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Associação entre enxaqueca e dissecção da artéria cervical em jovens justifica a realização de estudos adicionais sobre o tema

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Apesar de estudos observacionais esparsos sugerirem uma ligação entre a enxaqueca1 e a dissecção da artéria2 cervical (CEAD), qualquer associação entre os dois transtornos ainda não foi confirmada. Esta falta de uma conclusão definitiva pode ter implicações na compreensão da patogênese3 de ambas as condições e da relação complexa entre enxaqueca1 e acidente vascular cerebral4 isquêmico5 (AVCI).

Saiba mais sobre "Enxaqueca1" e "Acidente Vascular Cerebral4".

A incidência6 de AVC está aumentando entre pacientes com idades entre 40 e 60 anos - mais rápido do que em faixas etárias mais avançadas. Evidências preliminares sugerem que o derrame7 isquêmico5 - e não o hemorrágico8 ou a hemorragia subaracnoide9 - colabore para este crescimento.

Muitos especulam que as incidências crescentes dos fatores de riscos vasculares10 clássicos entre pacientes jovens contribuem para o aumento da incidência6 de derrame7. Certamente, estamos todos conscientes da epidemia de obesidade11 e da prevalência12 contínua do tabagismo, levando à aterosclerose13 prematura. Além disso, há as causas igualmente relevantes de acidente vascular cerebral4 em jovens que incluem enxaqueca1, abuso de drogas, dissecções arteriais cervicais, forame14 oval patente (FOP), distúrbios de coagulação15 e um grupo frustrantemente grande de acidentes vasculares10 criptogênicos.

A utilização mais frequente, e a maior disponibilidade, de bebidas esportivas contendo simpaticomiméticos pode resultar também em mais casos de acidentes vasculares10 cerebrais. Felizmente, os tratamentos atuais -trombólise16 e trombectomia - funcionam bem em jovens, mas seria preferível prevenir estes derrames.

Leia mais sobre "Obesidade11", "Aterosclerose13", "Dependência a drogas", "Coagulação15 sanguínea" e "Parar de fumar". 

Com o objetivo de investigar se um histórico de enxaqueca1 e seus subtipos está associado à ocorrência de CEAD em jovens, foi realizado um estudo de coorte17 prospectivo18 de pacientes com idades entre 18 e 45 anos, com o primeiro acidente vascular cerebral4 isquêmico5 agudo19 registrado no projeto italiano multicêntrico sobre acidente vascular cerebral4 em adultos jovens, realizado entre 1º de janeiro de 2000 e 30 de junho de 2015.

Em um estudo caso-controle, a pesquisa avaliou se a frequência de enxaqueca1 e seus subtipos (presença ou ausência de aura) difere entre os pacientes cujo AVCI foi devido ao CEAD (CEAD AVCI) e aqueles cujo AVCI foi devido a uma causa outra que não CEAD (não-CEAD AVCI) e comparou as características dos pacientes com CEAD AVCI com e sem enxaqueca1. O trabalho teve publicação online no JAMA Neurology.

Os principais resultados e medidas foram a frequência da enxaqueca1 e seus subtipos em pacientes com CEAD AVCI versus não-CEAD AVCI.

Os resultados mostram que dos 2.485 pacientes (idade média [DP], 36,8 [7,1] anos; mulheres, 1.163 [46,8%]) incluídos no registro, 334 (13,4%) tinham CEAD AVCI e 2.151 (86,6%) tinham não-CEAD AVCI. A enxaqueca1 foi mais comum no grupo CEAD AVCI (103 [30,8%] vs 525 [24,4%], P=0,01) e a diferença foi principalmente por enxaqueca1 sem aura (80 [24,0%] vs 335 [15,6%], P<0,001). Em comparação com a enxaqueca1 com aura, a enxaqueca1 sem aura foi associada independentemente com CEAD AVCI (OR, 1,74; IC 95%: 1,30-2,33). A força dessa associação foi maior nos homens (OR, 1,99; IC 95%: 1,31-3,04) e nos pacientes com 39 anos ou menos (OR, 1,82; IC 95%: 1,22-2,71). O perfil do fator de risco20 foi semelhante em pacientes com migrânea21 ou sem migrânea21 com CEAD AVCI (por exemplo, hipertensão arterial22, 20 [19,4%] vs 57 [24,7%], P=0,29; diabetes23, 1 [1.0%] vs 3 [1.3%], P>0,99).

As conclusões mostram que em pacientes com AVCI, com idade entre 18 e 45 anos, a enxaqueca1, especialmente a enxaqueca1 sem aura, está consistentemente associada à CEAD. Esta descoberta sugere características comuns e justifica análises adicionais para elucidar os mecanismos biológicos subjacentes.

Leia também sobre "Diabetes23", "Hipertensão arterial22", "Dor de cabeça24" e "Mitos e verdades sobre dor de cabeça24".

 

Fonte: JAMA Neurology, publicação online, de 6 de março de 2017

 

NEWS.MED.BR, 2017. Associação entre enxaqueca e dissecção da artéria cervical em jovens justifica a realização de estudos adicionais sobre o tema. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1293268/associacao-entre-enxaqueca-e-disseccao-da-arteria-cervical-em-jovens-justifica-a-realizacao-de-estudos-adicionais-sobre-o-tema.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.

Complementos

1 Enxaqueca: Sinônimo de migrânea. É a cefaléia cuja prevalência varia de 10 a 20% da população. Ocorre principalmente em mulheres com uma proporção homem:mulher de 1:2-3. As razões para esta preponderância feminina ainda não estão bem entendidas, mas suspeita-se de alguma relação com o hormônio feminino. Resulta da pressão exercida por vasos sangüíneos dilatados no tecido nervoso cerebral subjacente. O tratamento da enxaqueca envolve normalmente drogas vaso-constritoras para aliviar esta pressão. No entanto, esta medicamentação pode causar efeitos secundários no sistema circulatório e é desaconselhada a pessoas com problemas cardiológicos.
2 Artéria: Vaso sangüíneo de grande calibre que leva sangue oxigenado do coração a todas as partes do corpo.
3 Patogênese: Modo de origem ou de evolução de qualquer processo mórbido; nosogenia, patogênese, patogenesia.
4 Acidente vascular cerebral: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
5 Isquêmico: Relativo à ou provocado pela isquemia, que é a diminuição ou suspensão da irrigação sanguínea, numa parte do organismo, ocasionada por obstrução arterial ou por vasoconstrição.
6 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
7 Derrame: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
8 Hemorrágico: Relativo à hemorragia, ou seja, ao escoamento de sangue para fora dos vasos sanguíneos.
9 Hemorragia subaracnoide: Hemorragia subaracnoide ou subaracnoidea é um derramamento de sangue que se dá no espaço subaracnoideo compreendido entre duas meninges, a aracnoide e a pia-máter. Este espaço contém o líquor. Essas meninges, além da dura-máter, são membranas que envolvem o sistema nervoso. A origem habitual deste sangue é a ruptura de um vaso sanguíneo enfraquecido (quer seja por uma malformação arteriovenosa, quer por um aneurisma). Quando um vaso sanguíneo está afetado pela aterosclerose ou por uma infecção, pode produzir-se a rotura do mesmo. Tais rupturas podem ocorrer em qualquer idade, sendo mais frequentes entre os 25 e os 50 anos. Raramente ela ocorre por um traumatismo craniano.
10 Vasculares: Relativo aos vasos sanguíneos do organismo.
11 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
12 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
13 Aterosclerose: Tipo de arteriosclerose caracterizado pela formação de placas de ateroma sobre a parede das artérias.
14 Forame: Mesmo que forâmen. Abertura, buraco, furo, cova. Na anatomia geral, é um orifício, abertura ou perfuração através de um osso ou estrutura membranosa.
15 Coagulação: Ato ou efeito de coagular(-se), passando do estado líquido ao sólido.
16 Trombólise: Nome dado ao processo usado para dissolver um coágulo que existe na corrente sanguínea.
17 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
18 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
19 Agudo: Descreve algo que acontece repentinamente e por curto período de tempo. O oposto de crônico.
20 Fator de risco: Qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença.
21 Migrânea: Sinônimo de enxaqueca. Resulta da pressão exercida por vasos sangüíneos dilatados no tecido nervoso cerebral subjacente. O tratamento envolve o uso de drogas vaso-constritoras para aliviar esta pressão. No entanto, esta medicamentação pode causar efeitos secundários no sistema circulatório e é desaconselhada a pessoas com problemas cardiológicos. A prevalência varia de 10 a 20% da população. Ocorre principalmente em mulheres com uma proporção homem:mulher de 1:2-3. As razões para esta preponderância feminina ainda não estão bem entendidas, mas suspeita-se de alguma relação com o hormônio feminino.
22 Hipertensão arterial: Aumento dos valores de pressão arterial acima dos valores considerados normais, que no adulto são de 140 milímetros de mercúrio de pressão sistólica e 85 milímetros de pressão diastólica.
23 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
24 Cabeça:
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