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Uma dieta rica em ômega-3 e baixa em ômega-6 levou à redução da dor de cabeça em adultos com enxaqueca

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Um ensaio clínico, com resultados publicados no The British Medical Journal, testou se uma dieta especial poderia aliviar as dores de cabeça1 frequentes em pacientes com enxaqueca2. A dieta enfatizava alimentos que contêm grandes quantidades de ácidos graxos ômega-3, os óleos encontrados em alguns peixes, enquanto limitava os alimentos que são fontes ricas em ácidos graxos ômega-6, como muitos óleos vegetais.

Ômega-3 e ômega-6 são considerados ácidos graxos essenciais – críticos para a saúde3 e, como nossos corpos não podem produzi-los, eles devem ser obtidos a partir dos alimentos. Historicamente, os humanos consumiram quantidades aproximadamente equivalentes de ambos os ácidos graxos. Mas a dieta americana típica hoje tende a conter uma proporção muito maior de gorduras ômega-6.

Algumas autoridades de saúde3 veem isso como uma coisa boa: óleos vegetais e outras fontes ricas em gorduras ômega-6 foram consideradas em muitos estudos como benéficos para a saúde3 cardiovascular. Mas outros argumentam que isso pode ser problemático porque as gorduras ômega-6 mostraram promover dor e inflamação4, enquanto as gorduras ômega-3 tendem a ter o efeito oposto em estudos, ajudando a reduzir a dor e a inflamação4.

Os autores do novo estudo queriam saber: será que uma dieta que aumenta as gorduras ômega-3 e ao mesmo tempo reduz as gorduras ômega-6 pode facilitar a vida de pessoas que sofrem de enxaquecas5 frequentes?

Saiba mais sobre "Enxaqueca2", "Mitos e verdades sobre dor de cabeça1", "Benefícios do ômega 3 para a saúde3" e "Importância das gorduras para o organismo".

Assim, este ensaio controlado, de três braços, de grupo paralelo, randomizado6, duplo-cego modificado buscou determinar se as intervenções dietéticas que aumentam os ácidos graxos n-3 com e sem redução no ácido linoleico n-6 podem alterar os mediadores lipídicos circulantes implicados na patogênese7 da cefaleia8 e diminuir a cefaleia8 em adultos com enxaqueca2.

O estudo foi realizado em ambulatório, em um centro médico acadêmico nos Estados Unidos, durante 16 semanas. Foram incluídos 182 participantes (88% mulheres, idade média de 38 anos) com enxaqueca2 em 5-20 dias por mês (67% preencheram os critérios para enxaqueca2 crônica).

As intervenções do estudo consistiram em três dietas elaboradas com ácido eicosapentaenoico (EPA), ácido docosahexaenoico (DHA) e ácido linoleico alterados como variáveis ​​controladas:

  • Dieta H3 (n = 61) – aumentar EPA + DHA para 1,5 g/dia e manter o ácido linoleico em cerca de 7% de energia;
  • Dieta H3-L6 (n = 61) – aumentar EPA + DHA para 1,5 g/dia e diminuir o ácido linoleico para ≤1,8% da energia;
  • Dieta controle (n = 60) – manter EPA + DHA em <150 mg/dia e ácido linoleico em cerca de 7% da energia.

Os participantes comeram muitos alimentos como salmão selvagem, atum e truta, enquanto tentavam minimizar as fontes ricas de gorduras ômega-6, como milho, soja e óleos de canola. Todos os participantes receberam alimentos responsáveis ​​por dois terços da energia alimentar diária e continuaram os cuidados habituais.

Os desfechos primários (semana 16) foram o mediador antinociceptivo ácido 17-hidroxidocosahexaenóico (17-HDHA) no sangue9 e o teste de impacto da cefaleia8 (HIT-6), um questionário de seis itens que avalia o impacto da cefaleia8 na qualidade de vida. A frequência da cefaleia8 foi avaliada diariamente por meio de um diário eletrônico.

Em análises de intenção de tratar (n = 182), as dietas H3-L6 e H3 aumentaram o 17-HDHA circulante (log ng/mL) em comparação com a dieta controle (diferença média ajustada na linha de base 0,6, intervalo de confiança de 95% 0,2 a 0,9; 0,7, 0,4 a 1,1, respectivamente).

A melhora observada nos escores do HIT-6 nos grupos H3-L6 e H3 não foi estatisticamente significativa (-1,6, -4,2 a 1,0 e -1,5, -4,2 a 1,2, respectivamente).

Em comparação com a dieta de controle, as dietas H3-L6 e H3 diminuíram o total de horas de dor de cabeça1 por dia (-1,7, -2,5 a -0,9 e -1,3, -2,1 a -0,5, respectivamente), horas de dor de cabeça1 moderada a grave por dia (-0,8, -1,2 a -0,4 e -0,7, -1,1 a -0,3, respectivamente) e dias de dor de cabeça1 por mês (-4,0, -5,2 a -2,7 e -2,0, -3,3 a -0,7, respectivamente).

A dieta H3-L6 diminuiu mais os dias de dor de cabeça1 por mês do que a dieta H3 (-2,0, -3,2 a -0,8), sugerindo benefício adicional da redução do ácido linoleico na dieta.

As dietas H3-L6 e H3 alteraram os ácidos graxos n-3 e n-6 e vários de seus derivados nociceptivos da oxilipina no plasma10, soro11, eritrócitos12 ou células13 imunes, mas não alteraram os mediadores clássicos da cefaleia8, peptídeo relacionado ao gene da calcitonina14 e prostaglandina15 E2.

O estudo concluiu que as intervenções de aumento de EPA + DHA, com manutenção ou diminuição do ácido linoleico, alteraram os mediadores bioativos implicados na patogênese7 da cefaleia8 e diminuíram a frequência e gravidade das dores de cabeça1, mas não melhoraram significativamente a qualidade de vida.

Dr. Christopher E. Ramsden, o principal autor do estudo, disse que as descobertas sugerem que as mudanças na dieta podem ser um complemento útil para os tratamentos existentes para a dor crônica. “Muitas pessoas com dor crônica continuam a sofrer apesar de tomarem medicamentos”, disse o Dr. Ramsden, investigador clínico do Programa de Pesquisa Intramural do Instituto Nacional de Envelhecimento. “Eu acho que isso é algo que poderia ser integrado a outros tratamentos para melhorar a qualidade de vida e reduzir a dor.”

Leia sobre "Dores crônicas", "Orientações para tratamento da cefaleia8" e "O que é uma alimentação saudável".

 

Fontes:
The British Medical Journal, publicação em 01 de julho de 2021.
The New York Times, notícia publicada em 02 de agosto de 2021.

 

NEWS.MED.BR, 2021. Uma dieta rica em ômega-3 e baixa em ômega-6 levou à redução da dor de cabeça em adultos com enxaqueca. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1399520/uma-dieta-rica-em-omega-3-e-baixa-em-omega-6-levou-a-reducao-da-dor-de-cabeca-em-adultos-com-enxaqueca.htm>. Acesso em: 19 mar. 2024.

Complementos

1 Cabeça:
2 Enxaqueca: Sinônimo de migrânea. É a cefaléia cuja prevalência varia de 10 a 20% da população. Ocorre principalmente em mulheres com uma proporção homem:mulher de 1:2-3. As razões para esta preponderância feminina ainda não estão bem entendidas, mas suspeita-se de alguma relação com o hormônio feminino. Resulta da pressão exercida por vasos sangüíneos dilatados no tecido nervoso cerebral subjacente. O tratamento da enxaqueca envolve normalmente drogas vaso-constritoras para aliviar esta pressão. No entanto, esta medicamentação pode causar efeitos secundários no sistema circulatório e é desaconselhada a pessoas com problemas cardiológicos.
3 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
4 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
5 Enxaquecas: Sinônimo de migrânea. É a cefaléia cuja prevalência varia de 10 a 20% da população. Ocorre principalmente em mulheres com uma proporção homem:mulher de 1:2-3. As razões para esta preponderância feminina ainda não estão bem entendidas, mas suspeita-se de alguma relação com o hormônio feminino. Resulta da pressão exercida por vasos sangüíneos dilatados no tecido nervoso cerebral subjacente. O tratamento da enxaqueca envolve normalmente drogas vaso-constritoras para aliviar esta pressão. No entanto, esta medicamentação pode causar efeitos secundários no sistema circulatório e é desaconselhada a pessoas com problemas cardiológicos.
6 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
7 Patogênese: Modo de origem ou de evolução de qualquer processo mórbido; nosogenia, patogênese, patogenesia.
8 Cefaleia: Sinônimo de dor de cabeça. Este termo engloba todas as dores de cabeça existentes, ou seja, enxaqueca ou migrânea, cefaleia ou dor de cabeça tensional, cefaleia cervicogênica, cefaleia em pontada, cefaleia secundária a sinusite, etc... são tipos dentro do grupo das cefaleias ou dores de cabeça. A cefaleia tipo tensional é a mais comum (acomete 78% da população), seguida da enxaqueca ou migrânea (16% da população).
9 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
10 Plasma: Parte que resta do SANGUE, depois que as CÉLULAS SANGÜÍNEAS são removidas por CENTRIFUGAÇÃO (sem COAGULAÇÃO SANGÜÍNEA prévia).
11 Soro: Chama-se assim qualquer líquido de características cristalinas e incolor.
12 Eritrócitos: Células vermelhas do sangue. Os eritrócitos maduros são anucleados, têm forma de disco bicôncavo e contêm HEMOGLOBINA, cuja função é transportar OXIGÊNIO. Sinônimos: Corpúsculos Sanguíneos Vermelhos; Corpúsculos Vermelhos Sanguíneos; Corpúsculos Vermelhos do Sangue; Glóbulos Vermelhos; Hemácias
13 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
14 Calcitonina: Hormônio secretado pela glândula tireoide que inibe a perda de cálcio dos ossos.
15 Prostaglandina: É qualquer uma das várias moléculas estruturalmente relacionadas, lipossolúveis, derivadas do ácido araquidônico. Ela tem função reguladora de diversas vias metabólicas.
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