The Lancet: estudo usa epidemiologia convencional e genética para prever riscos entre consumo de álcool e casos de derrame cerebral e infarto do miocárdio
A ingestão moderada de álcool tem sido associada à redução do risco cardiovascular em muitos estudos, em comparação com a abstinência ou com o consumo excessivo de álcool. Estudos no leste da Ásia podem ajudar a determinar se essas associações são causais, uma vez que duas variantes genéticas comuns afetam muito os padrões de consumo de álcool. O estudo em questão usou essas duas variantes para avaliar as relações entre o risco cardiovascular e a ingestão média de álcool estimada pelo genótipo1 em homens, contrastando os achados com homens com estas variantes e com mulheres (poucas das quais bebem).
O banco de dados prospectivo2 China Kadoorie Biobank registrou 512.715 adultos entre 25 de junho de 2004 e 15 de julho de 2008, em dez áreas da China, com informações sobre o uso de álcool e outras características. Os participantes foram seguidos por cerca de 10 anos (até 1º de janeiro de 2017), monitorando doenças cardiovasculares3 (incluindo acidente vascular cerebral4 isquêmico5, hemorragia6 intracerebral e infarto do miocárdio7) por ligação com registros de morbidade8 e mortalidade9 e registros hospitalares eletrônicos. 161.498 participantes foram genotipados para duas variantes que alteram o metabolismo10 do álcool, rs671 do gene ALDH2 e rs1229984 do gene ADH1B.
Saiba mais sobre "Doenças cardiovasculares3", "Acidente vascular cerebral4", "Hemorragia6 cerebral" e "Infarto do miocárdio7".
A regressão de Cox ajustada foi usada para obter os riscos relativos que associam a incidência11 da doença aos padrões de consumo autorreferidos (epidemiologia convencional) ou à ingestão média masculina de álcool prevista pelo genótipo1 (epidemiologia genética - randomização mendeliana), com estratificação por área de estudo para controlar variação entre áreas nas taxas de doença e na ingestão prevista pelo genótipo1.
Os resultados mostram que 33% (69.897 / 210.205) dos homens relataram beber álcool na maioria das semanas, principalmente destilados, em comparação com apenas 2% (6.245 / 302.510) das mulheres. Entre os homens, a epidemiologia convencional mostrou que a ingestão de álcool autorreferida tinha associações em forma de U com a incidência11 de acidente vascular cerebral4 isquêmico5 (n=14.930), hemorragia6 intracerebral (n=3.496) e infarto12 agudo13 do miocárdio14 (n=2.958). Os homens que relataram beber cerca de 100 g de álcool por semana (um a dois drinques por dia) tiveram menores riscos de todas as três doenças do que os que não bebem ou os que bebem em excesso.
Em contraste, embora a ingestão média de álcool masculina prevista pelo genótipo1 tenha variado amplamente (de 4 a 256 g por semana — isto é, perto de zero a cerca de quatro drinques por dia), não houve associações em forma de U com risco. Para acidente vascular cerebral4, a ingestão média de álcool prevista pelo genótipo1 teve uma associação log-linear com risco, que foi mais forte para hemorragia6 intracerebral (risco relativo [RR] por 280 g por semana 1,58; IC 95% 1,36–1,84, p<0,0001) do que para AVC isquêmico5 (1,27; 1,13–1,43, p=0,0001). Para o infarto do miocárdio7, no entanto, a ingestão média de álcool prevista pelo genótipo1 não foi significativamente associada ao risco (RR por 280 g por semana 0,96, IC 95% 0,78–1,18, p=0,69).
A ingestão habitual de álcool nos bebedores atuais e a ingestão de álcool prevista pelo genótipo1 em todos os homens tiveram associações positivas igualmente fortes com a pressão arterial sistólica15 (cada p<0,0001). Entre as mulheres, poucas beberam e os genótipos estudados não predizem alta ingestão média de álcool e não foram positivamente associados à pressão arterial16, acidente vascular cerebral4 ou infarto do miocárdio7.
A epidemiologia genética mostra que os efeitos aparentemente protetores da ingestão moderada de álcool contra o derrame17 são amplamente não causais. O consumo de álcool aumenta uniformemente a pressão arterial16 e o risco de acidente vascular cerebral4 e, neste estudo, parece ter pouco efeito líquido sobre o risco de infarto do miocárdio7.
Leia também sobre "Esteatose hepática18" e "Cirrose19 hepática20".
Fonte: The Lancet, volume 393, número 10183, em 4 de maio de 2019.