 KRAS G12D, descobriram pesquisadores.

O estudo de caso – publicado no The New England Journal of Medicine (NEJM) – mostrou que um paciente com adenocarcinoma5 ductal pancreático fortemente pré-tratado alcançou uma resposta profunda e durável quando tratado com uma infusão de células1 T autólogas transduzidas com dois RCTs direcionados contra a expressão de KRAS G12D mutante, relataram Rom Leidner, MD, do Providence Cancer2 Center em Portland, Oregon, e colegas.

Especificamente, a regressão das lesões6 pulmonares metastáticas do paciente foi observada 1 mês após a infusão de células1, com uma resposta parcial objetiva geral de 62% (com base em Critérios de Avaliação de Resposta em Tumores Sólidos, RECIST versão 1.1). Essa resposta estava em andamento em 6 meses, com uma resposta parcial geral de 72%.

Em um editorial que acompanha o estudo, Cornelis J.M. Melief, MD, PhD, do Leiden University Medical Center, na Holanda, observou que o adenocarcinoma5 ductal pancreático é o mais mortal de todos os cânceres comuns por várias razões, incluindo o estágio avançado do câncer2 no momento em que os sintomas7 se tornam aparentes, a presença oculta de micrometástases no fígado8 e em outros lugares no momento da cirurgia e sua resistência à quimioterapia9 e à imunoterapia.

Assim, os resultados relatados no estudo “são notáveis porque mostram um encolhimento profundo e durável do tumor10 em um paciente fortemente pré-tratado”, escreveu Melief.

Saiba mais sobre "Adenocarcinoma5: o que é", "Câncer2 de pâncreas3" e "Mutações genéticas".

Em um estudo anterior, os pesquisadores identificaram RCTs restritos à variante HLA-C*08:02 que tinham como alvo a mutação4 KRAS G12D nos linfócitos infiltrantes de tumor10 de uma paciente com câncer2 colorretal metastático.

“O tratamento desta paciente com seus linfócitos infiltrantes de tumor10 autólogos reativos à KRAS G12D levou à regressão objetiva de metástases11 viscerais, o que sugeriu que os RCTs reativos à KRAS G12D derivados desses linfócitos infiltrantes de tumor10 podem ser usados na terapia gênica de RCT para tratar outros pacientes cujos tumores expressam HLA-C*08:02 e KRAS G12D”, explicaram Leidner e colegas.

Como os cânceres pancreáticos frequentemente abrigam mutações em regiões hot-spot do gene KRAS, o objetivo do autor foi testar a eficácia da terapia gênica de RCT contra a expressão de KRAS mutante, tratando dois pacientes com câncer2 pancreático metastático com células1 T autólogas que foram projetadas para expressar clonalmente dois RCTs alogênicos reativos à KRAS G12D restritos à HLA-C*08:02.

Os pacientes com câncer2 de pâncreas3 metastático progressivo foram tratados com uma única infusão de 16,2 × 109 células1 T autólogas que foram geneticamente modificadas para expressar clonalmente dois receptores de células1 T (RCTs) alogênicos restritos à HLA-C*08:02 visando KRAS G12D mutante expressa pelos tumores.

Um dos pacientes apresentou regressão das metástases11 viscerais (resposta parcial geral de 72% de acordo com os Critérios de Avaliação de Resposta em Tumores Sólidos, versão 1.1); a resposta estava em curso em 6 meses.

As células1 T manipuladas constituíram mais de 2% de todas as células1 T circulantes do sangue12 periférico 6 meses após a transferência das células1.

Neste paciente, a terapia genética de RCT visando a mutação4 KRAS G12D mediou a regressão objetiva do câncer2 pancreático metastático.

Enquanto este paciente respondeu ao tratamento, o segundo paciente com câncer2 de pâncreas3 com a mesma mutação4 KRAS e alelo13 HLA não se beneficiou e morreu 6 meses após receber a terapia, apesar dos altos níveis de persistência de células1 T no sangue12. Leidner e colegas não conseguiram identificar qualquer mecanismo comum de resistência à imunoterapia e continuam a investigar o potencial mecanismo de falha neste paciente.

“Embora a durabilidade da resposta clínica em nosso paciente ainda não tenha sido determinada, este relato de caso mostra que a terapia genética de RCT visando a mutação4 KRAS G12D foi capaz de mediar a regressão do câncer2 pancreático metastático”, concluíram. “Ensaios clínicos prospectivos são necessários para determinar o potencial terapêutico desta terapia no câncer2 de pâncreas3 e outros cânceres que expressam KRAS G12D”.

“A parte difícil disso é aplicá-la a pacientes individuais por causa da restrição do HLA”, disse ele. “Como você escala isso, não tenho certeza. No momento, cabe às pessoas que estão tentando avançar essa tecnologia mostrar que ela funciona em qualquer pessoa – de forma convincente – antes de tentar descobrir como aumentá-la e usá-la para muitas outras doenças diferentes. Existe um caminho intelectual claro para isso, mas a logística real pode ser complicada.”

Leia sobre "Genética - conceitos básicos", "O que são metástases11" e "Câncer2 - informações importantes".

 

Fontes:
The New England Journal of Medicine, publicação em 02 de junho de 2022.
MedPage Today, notícia publicada em 01 de junho de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Terapia genética do receptor de células T se mostra promissora para o câncer de pâncreas. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1418335/terapia-genetica-do-receptor-de-celulas-t-se-mostra-promissora-para-o-cancer-de-pancreas.htm>. Acesso em: 10 out. 2024.

Complementos

1 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
2 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
3 Pâncreas: Órgão nodular (no ABDOME) que abriga GLÂNDULAS ENDÓCRINAS e GLÂNDULAS EXÓCRINAS. A pequena porção endócrina é composta pelas ILHOTAS DE LANGERHANS, que secretam vários hormônios na corrente sangüínea. A grande porção exócrina (PÂNCREAS EXÓCRINO) é uma glândula acinar composta, que secreta várias enzimas digestivas no sistema de ductos pancreáticos (que desemboca no DUODENO).
4 Mutação: 1. Ato ou efeito de mudar ou mudar-se. Alteração, modificação, inconstância. Tendência, facilidade para mudar de ideia, atitude etc. 2. Em genética, é uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
5 Adenocarcinoma: É um câncer (neoplasia maligna) que se origina em tecido glandular. O termo adenocarcinoma é derivado de “adeno”, que significa “pertencente a uma glândula” e “carcinoma”, que descreve um câncer que se desenvolveu em células epiteliais.
6 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
7 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
8 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
9 Quimioterapia: Método que utiliza compostos químicos, chamados quimioterápicos, no tratamento de doenças causadas por agentes biológicos. Quando aplicada ao câncer, a quimioterapia é chamada de quimioterapia antineoplásica ou quimioterapia antiblástica.
10 Tumor: Termo que literalmente significa massa ou formação de tecido. É utilizado em geral para referir-se a uma formação neoplásica.
11 Metástases: Formação de tecido tumoral, localizada em um lugar distante do sítio de origem. Por exemplo, pode se formar uma metástase no cérebro originário de um câncer no pulmão. Sua gravidade depende da localização e da resposta ao tratamento instaurado.
12 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
13 Alelo: 1. Que ocupa os mesmos loci (locais) nos cromossomos (diz-se de gene). 2. Em genética, é cada uma das formas que um gene pode apresentar e que determina características diferentes.
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