Pulmão com tipo sanguíneo trocado é um passo em direção a órgãos doadores universais
Pesquisadores conseguiram alterar com sucesso o tipo sanguíneo de um pulmão1 humano doado, tratando-o com enzimas, em um passo importante para a criação de órgãos doadores universais. Usando duas enzimas, os pesquisadores mudaram um pulmão1 doado do tipo A para o tipo O, que pode ser aceito por qualquer receptor.
“Ainda temos um caminho a percorrer para mostrar segurança em ensaios clínicos”, diz Marcelo Cypel, da Universidade de Toronto, Canadá. “Mas supondo que os resultados dos ensaios clínicos2 sejam semelhantes aos resultados que observamos aqui, isso será um grande avanço”.
Os tipos sanguíneos são amplamente definidos pela presença ou ausência de certas moléculas de açúcar3 chamadas antígenos4 na superfície das células5. Estes podem ocorrer não apenas nas células5 do próprio sangue6, mas também em outros tecidos, como os do pulmão1. Se um antígeno7 não for reconhecido pelo sistema imunológico8 do corpo, ele montará um ataque a essas células5. Isso leva à rejeição de órgãos transplantados de um doador com um tipo sanguíneo diferente.
“Com o sistema de correspondência atual, os tempos de espera podem ser consideravelmente maiores para pacientes9 que precisam de um transplante, dependendo do tipo sanguíneo”, explica o Dr. Cypel.
“Ter órgãos universais significa que podemos eliminar a barreira de correspondência de sangue6 e priorizar pacientes por urgência10 médica, salvando mais vidas e desperdiçando menos órgãos”, ele acrescenta.
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No estudo publicado na revista Science Translational Medicine, os pesquisadores contextualizam como um grande desafio no transplante de pulmão1 é a necessidade de correspondência de grupos sanguíneos ABO, restringindo a oportunidade de alguns pacientes receberem um transplante que salva vidas.
Para enfrentar esse desafio, eles usaram duas enzimas combinadas, FpGalNAc desacetilase e FpGalactosaminidase, para converter efetivamente os glóbulos vermelhos (GV) de pulmões11 do grupo sanguíneo A (ABO-A) em grupo sanguíneo O (ABO-O) durante a perfusão pulmonar ex vivo.
Foram estudadas a segurança e a eficácia pré-clínica do uso dessas enzimas para remover o antígeno7 A (Ag-A) de pulmões11 de doadores humanos usando perfusão pulmonar ex vivo (PPEV).
Primeiro, a capacidade dessas enzimas para remover o Ag-A em soluções de perfusato de órgãos foi examinada em cinco amostras de GV ABO-A1 humanos e três aortas humanas após incubação12 estática. As enzimas removeram mais de 99 e 90% de Ag-A das hemácias13 e aortas, respectivamente, em concentrações tão baixas quanto 1 μg/ml.
Oito pulmões11 humanos ABO-A1 foram então tratados por PPEV. As análises basais de Ag-A nos pulmões11 revelaram expressão predominante nas células5 endoteliais e epiteliais. A PPEV de pulmões11 com perfusato contendo enzima14 removeu mais de 97% do Ag-A endotelial em 4 horas. Não foi observada toxicidade15 pulmonar aguda relacionada ao tratamento.
Um transplante com ABO incompatível foi então simulado com um modelo ex vivo de rejeição mediada por anticorpos16 usando plasma17 ABO-O como substituto para a circulação18 do receptor usando três pulmões11 de doadores.
O tratamento de pulmões11 de doadores minimizou a ligação de anticorpos16, a deposição de complemento e a lesão19 mediada por anticorpos16 em comparação com pulmões11 de controle.
Esses resultados mostram que a depleção20 do antígeno7 A do pulmão1 do doador pode ser alcançada com o tratamento com perfusão pulmonar ex vivo. Essa estratégia tem o potencial de expandir o transplante de pulmão1 com ABO incompatível e levar a melhorias na equidade da alocação de órgãos.
Leia sobre "Antígenos4 e anticorpos16", "Transplante de órgãos" e "Circulação18 extracorpórea".
Fontes:
Science Translational Medicine, Vol. 14, Nº 632, em 16 de fevereiro de 2022.
New Scientist, notícia publicada em 16 de fevereiro de 2022.
Science Daily, notícia publicada em 16 de fevereiro de 2022.