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Infecção por malária durante a gravidez pode ser fator de risco para redução de perímetro cefálico de recém-nascidos na Amazônia Brasileira

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A malária durante a gravidez1 está associada a eventos adversos para o feto2 e recém-nascido, mas a associação desta patologia3 durante a gravidez1 com a circunferência da cabeça4 do recém-nascido ainda não é clara. Investigar a associação da malária durante a gestação com o crescimento da cabeça4 do feto2 foi o objetivo deste estudo publicado pelo JAMA Network.

Saiba mais sobre "Malária" e "Sintomas5 precoces de gravidez1".

Dois estudos de coorte6 foram conduzidos na maternidade geral de Cruzeiro do Sul (Acre, Brasil), na região amazônica. Um estudo de coorte7 matriculou prospectivamente gestantes não infectadas e infectadas pela malária que foram acompanhadas até o parto, entre janeiro de 2013 e abril de 2015. O outro estudo de coorte7 foi montado retrospectivamente usando dados clínicos e de malária de todos os partos ocorridos entre janeiro de 2012 e dezembro de 2013. As análises dos dados foram realizadas no período de janeiro a agosto de 2017 e revisadas em novembro de 2018.

Foram avaliados dados clínicos de gestantes e medidas antropométricas de seus recém-nascidos. Um total de 600 gestantes foi cadastrado por meio de amostragem voluntária (estudo de coorte7 prospectivo8) e 4.697 gestantes foram selecionadas por amostragem populacional (estudo de coorte7 retrospectivo9). Após a aplicação dos critérios de exclusão, foram avaliados dados de 251 (estudo de coorte7 prospectivo8) e 232 (estudo de coorte7 retrospectivo9) mulheres infectadas por malária e 158 (estudo de coorte7 prospectivo8) e 3.650 (estudo de coorte7 retrospectivo9) não infectadas.

O desfecho primário foi a incidência10 de circunferência da cabeça4 alterada em recém-nascidos de mães infectadas com malária, em comparação com aqueles nascidos de mães não infectadas. Os desfechos secundários incluíram medidas de patologia3 placentária em relação ao perímetro cefálico do recém-nascido.

No total, foram analisados 4.291 pares materno-infantis. Entre os 409 recém-nascidos no estudo de coorte7 prospectivo8, as mães de 251 recém-nascidos tinham malária durante a gravidez1, infectadas com Plasmodium vivax, Plasmodium falciparum, ou ambos. Entre 3.882 recém-nascidos no estudo de coorte7 retrospectivo9, 232 nasceram de mães que tiveram malária durante a gravidez1.

A prevalência11 de recém-nascidos com cabeça4 pequena (19 [30,7%] no estudo de coorte7 prospectivo8 e 30 [36,6%] no estudo de coorte7 retrospectivo9) e a prevalência11 de microcefalia12 entre recém-nascidos (5 [8,1%] no estudo de coorte7 prospectivo8 e 6 [7,3%] no estudo de coorte7 retrospectivo9) foram maiores entre recém-nascidos de mulheres infectadas com P. falciparum durante a gravidez1.

Análises de regressão logística multivariada revelaram que a infecção13 por P. falciparum durante a gestação representou um fator de risco14 significativo para a ocorrência de pequena circunferência craniana em recém-nascidos (coorte15 prospectiva: odds ratio 3,15; IC 95% 1,52-6,53; p = 0,002; coorte15 retrospectiva: odds ratio 1,91, IC 95% 1,21-3,04, p = 0,006). Os achados patológicos da placenta corroboraram essa associação, com agregados nucleares mais sinciciais e infiltrados inflamatórios ocorrendo em placentas de recém-nascidos com circunferência da cabeça4 diminuída.

Este estudo indica que a malária por Plasmodium falciparum durante a gravidez1 está associada à diminuição do perímetro cefálico em recém-nascidos, o que por sua vez está associado à evidência de malária placentária.

Ler também sobre "Microcefalia12".

 

Fonte: JAMA Network, em 3 de maio de 2019.

 

NEWS.MED.BR, 2019. Infecção por malária durante a gravidez pode ser fator de risco para redução de perímetro cefálico de recém-nascidos na Amazônia Brasileira. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1338868/infeccao-por-malaria-durante-a-gravidez-pode-ser-fator-de-risco-para-reducao-de-perimetro-cefalico-de-recem-nascidos-na-amazonia-brasileira.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.

Complementos

1 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
2 Feto: Filhote por nascer de um mamífero vivíparo no período pós-embrionário, depois que as principais estruturas foram delineadas. Em humanos, do filhote por nascer vai do final da oitava semana após a CONCEPÇÃO até o NASCIMENTO, diferente do EMBRIÃO DE MAMÍFERO prematuro.
3 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
4 Cabeça:
5 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
6 Estudos de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
7 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
8 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
9 Retrospectivo: Relativo a fatos passados, que se volta para o passado.
10 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
11 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
12 Microcefalia: Pequenez anormal da cabeça, geralmente associada à deficiência mental.
13 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
14 Fator de risco: Qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença.
15 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
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