Ritmo circadiano piora a asma à noite, independentemente do sono e de outros ciclos comportamentais ou ambientais diários
Por centenas de anos, as pessoas observaram que a gravidade da asma1 costuma piorar à noite. Uma questão de longa data tem sido até que ponto o relógio circadiano interno do corpo – em oposição a comportamentos, como sono e atividades físicas – contribui para a exacerbação da gravidade da asma1.
Pesquisadores da Harvard Medical School no Brigham and Women’s Hospital e pesquisadores da Oregon Health and Science University descobriram agora a influência do sistema circadiano, revelando um papel fundamental do relógio biológico na asma1. Os resultados do estudo foram publicados na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Compreender os mecanismos que influenciam a gravidade da asma1 pode ter implicações importantes para estudar e tratar essa doença.
“Este é um dos primeiros estudos a isolar cuidadosamente a influência do sistema circadiano de outros fatores comportamentais e ambientais, incluindo o sono”, disse o co-autor Frank Scheer, professor de medicina da HMS e diretor do Programa de Cronobiologia Médica na Divisão de Sono e Distúrbios Circadianos no Brigham and Women's.
“Observamos que as pessoas que têm a pior asma1 em geral são as que sofrem as maiores quedas circadianas da função pulmonar à noite, e também tiveram as maiores mudanças induzidas por comportamentos, incluindo o sono”, acrescentou o autor co-correspondente Steven Shea, diretor do Instituto de Ciências de Saúde2 Ocupacional da Oregon Health and Science University.
Shea acrescentou que nos estudos de laboratório da equipe, os participantes usaram inaladores broncodilatadores3 para controlar os sintomas4 da asma1 “até quatro vezes mais durante a noite circadiana do que durante o dia”.
Saiba mais sobre "Asma1", "Ritmo circadiano5 - como funciona e qual a sua importância" e "Sono - como ele é".
Até 75 por cento das pessoas com asma1 – 20 milhões de pessoas nos EUA – relatam piora da gravidade da asma1 à noite.
Muitos fatores comportamentais e ambientais, incluindo exercícios, temperatura do ar, postura e ambiente de sono, são conhecidos por influenciar a gravidade da asma1.
Scheer, Shea e colegas queriam entender as contribuições do sistema circadiano interno para esse problema.
O sistema circadiano é composto por um marca-passo6 central no cérebro7, conhecido como núcleo supraquiasmático, e “relógios” por todo o corpo. Este sistema é crítico para a coordenação das funções corporais e para antecipar o ciclo diário de demandas ambientais e comportamentais.
Para distinguir a contribuição do sistema circadiano, os pacientes com asma1 foram submetidos a dois protocolos circadianos complementares padrão-ouro: um protocolo de rotina constante e um protocolo de dessincronia forçada.
Esses protocolos altamente padronizados revelaram que o sistema circadiano endógeno desempenha um papel significativo na modulação da função pulmonar e da gravidade da asma1, independentemente do sono e de outros ciclos comportamentais ou ambientais diários. Além disso, essas influências circadianas somam-se aos efeitos comportamentais e ambientais diários para fazer com que a asma1 piore à noite.
Foram estudados pacientes com asma1 (sem uso de esteroides) por mais de 3 semanas em ambiente ambulatorial (com efeitos circadianos, ambientais e comportamentais combinados) e ao longo do ciclo circadiano8 em dois protocolos laboratoriais complementares realizados sob luz fraca, que separavam os efeitos circadianos dos ambientais e comportamentais:
Protocolo 1: uma “rotina constante” de 38 horas, com vigília contínua, postura constante e lanches isocalóricos a cada 2 horas.
Protocolo 2: uma “dessincronia forçada” de 196 horas incorporando sete ciclos idênticos de sono / vigília de 28 horas recorrentes com todos os comportamentos uniformemente programados ao longo do ciclo circadiano8.
Os índices de função pulmonar variaram ao longo do dia no ambiente ambulatorial, e ambos os protocolos de laboratório revelaram ritmos circadianos significativos, com função mais baixa durante a noite biológica, por volta das 4h00, revelando uma exacerbação noturna da asma1 geralmente despercebida ou escondida pela presença do sono.
Também foi descoberto um ritmo circadiano5 no uso de broncodilatador9 de resgate baseado em sintomas4 (inalador agonista10 dos receptores β2-adrenérgicos11), em que o uso de inalador era quatro vezes mais provável durante a noite circadiana do que durante o dia.
Houve influências aditivas do sistema circadiano na asma1, além do sono e outros efeitos comportamentais ou ambientais. Indivíduos com a função pulmonar média mais baixa tendem a ter as maiores variações circadianas diárias e os maiores efeitos do ciclo comportamental na asma1.
Quando o sono foi modelado para ocorrer à noite, a soma dos efeitos dos ciclos circadiano e comportamental / ambiental combinaram quase perfeitamente com os dados ambulatoriais.
Assim, o estudo mostrou que o sistema circadiano contribui para o agravamento noturno comum da asma1, implicando que o relógio biológico interno deve ser considerado para a terapia ideal.
“Esses protocolos altamente padronizados revelaram que o sistema circadiano interno desempenha um papel significativo na modulação da função pulmonar e da gravidade da asma1, e que essas influências se somam a outros efeitos comportamentais e ambientais diários para levar a asma1 a piorar à noite”, disse Scheer.
“Descobrir um papel fundamental do relógio biológico na gravidade da asma1 pode ajudar no desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas para a asma”, disse Shea.
Leia sobre "Asma1 - Prevenção e Tratamento", "Ciclos do sono", "Distúrbios respiratórios do sono" e "Alergia12 respiratória".
Fontes:
Proceedings of the National Academy of Sciences, publicação em 07 de setembro de 2021.
Harvard Medical School, notícia publicada em 08 de setembro de 2021.