Caracterização da retinopatia em pacientes com febre amarela no sudeste do Brasil
A retinopatia pode ser observada em pacientes com febre amarela1, mas pode ser negligenciada, principalmente se uma doença mais grave impedir exames oftalmoscópicos cuidadosos.
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Este estudo observacional transversal, realizado em um único centro de referência em doenças infecciosas no sudeste do Brasil, coletou dados entre janeiro de 2017 e fevereiro de 2018 de 94 pacientes consecutivos com suspeita de febre amarela1 elegíveis para o estudo.
Os pacientes foram submetidos a exame oftalmológico. Foram relatados achados clínicos, resultados laboratoriais e ocorrência de retinopatia e morte durante a hospitalização, incluindo idade, sexo, comorbidades2, gravidade da doença, nível sérico de aspartato aminotransferase, nível de bilirrubina3 total, nível de creatinina4 sérica, nível de lactato5 no sangue6 arterial, razão normalizada internacional e contagem de plaquetas7 na admissão hospitalar.
No total, foram incluídos 64 pacientes que receberam diagnóstico8 confirmado de febre amarela1, com idade mediana (intervalo interquartil) de 47 (38-56) anos. Doze pacientes (19%) eram mulheres.
Vinte olhos9 (16%) de 13 pacientes (20%) apresentaram retinopatia ao mesmo tempo que a febre amarela1. As alterações mais comuns do fundo de olho10 entre os 20 olhos9 foram:
- Infartos da camada de fibras nervosas da retina11 (11 [55%]).
- Hemorragias12 superficiais (7 [35%]).
- Lesões13 profundas acinzentadas (6 [30%]), possivelmente no nível da retina11 externa ou coroide14.
Níveis de aspartato aminotransferase superiores a 3000 U/L (odds ratio [OR], 14,2; IC 95%, 3,5-77,8; P <0,001), níveis totais de bilirrubina3 superiores a 2,3 mg/dL15 (OR, 20,0; IC 95%, 4,4-159,7; P <0,001), níveis séricos de creatinina4 superiores a 2,0 mg/dL15 (OR, 8,2; IC 95%, 2,1-36,0; P = 0,003), níveis de lactato5 arterial superiores a 17,1/mg/dL15 (OR, 4,6; IC 95%, 1,1-19,0; P = 0,03), contagem de plaquetas7 menor que 94×10³/μL (OR, 7,8; IC 95%, 1,8-59,9; P = 0,004) e classificação da doença como grave (OR, 11,7; IC 95%, 2,0-301,0; P = 0,003) foram associados à retinopatia. Hipertensão arterial16, diabetes17, razão normalizada internacional e morte não foram associados à retinopatia.
Concluiu-se que a retinopatia estava presente em 20% dos pacientes com febre amarela1 e parecia estar associada a doença sistêmica mais grave. Infartos da camada de fibras nervosas da retina11 e hemorragias12 superficiais, mas não as lesões13 profundas acinzentadas, assemelhavam-se àquelas associadas a outras infecções18 por flavivírus (por exemplo, vírus19 da dengue20). A relevância clínica desses achados pode justificar uma investigação futura mais aprofundada.
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Fonte: JAMA Ophthalmology, em 20 de junho de 2019