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Lesão miocárdica perioperatória na cirurgia cardíaca pode ser menor quando a cirurgia é feita à tarde, estudo com publicação online pelo The Lancet

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A cirurgia na bomba cardíaca provoca uma lesão1 de isquemia2-reperfusão miocárdica perioperatória previsível que está associada a resultados clínicos ruins. Foi realizado um estudo, com publicação online pelo periódico The Lancet, que determinou a ocorrência da variação do momento do dia na lesão1 miocárdica perioperatória em pacientes submetidos à reposição da valva aórtica3 e seus mecanismos moleculares.

Estudou-se a incidência4 de eventos cardíacos adversos maiores em um estudo prospectivo5 observacional e de coorte6, de centro único, de pacientes com estenose7 aórtica grave e fração de ejeção do ventrículo esquerdo preservada (>50%) que foram encaminhados ao departamento de cirurgia cardiovascular no Hospital Universitário de Lille (França) para a reposição da válvula aórtica e submetidos à cirurgia pela manhã ou à tarde. Os pacientes foram combinados em pares por pontuação de propensão.

Também foi feito um estudo randomizado8, no qual avaliou-se a lesão1 miocárdica perioperatória e amostras de miocárdio9 de pacientes aleatoriamente atribuídos (1:1) por meio de aleatorização de blocos permutados (tamanho de bloco de oito) para se submeterem à cirurgia de substituição da valva aórtica3 isolada, pela manhã ou à tarde.

Os pesquisadores avaliaram o miocárdio9 humano e de roedores em modelos de hipóxia10-reoxigenação ex vivo e realizaram uma análise transcriptômica em amostras de miocárdio9 dos pacientes randomizados para identificar a(s) via(s) de sinalização envolvida(s). O objetivo principal do estudo foi avaliar se a tolerância miocárdica à isquemia2-reperfusão diferiu dependendo do momento da cirurgia de substituição da valva aórtica3 (manhã versus tarde), medido pela ocorrência de eventos cardiovasculares adversos maiores (morte cardiovascular, infarto do miocárdio11 e admissão no hospital por insuficiência cardíaca12 aguda).

Saiba mais sobre "Parada cardíaca", "Infarto do Miocárdio11" e "Insuficiência cardíaca congestiva13".

No estudo de coorte14 (n=596 pacientes em pares pareados que foram submetidos à cirurgia pela manhã [n=298] ou à cirurgia à tarde [n=298]), durante os 500 dias após a reposição da valva aórtica3, a incidência4 de eventos cardíacos adversos maiores foi menor no grupo da cirurgia da tarde do que no grupo da manhã: hazard ratio 0,50 (IC 95% 0,32-0,77; p = 0,0021).

No estudo randomizado8, 88 pacientes foram submetidos aleatoriamente à cirurgia pela manhã (n=44) ou à tarde (n=44); a lesão1 miocárdica perioperatória avaliada com a média geométrica da liberação perioperatória de troponina T perioperatória foi significativamente menor no grupo da tarde do que no grupo da manhã. A análise ex vivo do miocárdio9 humano revelou uma variação intrínseca da manhã e da tarde na tolerância à hipóxia10-reoxigenação, concomitante com alterações transcripcionais na expressão do gene circadiano, com o receptor nuclear Rev-Erbα sendo o mais alto pela manhã.

A lesão1 miocárdica perioperatória é orquestrada pelo relógio circadiano em pacientes submetidos à reposição da valva aórtica3, e o antagonismo de Rev-Erbα parece ser uma estratégia farmacológica para a cardioproteção. A cirurgia à tarde pode fornecer proteção miocárdica perioperatória e levar a melhores resultados clínicos em comparação com a cirurgia pela manhã.

Leia também: "Dor no peito15: é sempre um sinal16 de alerta?".

 

Fonte: The Lancet, publicação online em 26 de outubro de 2017

 

NEWS.MED.BR, 2017. Lesão miocárdica perioperatória na cirurgia cardíaca pode ser menor quando a cirurgia é feita à tarde, estudo com publicação online pelo The Lancet. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1306218/lesao-miocardica-perioperatoria-na-cirurgia-cardiaca-pode-ser-menor-quando-a-cirurgia-e-feita-a-tarde-estudo-com-publicacao-online-pelo-the-lancet.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.

Complementos

1 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
2 Isquemia: Insuficiência absoluta ou relativa de aporte sanguíneo a um ou vários tecidos. Suas manifestações dependem do tecido comprometido, sendo a mais frequente a isquemia cardíaca, capaz de produzir infartos, isquemia cerebral, produtora de acidentes vasculares cerebrais, etc.
3 Valva Aórtica: Válvula localizada entre o ventrículo esquerdo e a aorta ascendente que previne o refluxo de sangue para dentro do ventrículo esquerdo.
4 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
5 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
6 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
7 Estenose: Estreitamento patológico de um conduto, canal ou orifício.
8 Estudo randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle - o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
9 Miocárdio: Tecido muscular do CORAÇÃO. Composto de células musculares estriadas e involuntárias (MIÓCITOS CARDÍACOS) conectadas, que formam a bomba contrátil geradora do fluxo sangüíneo. Sinônimos: Músculo Cardíaco; Músculo do Coração
10 Hipóxia: Estado de baixo teor de oxigênio nos tecidos orgânicos que pode ocorrer por diversos fatores, tais como mudança repentina para um ambiente com ar rarefeito (locais de grande altitude) ou por uma alteração em qualquer mecanismo de transporte de oxigênio, desde as vias respiratórias superiores até os tecidos orgânicos.
11 Infarto do miocárdio: Interrupção do suprimento sangüíneo para o coração por estreitamento dos vasos ou bloqueio do fluxo. Também conhecido por ataque cardíaco.
12 Insuficiência Cardíaca: É uma condição na qual a quantidade de sangue bombeada pelo coração a cada minuto (débito cardíaco) é insuficiente para suprir as demandas normais de oxigênio e de nutrientes do organismo. Refere-se à diminuição da capacidade do coração suportar a carga de trabalho.
13 Insuficiência Cardíaca Congestiva: É uma incapacidade do coração para efetuar as suas funções de forma adequada como conseqüência de enfermidades do próprio coração ou de outros órgãos. O músculo cardíaco vai diminuindo sua força para bombear o sangue para todo o organismo.
14 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
15 Peito: Parte superior do tronco entre o PESCOÇO e o ABDOME; contém os principais órgãos dos sistemas circulatório e respiratório. (Tradução livre do original
16 Sinal: 1. É uma alteração percebida ou medida por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida. 2. Som ou gesto que indica algo, indício. 3. Dinheiro que se dá para garantir um contrato.
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