Exposição precoce ao mebendazol pode aumentar o risco de colite ulcerativa de início na idade adulta
É sabido que os parasitas, especialmente helmintos1, podem ter uma função na sintonia do sistema imunológico2 intestinal, diminuindo a chance de alergias respiratórias e doenças autoimunes3.
Agora, foi publicado no The American Journal of Gastroenterology um estudo populacional de coorte4 para determinar se a exposição precoce à terapia com mebendazol (um anti-parasitário, anti-helmíntico5) aumentaria a chance futura de desenvolver alguma doença inflamatória intestinal.
De acordo com os achados do estudo, a exposição ao mebendazol para tratar infestações por helmintos1 antes dos 5 anos de idade aumenta o risco de colite6 ulcerativa de início na idade adulta, mas não de início pediátrico.
Descobriu-se que o mebendazol, um derivado do benzimidazol, previne a formação de tubulina celular, provocando alterações degenerativas7 nos intestinos8 dos vermes helmintos1 parasitas encontrados no hospedeiro.
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No artigo, os pesquisadores contextualizam que, de acordo com a hipótese da higiene9, a exposição a parasitas pode proteger contra a doença inflamatória intestinal (DII). O objetivo deste estudo foi examinar o risco de DII com exposição infantil ao mebendazol, um agente anti-helmíntico5 de amplo espectro.
Foi realizado um estudo de coorte10 de base populacional usando dados históricos coletados prospectivamente de todos os indivíduos nascidos na Dinamarca entre 1995 e 2018. Identificou-se a exposição ao mebendazol na idade <18 anos, bem como durante o início da vida (<5 anos de idade).
Realizou-se análise de regressão de riscos proporcionais de Cox ajustada para determinar o risco de DII, colite6 ulcerativa (CU) e doença de Crohn11 (DC) com exposição ao mebendazol após ajuste para possíveis fatores de confusão.
Dos 1.520.290 indivíduos da coorte4, 615.794 tiveram exposição ao mebendazol na infância ou adolescência. 1.555 e 1.499 indivíduos foram posteriormente diagnosticados com DII pediátrica e adulta, respectivamente.
Na análise multivariável, a exposição ao mebendazol antes dos 18 anos de idade não afetou o risco de DII pediátrica ou adulta (aHR 0,97, IC 95% 0,87, 1,07 e 1,08, IC 95% 0,97, 1,19, respectivamente).
Ao limitar a exposição ao mebendazol para idade <5 anos, embora não houvesse associação com DII de início pediátrico (aHR 0,98, IC 95% 0,87, 1,11), o risco de DII de início adulto foi aumentado (aHR 1,17, IC 95% 1,04, 1,31). Este aumento no risco foi impulsionado por CU (aHR 1,32, IC 95% 1,12, 1,55), mas não DC (1,03, IC 95% 0,87,1,22).
O estudo concluiu que a exposição ao mebendazol no início da vida está associada ao aumento do risco de colite6 ulcerativa de início na idade adulta. Esses achados sugerem a importância das exposições precoces na formação do risco de doença inflamatória intestinal mais tarde na vida.
Veja também sobre "Principais vermes intestinais humanos" e "Exame parasitológico de fezes".
Fontes:
The American Journal of Gastroenterology, publicação em 12 de agosto de 2022.
Gastroenterology Advisor, notícia publicada em 13 de outubro de 2022.