Vermes parasitas que residem no intestino abrem a porta para vírus perigosos, facilitando as infecções virais
Os vermes intestinais infectam cerca de dois bilhões de pessoas em todo o mundo. Algumas regiões onde esses vermes são endêmicos também apresentam taxas excepcionalmente altas de doenças infecciosas, como a malária.
Agora, um estudo publicado pelo periódico Cell descobriu que, com seu efeito no revestimento do intestino, um parasita1 auxilia outro agente infeccioso. Dessa forma, os vermes parasitas que residem no intestino podem tornar as infecções2 virais mais mortais.
Michael Diamond, da Escola de Medicina da Universidade de Washington em St Louis, nos Estados Unidos, e seus colegas estudaram ratos infectados com uma lombriga intestinal (Heligmosomoides polygyrus bakeri) e o vírus3 do Nilo Ocidental, que coexistem em partes da África e Europa Oriental. Eles descobriram que os roedores tinham maior probabilidade de morrer quando infectados com os dois patógenos do que quando infectados com apenas um.
Leia sobre "Como evitar os vermes", "Principais parasitoses" e "O que são vírus3 e como evitar uma infecção4 viral".
A equipe descobriu que, na presença de vermes parasitas, a ativação de células5 sensoriais chamadas células5 tufo que revestem os intestinos6 distorce a resposta imunológica à infecção4 viral. Em última análise, isso resulta em danos à camada interna protetora do intestino e prejudica a capacidade das células5 imunológicas chamadas células5 T assassinas de destruir células5 infectadas por vírus3. O vírus3 pode então infectar mais facilmente o sistema nervoso central7 e outros tecidos.
Essas descobertas sugerem que as lombrigas podem tornar seus hospedeiros mais suscetíveis à infecção4 por vírus3 que têm como alvo o mesmo tecido8.
Já era sabido que as infecções2 por helmintos9 entéricos modulam a imunidade10 aos patógenos da mucosa11, porém, seus efeitos sobre os micróbios sistêmicos12 permanecem menos estabelecidos. Nesse contexto, o estudo investigou especificamente a coinfecção com helmintos9 entéricos, demonstrando que tal coinfecção aumenta a suscetibilidade do hospedeiro a flavivírus neurotrópicos por meio de um eixo de sinalização do receptor da IL-4 das células5 tufo.
Alguns destaques da pesquisa:
• A coinfecção por helmintos9 aumenta a suscetibilidade de vários flavivírus neurotrópicos
• A coinfecção por helmintos9 e vírus3 do Nilo Ocidental causa patologia13 grave do trato gastrointestinal
• A translocação14 de bactérias intestinais resulta no colapso15 das células5 T CD8+ antivirais
• As células5 tufo e as vias de sinalização de IL-4 medeiam fenótipos de coinfecção deletérios
Na pesquisa, foi observado aumento da mortalidade16 em camundongos coinfectados com o helminto17 entérico Heligmosomoides polygyrus bakeri (Hpb) e o vírus3 do Nilo Ocidental (VNO).
Esta suscetibilidade aumentada está associada à morfologia e trânsito intestinais alterados, translocação14 de bactérias comensais, respostas deficientes de células5 T específicas do VNO e aumento da infecção4 viral no trato gastrointestinal e sistema nervoso central7.
Esses resultados foram devido à distorção imune tipo 2, porque a coinfecção em camundongos Stat6-/- resgata a mortalidade16, o tratamento de camundongos infectados com VNO livres de helmintos9 com interleucina (IL)-4 espelha a coinfecção, e a sinalização do receptor de IL-4 em células5 epiteliais intestinais medeia os fenótipos de susceptibilidade18.
Além disso, camundongos com deficiência de células5 tufo mostram resultados melhorados com coinfecção, enquanto o tratamento de camundongos livres de helmintos9 com citocina19 IL-25 derivada de células5 tufo ou ligante succinato piora a doença por VNO.
Assim, a ativação helmíntica dos circuitos do receptor de IL-4 da célula20 tufo no intestino exacerba a infecção4 e a doença de um flavivírus neurotrópico.
Veja também sobre "Ascaridíase", "Ancilostomose" e "Exame parasitológico de fezes".
Fontes:
Cell, Vol. 184, Nº 5, em 04 de março de 2021.
Nature, notícia publicada em 26 de fevereiro de 2021.