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Metformina em grávidas com diabetes tipo 2 traz benefícios para a glicemia materna e a adiposidade neonatal

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Embora a metformina1 seja cada vez mais usada em mulheres com diabetes2 tipo 2 durante a gravidez3, existem poucos dados sobre os benefícios e malefícios do uso da metformina1 nos resultados da gravidez3 nessas pacientes.

O objetivo desse estudo, publicado no The Lancet Diabetes2 & Endocrinology, foi investigar os efeitos da adição de metformina1 a um regime padrão de insulina4 na morbidade5 e mortalidade6 neonatal em grávidas com diabetes tipo 27.

Neste estudo prospectivo8, multicêntrico, internacional, randomizado9, paralelo, duplo-mascarado, controlado por placebo10, mulheres com diabetes tipo 27 durante a gravidez3 de 25 centros no Canadá e quatro na Austrália foram distribuídas aleatoriamente para receber metformina1 1000 mg duas vezes ao dia ou placebo10, adicionados à insulina4.

A randomização foi feita por meio de um serviço de randomização computadorizada baseado na web e estratificada por centro e IMC11 pré-gravidez3 (< 30 kg/m² ou ≥ 30 kg/m²) em uma proporção de 1:1 usando blocos de tamanhos aleatórios de 4 e 6. As mulheres eram elegíveis se tivessem diabetes tipo 27, estivessem em uso de insulina4, tivessem uma gravidez3 única viável e estivessem entre 6 e 22 semanas mais 6 dias de gestação.

As participantes foram solicitadas a verificar seu nível de glicose12 no sangue13 em jejum antes da primeira refeição do dia, antes da última refeição do dia e 2 horas após cada refeição. As doses de insulina4 foram ajustadas visando alvos de glicose12 idênticos (glicose12 de jejum < 5,3 mmol/L14 [95 mg/dL15], glicose12 pós-prandial de 2h < 6,7 mmol/L14 [120 mg/dL15]).

Saiba mais sobre "Diabetes Mellitus16", "Opções de tratamento para o diabetes2" e "Como medir o nível de glicose12 no sangue13"

As consultas do estudo foram feitas mensalmente e as pacientes foram vistas a cada 1–4 semanas, conforme necessário para o atendimento clínico padrão. Nas consultas do estudo, a pressão arterial17 e o peso corporal foram medidos; as pacientes foram questionadas sobre a tolerância aos seus comprimidos, quaisquer hospitalizações, doses de insulina4 e eventos de hipoglicemia18 grave; e as leituras do glicosímetro19 foram baixadas para o centro de coordenação central.

Participantes, cuidadores e avaliadores de resultados foram mascarados para a intervenção. O desfecho primário foi um composto de desfechos fetais e neonatais, para os quais foram calculados o risco relativo e IC de 95% entre os grupos, estratificando por local e IMC11 usando um modelo de regressão log-binomial com uma análise de intenção de tratar. Os desfechos secundários incluíram vários desfechos maternos e neonatais relevantes.

Entre 25 de maio de 2011 e 11 de outubro de 2018, distribuiu-se aleatoriamente 502 mulheres, 253 (50%) para metformina1 e 249 (50%) para placebo10. Dados completos estavam disponíveis para 233 (92%) participantes no grupo da metformina1 e 240 (96%) no grupo do placebo10 para o desfecho primário.

Não foi encontrada nenhuma diferença significativa no resultado neonatal composto primário entre os dois grupos (40% vs 40%; p = 0,86; risco relativo [RR] 1,02 [0,83 a 1,26]). Em comparação com as mulheres no grupo do placebo10, as mulheres tratadas com metformina1 obtiveram melhor controle glicêmico (HbA1c20 na 34ª semana de gestação 41,0 mmol/mol [DP 8,5] vs 43,2 mmol/mol [–10]; 5,90% vs 6,10%; p = 0,015; glicose12 média 6,05 [0,93] vs 6,27 [0,90]; diferença −0,2 [−0,4 a 0,0]), precisaram de menos insulina4 (1,1 unidades por kg por dia vs 1,5 unidades por kg por dia; diferença −0,4 [IC de 95% −0,5 a −0,2]; p <0,0001), ganharam menos peso (7,2 kg vs 9,0 kg; diferença −1,8 [–2,7 a −0,9]; p <0,0001) e tiveram menos partos cesáreos (125 [53%] de 234 no grupo de metformina1 vs 148 [63%] de 236 no grupo do placebo10; risco relativo [RR] 0,85 [IC 95% 0,33 a 0,99]; p = 0,031).

Não foi encontrada nenhuma diferença significativa entre os grupos em distúrbios hipertensivos (55 [23%] no grupo da metformina1 vs 56 [23%] no grupo do placebo10; p = 0,93; RR 0,99 [0,72 a 1,35]).

Em comparação com aqueles no grupo do placebo10, os bebês21 expostos à metformina1 pesaram menos (peso médio ao nascer 3.156 g [DP 742] vs 3.375 g [742]; diferença de −218 [−353 a −82]; p = 0,002), menos deles foram acima do percentil 97 para peso ao nascer (20 [9%] no grupo metformina1 vs 34 [15%] no grupo placebo10; RR 0,58 [0,34 a 0,97]; p = 0,041), menos deles pesaram 4.000 g ou mais ao nascimento (28 [12%] no grupo metformina1 vs 44 [19%] no grupo placebo10; RR 0,65 [0,43 a 0,99]; p = 0,046) e bebês21 expostos à metformina1 tiveram medidas de adiposidade reduzidas (soma média das dobras cutâneas22 16,0 mm [DP 5,0] vs 17,4 [6,2] mm; diferença de −1,41 [–2,6 a −0,2]; p = 0,024; massa gorda23 neonatal média 13,2 [DP 6,2] vs 14,6 [5,0]; p = 0,017).

Trinta (13%) bebês21 no grupo da metformina1 e 15 (7%) no grupo do placebo10 eram pequenos para a idade gestacional (RR 1,96 [1,10 a 3,64]; p = 0,026). Não foi encontrada nenhuma diferença significativa no peptídeo C24 do cordão entre os grupos (673 pmol L [435] no grupo da metformina1 vs 758 pmol/L [595] no grupo do placebo10; p = 0,10; proporção das médias 0,88 [0,72 a 1,02]).

O evento adverso mais comum relatado foi gastrointestinal (38 eventos no grupo metformina1 e 38 eventos no grupo placebo10).

Encontrou-se vários benefícios para a glicemia25 materna e a adiposidade neonatal no grupo da metformina1. Junto com a redução do ganho de peso materno e da dosagem de insulina4 e melhor controle glicêmico, a adiposidade mais baixa e as medidas do tamanho do bebê resultaram em menos bebês21 grandes, mas em uma proporção maior de bebês21 pequenos para a idade gestacional.

Compreender as implicações desses efeitos nos bebês21 será importante para aconselhar adequadamente as pacientes que estão considerando o uso de metformina1 durante a gravidez3.

Leia sobre "Recomendação de ganho de peso durante a gestação" e "Medicamentos que podem ou não ser tomados durante a gravidez3".

 

Fonte: The Lancet Diabetes2 & Endocrinology, Vol. 8, Nº 10, em outubro de 2020.

 

NEWS.MED.BR, 2020. Metformina em grávidas com diabetes tipo 2 traz benefícios para a glicemia materna e a adiposidade neonatal. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1379268/metformina-em-gravidas-com-diabetes-tipo-2-traz-beneficios-para-a-glicemia-materna-e-a-adiposidade-neonatal.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.

Complementos

1 Metformina: Medicamento para uso oral no tratamento do diabetes tipo 2. Reduz a glicemia por reduzir a quantidade de glicose produzida pelo fígado e ajudando o corpo a responder melhor à insulina produzida pelo pâncreas. Pertence à classe das biguanidas.
2 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
3 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
4 Insulina: Hormônio que ajuda o organismo a usar glicose como energia. As células-beta do pâncreas produzem insulina. Quando o organismo não pode produzir insulna em quantidade suficiente, ela é usada por injeções ou bomba de insulina.
5 Morbidade: Morbidade ou morbilidade é a taxa de portadores de determinada doença em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento.
6 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
7 Diabetes tipo 2: Condição caracterizada por altos níveis de glicose causada tanto por graus variáveis de resistência à insulina quanto por deficiência relativa na secreção de insulina. O tipo 2 se desenvolve predominantemente em pessoas na fase adulta, mas pode aparecer em jovens.
8 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
9 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
10 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
11 IMC: Medida usada para avaliar se uma pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. É a medida mais usada na prática para saber se você é considerado obeso ou não. Também conhecido como IMC. É calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Existe uma tabela da Organização Mundial de Saúde que classifica as medidas de acordo com o resultado encontrado.
12 Glicose: Uma das formas mais simples de açúcar.
13 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
14 Mmol/L: Milimols por litro, unidade de medida que mostra a concentração de uma substância em uma quantidade específica de fluido.
15 Mg/dL: Miligramas por decilitro, unidade de medida que mostra a concentração de uma substância em uma quantidade específica de fluido.
16 Diabetes mellitus: Distúrbio metabólico originado da incapacidade das células de incorporar glicose. De forma secundária, podem estar afetados o metabolismo de gorduras e proteínas.Este distúrbio é produzido por um déficit absoluto ou relativo de insulina. Suas principais características são aumento da glicose sangüínea (glicemia), poliúria, polidipsia (aumento da ingestão de líquidos) e polifagia (aumento da fome).
17 Pressão arterial: A relação que define a pressão arterial é o produto do fluxo sanguíneo pela resistência. Considerando-se a circulação como um todo, o fluxo total é denominado débito cardíaco, enquanto a resistência é denominada de resistência vascular periférica total.
18 Hipoglicemia: Condição que ocorre quando há uma queda excessiva nos níveis de glicose, freqüentemente abaixo de 70 mg/dL, com aparecimento rápido de sintomas. Os sinais de hipoglicemia são: fome, fadiga, tremores, tontura, taquicardia, sudorese, palidez, pele fria e úmida, visão turva e confusão mental. Se não for tratada, pode levar ao coma. É tratada com o consumo de alimentos ricos em carboidratos como pastilhas ou sucos com glicose. Pode também ser tratada com uma injeção de glucagon caso a pessoa esteja inconsciente ou incapaz de engolir. Também chamada de reação à insulina.
19 Glicosímetro: Pequeno acessório portátil usado por pessoas diabéticas para checar os níveis de glicose sangüínea. Após um pequeno corte na pele com uma agulha ou bisturi, é colocada uma gota de sangue em uma fita própria para leitura dos níveis de glicose no glicosímetro. O monitor ou glicosímetro faz a leitura e mostra o nível de glicose por um número que aparece no display digital do aparelho.
20 HbA1C: Hemoglobina glicada, hemoglobina glicosilada, glico-hemoglobina ou HbA1C e, mais recentemente, apenas como A1C é uma ferramenta de diagnóstico na avaliação do controle glicêmico em pacientes diabéticos. Atualmente, a manutenção do nível de A1C abaixo de 7% é considerada um dos principais objetivos do controle glicêmico de pacientes diabéticos. Algumas sociedades médicas adotam metas terapêuticas mais rígidas de 6,5% para os valores de A1C.
21 Bebês: Lactentes. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
22 Cutâneas: Que dizem respeito à pele, à cútis.
23 Massa gorda: É a porção de massa do organismo constituída de gordura armazenada (encontrada no tecido subcutâneo) e gordura essencial (encontrada nas vísceras, responsável pelo funcionamento fisiológico normal). A massa gorda é o resultado em quilos do percentual de gordura existente no organismo. Por exemplo, um indivíduo de 100 quilos e com percentual de gordura de 38%, pode ter o valor da massa gorda calculado em 38 quilos.
24 Peptídeo C: (Connecting peptide) Substância que o pâncreas libera para a corrente sangüínea em igual quantidade de insulina. Indiretamente, indica a secreção de insulina pelo pâncreas. Um teste com baixos níveis de peptídeo C demonstra deficiência de secreção da insulina. Valores abaixo de 1,2 ng/ml indicam deficiência severa de insulina e necessidade de administração de insulina para o tratamento do diabetes.
25 Glicemia: Valor de concentração da glicose do sangue. Seus valores normais oscilam entre 70 e 110 miligramas por decilitro de sangue (mg/dl).
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