Quais fatores predizem a mortalidade em pacientes com febre amarela? Publicação de cientistas brasileiros no The Lancet Infectious Diseases
O objetivo deste estudo, publicado pelo The Lancet Infectious Diseases, foi identificar os preditores de morte medidos na admissão hospitalar em uma coorte1 de pacientes internados em hospital durante o surto de febre amarela2 de 2018 na periferia da cidade de São Paulo, Brasil.
Saiba mais sobre "Febre amarela2".
Neste estudo de coorte3 observacional foram incluídos pacientes com o vírus4 da febre amarela2 de dois hospitais em São Paulo — Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Pacientes com mais de 18 anos internados com febre5 ou mialgia6, cefaleia7, artralgia8, edema9, erupção10 cutânea11 ou conjuntivite12 foram consecutivamente avaliados para inclusão no presente estudo. Pacientes consentidos foram incluídos se tivessem viajado para áreas geográficas nas quais os casos de vírus4 da febre amarela2 haviam sido previamente confirmados.
A infecção13 da febre amarela2 foi confirmada por PCR14 em tempo real no sangue15 coletado na admissão ou em tecidos na autópsia16. Sequenciou-se o genoma completo do vírus4 da febre amarela2 de indivíduos infectados, foram avaliados os achados demográficos, clínicos e laboratoriais na admissão e foi investigado se qualquer uma dessas medidas se correlacionava com o desfecho do paciente (morte).
Entre 11 de janeiro de 2018 e 10 de maio de 2018, 118 pacientes com suspeita de febre amarela2 foram internados no Hospital das Clínicas e 113 pacientes com suspeita de febre amarela2 foram internados no Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Noventa e cinco pacientes com suspeita de febre amarela2 foram incluídos no estudo, 136 pacientes foram excluídos.
Três (3%) dos 95 pacientes com suspeita de febre amarela2 que foram incluídos no estudo foram também excluídos porque eles receberam um diagnóstico17 diferente e 16 pacientes com RNA indetectável da febre amarela2 foram excluídos. Portanto, 76 pacientes com infecção13 confirmada pelo vírus4 da febre amarela2, com base no RNA do vírus4 detectável no sangue15 (74 pacientes) ou vírus4 da febre amarela2 confirmado apenas no laudo da autópsia16 (2 pacientes) foram incluídos na presente análise.
Vinte e sete (36%) dos 76 pacientes morreram durante o período de 60 dias após a internação hospitalar. Foram gerados 14 genomas completos do vírus4 da febre amarela2 das primeiras 15 amostras detectáveis pela carga viral. Os genomas pertenciam a um único subtipo monofilético do genótipo18 I da América do Sul, sub-genótipo18 E.
A idade avançada, o sexo masculino, a contagem de leucócitos19 e neutrófilos20 mais elevada, o aumento da alanina aminotransferases (ALT), aspartato aminotransaminase (AST), bilirrubina21 e creatinina22, o tempo de protrombina23 prolongado e maior carga viral plasmática de RNA do vírus4 da febre amarela2 foram associados à maior mortalidade24.
Em um modelo de regressão multivariado, idade mais avançada, contagem elevada de neutrófilos20, aumento da AST e carga viral alta permaneceram independentemente associados à morte. Todos os 11 (100%) pacientes com contagens de neutrófilos20 de 4000 células25 por mL ou mais e cargas virais de 5,1 log10 cópias/mL ou mais morreram (IC 95% 72–100), em comparação com apenas três (11%) dos 27 (IC 95% 2–29) pacientes com contagens de neutrófilos20 menor do que 4000 células25 por mL e cargas virais de menos de 5,1 log10 cópias/mL.
Com este trabalho, cientistas brasileiros identificaram preditores clínicos e laboratoriais de mortalidade24 na internação hospitalar que poderiam auxiliar no atendimento de pacientes com vírus4 da febre amarela2. A identificação desses marcadores prognósticos em pacientes poderia ajudar os médicos a priorizar a internação na unidade de terapia intensiva26, pois os pacientes frequentemente se deterioram rapidamente. Além disso, a alocação de recursos poderia ser melhorada para priorizar exames laboratoriais fundamentais que poderiam ser mais úteis para determinar se um paciente poderia ter um resultado melhor. Os achados apoiam o importante papel do vírus4 na patogênese27 da doença, sugerindo que um antiviral eficaz poderia alterar o curso clínico para pacientes28 com as formas mais graves de febre amarela2.
Este estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Leia também sobre "Segurança da vacina29 contra a febre amarela2".
Fonte: The Lancet Infectious Diseases, em 16 de maio de 2019.