Medicamentos utilizados no tratamento de HIV e hepatite B se mostraram capazes de prevenir o diabetes, e poderiam ser reaproveitados
O número de pessoas com diabetes1 em todo o mundo é de quase 500 milhões e prevê-se que cresça dramaticamente nas próximas décadas. A maioria desses indivíduos tem diabetes tipo 22, uma doença metabólica crônica caracterizada por resistência à insulina3 e hiperglicemia4.
Saiba mais sobre "Diabetes Mellitus5" e "O papel da insulina3 no corpo".
A inflamação6 crônica é uma faceta crítica do diabetes tipo 22. O inflamassoma NLRP3, um complexo proteico multimérico, está implicado como um dos principais impulsionadores do diabetes tipo 22.
A sinalização imune inata através do inflamassoma NLRP3 é ativada por múltiplos estressores7 relacionados ao diabetes1, mas ainda não está claro se o ataque ao inflamassoma é benéfico para o diabetes1.
Os Inibidores de Transcriptase Reversa Análogos de Nucleosídeos (ITRN), drogas aprovadas para tratar infecções8 por HIV9-1 e hepatite10 B, também bloqueiam a ativação do inflamassoma.
Nesse estudo, publicado na revista Nature Communications, foi demonstrado, ao analisar cinco bancos de dados de seguros de saúde11, que o risco ajustado de diabetes1 incidente12 é 33% menor em pacientes com exposição a ITRN entre 128.861 pacientes com HIV9-1 ou hepatite10 B (razão de risco ajustada para exposição a ITRN, 0,673; intervalo de confiança de 95%, 0,638 a 0,710; P <0,0001; intervalo de predição de 95%, 0,618 a 0,734).
Enquanto isso, um ITRN, a lamivudina, melhora a sensibilidade à insulina3 e reduz a ativação do inflamassoma em células13 humanas diabéticas e induzidas pela resistência à insulina14, bem como em camundongos alimentados com ração rica em gordura15; mecanicamente, os transcritos do elemento nuclear curto intercalado (SINE) ativadores de inflamassoma estão elevados, ao passo que o DICER1 catabolizante do SINE é reduzido em células13 diabéticas e camundongos.
Os pesquisadores fizeram uma pequena modificação química nos ITRN que levou ao desenvolvimento de uma nova classe farmacológica, que eles denominaram, em inglês, kamuvudines. Os kamuvudines são derivados não tóxicos dos ITRN, explicou o Dr. Jayakrishna Ambati, médico da University of Virginia School of Medicine, ao Medscape.
"As pessoas tomam ITRN porque precisam viver com o HIV9, mas, administrá-los na população em geral não é uma boa ideia, por causa das toxicidades associadas ao uso prolongado."
"Portanto, nosso foco não é ir adiante especificamente com os ITRN, mas sim com essas novas moléculas, que são muito menos tóxicas; e é assim que vislumbramos um ensaio clínico no futuro", explicou o Dr. Jayakrishna.
Esses dados do estudo, portanto, sugerem a possibilidade de reaproveitar uma classe aprovada de medicamentos para a prevenção do diabetes1.
Leia sobre "Prevenindo o diabetes1 e suas complicações", "Infecção16 pelo HIV9" e "Hepatite10 B".
Fontes:
Nature Communications, publicação em 23 de setembro de 2020.
Medscape, notícia publicada em 04 de novembro de 2020.