Sono tranqüilo: tratamento da apnéia obstrutiva do sono pode prevenir a arterioesclerose
Estudo publicado na edição de outubro do American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine por pesquisadores do Instituto do Coração1, o InCor (do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), demonstra pela primeira vez uma relação direta entre a apnéia obstrutiva do sono2 (AOS) e a arterioesclerose3. A apnéia4 do sono está surgindo como um novo fator de risco5 para a aterosclerose6.
A AOS é caracterizada por obstruções repetidas das vias aéreas superiores que ocorrem durante o sono, gerando a sensação de sufocamento e roncos freqüentes. É um distúrbio do sono freqüente na população. As pausas respiratórias ocorrem várias vezes durante a noite, causando alterações no padrão de sono, com despertares freqüentes e quedas na oxigenação. As conseqüências são: sonolência durante o dia piorando a qualidade de vida dos portadores, dificuldade de memorização, baixo rendimento no trabalho, além de maiores chances de desenvolver infarto do miocárdio7 e acidentes vasculares8 cerebrais.
Com o uso do equipamento CPAP, todo o ciclo ventilatório é realizado com um sistema pressurizado e constante. Ele pressuriza o ar ambiente, enviando-o por uma tubulação a uma máscara de silicone que deve ser acoplada ao rosto do paciente durante o sono. Se usado corretamente, o aparelho pode eliminar totalmente os eventos respiratórios.
O grupo de pesquisadores demonstrou, em um estudo realizado em 2005, que pacientes com AOS apresentavam marcadores precoces de arteriosclerose9 em relação a um grupo de voluntários sadios. Como os pacientes com AOS não tinham hipertensão10, não fumavam e estavam isentos de fatores de risco, o estudo indicou uma clara associação entre a apnéia4 e a arteriosclerose9, mostrando que a AOS acelera em quase dez anos o envelhecimento arterial e a progressão da arteriosclerose9.
Durante os dois anos seguintes, os pesquisadores estudaram efeitos do CPAP em pacientes com apnéia4 grave, estudando 24 voluntários divididos em dois grupos aleatoriamente: um não recebia tratamento e o outro usava o CPAP. Além do colesterol11, da glicemia12 e de fatores ligados à inflamação13 – importante componente da arteriosclerose9 –, os cientistas mediram marcadores de atividade simpática e observaram que os indivíduos tratados com o CPAP apresentaram reduções significativas dos marcadores, incluindo rigidez arterial e espessura da camada íntima-média da carótida. O grupo controle não demonstrou a mesma redução.
Segundo o coordenador do estudo, existem limitações na pesquisa realizada já que envolve um número pequeno de casos e os pacientes estudados não apresentavam comorbidades14, ou seja, outras patologias geralmente associadas à apnéia4, como hipertensão10 e diabetes15.
Fonte: American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine