Associação de anemia materna pré-natal com distúrbios do neurodesenvolvimento
Dado o papel crítico que o ferro desempenha no neurodesenvolvimento, é plausível uma associação entre a deficiência pré-natal de ferro e o risco posterior de distúrbios do neurodesenvolvimento, como transtorno do espectro autista (TEA), transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) e deficiência intelectual (DI).
Nesse contexto, pesquisadores buscaram identificar se a anemia1 materna durante a gravidez2 está associada ao risco desses três distúrbios do desenvolvimento neurológico comumente coocorrentes.
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Neste estudo, publicado pelo periódico JAMA Pediatrics, testou-se a hipótese a priori de que a anemia1 diagnosticada nas mães durante a gravidez2 está associada a um risco aumentado de TEA, TDAH e DI na prole e que a magnitude do risco varia em relação ao momento da anemia1 na gravidez2.
Este estudo de coorte3 utilizou dados de registro de saúde4 e população da Coorte5 de Jovens de Estocolmo para avaliar crianças não adotivas nascidas de 1º de janeiro de 1987 a 31 de dezembro de 2010 na Suécia, com acompanhamento nos registros de saúde4 até 31 de dezembro de 2016. A análise dos dados foi realizada de 15 de janeiro de 2018 a 20 de junho de 2018.
Foram analisados diagnósticos registrados de anemia1 durante a gravidez2. O tempo gestacional do primeiro diagnóstico6 de anemia1 registrado (≤30 semanas ou >30 semanas) foi considerado para avaliar potenciais janelas críticas do desenvolvimento. Os principais resultados avaliados foram diagnósticos registrados de TEA, TDAH ou DI, ou combinações coincidentes desses distúrbios.
A coorte5 incluiu 532.232 indivíduos (272.884 [51,3%] do sexo masculino) entre 6 e 29 anos de idade no final do acompanhamento (idade média [DP] de 17,6 [7,1] anos) e suas 299.768 mães. A prevalência7 de TEA, TDAH e DI foi maior entre crianças nascidas de mães diagnosticadas com anemia1 nas primeiras 30 semanas de gravidez2 (4,9% TEA, 9,3% TDAH e 3,1% DI) em comparação com mães com anemia1 diagnosticada mais tarde na gravidez2 ( 3,8% TEA, 7,2% TDAH e 1,1% DI) ou mães não diagnosticadas com anemia1 (3,5% TEA, 7,1% TDAH e 1,3% DI).
A anemia1 diagnosticada durante as primeiras 30 semanas de gravidez2, mas não posteriormente, foi associada ao aumento do risco de diagnóstico6 de TEA (odds ratio [OR], 1,44; IC 95%, 1,13-1,84), TDAH (OR, 1,37; IC 95%, 1,14-1,64) e DI (OR, 2,20; IC 95%, 1,61-3,01) na prole em modelos que incluíam fatores socioeconômicos, maternos e relacionados à gravidez2.
O diagnóstico6 precoce da anemia1 foi similarmente associado ao risco de TEA (OR, 2,25; IC 95%, 1,24-4,11) e DI (OR, 2,59; IC 95%, 1,08-6,22) em uma comparação entre irmãos.
Considerando grupos de diagnóstico6 mutuamente exclusivos, observamos a associação mais forte entre anemia1 e DI sem TEA coocorrente (OR, 2,72; IC 95%, 1,84-4,01).
Associações desses distúrbios com anemia1 diagnosticada posteriormente na gravidez2 foram bastante diminuídas.
Em contraste com a anemia1 materna diagnosticada no final da gravidez2, a anemia1 diagnosticada no início da gravidez2 foi significativamente associada ao aumento do risco de desenvolvimento de transtorno do espectro autista, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e, principalmente, deficiência intelectual na prole.
Dado que a deficiência de ferro e a anemia1 são comuns entre mulheres em idade fértil, os achados enfatizam a importância da triagem precoce do status do ferro e do aconselhamento nutricional no pré-natal.
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Fonte: JAMA Psychiatry, publicado em 18 de setembro de 2019.