JAMA: doenças mentais associadas ao diabetes mellitus
Os indivíduos com diabetes1 tipo 1 ou tipo 2 estão em maior risco para desenvolver depressão, ansiedade e transtornos alimentares. Estas comorbidades2 comprometem a adesão ao tratamento e, assim, aumentam o risco de complicações graves que podem resultar em cegueira, amputações, acidentes vasculares3 cerebrais, declínio cognitivo4, diminuição da qualidade de vida e morte prematura.
Quando essas comorbidades2 em saúde5 mental do diabetes1 não são diagnosticadas e tratadas, o custo financeiro para a sociedade é considerável. Neste artigo, publicado pelo The Journal of the American Medical Association (JAMA), especialistas resumiram a prevalência6 e as consequências para a saúde5 mental de pacientes com diabetes1 tipo 1 ou tipo 2 e sugeriram estratégias para identificação e tratamento de diabéticos com comorbidades2 mentais.
Uma das mais sérias comorbidades2 mentais associados ao diabetes1 é o transtorno depressivo maior. Ele afeta 6,7% dos adultos americanos com 18 anos ou mais e é mais provável de ser diagnosticado em adultos norte-americanos com diabetes mellitus7. No geral, as taxas de depressão entre os indivíduos com diabetes1 tipo 1 ou tipo 2 são duas vezes maiores do que na população geral. Uma meta-análise de 2011 relatou que as taxas de depressão são mais elevadas em jovens com diabetes tipo 18 em comparação com aqueles sem a doença, embora as diferenças não sejam tão grandes como relatadas em estudos mais antigos. Jovens adultos com diabetes tipo 18 estão especialmente em risco para maus resultados na saúde5 física e mental e para morte prematura.
Grandes avanços nas últimas duas décadas têm aumentado a compreensão da base biológica para a relação entre depressão e diabetes1. Uma relação bidirecional pode existir entre o diabetes tipo 29 e depressão: assim como o diabetes tipo 29 aumenta o risco para o aparecimento da depressão maior, um sinal10 de transtorno depressivo maior aumenta o risco para o surgimento do diabetes tipo 29. Além disso, a angústia do diabetes1 já é reconhecida como uma entidade separada do transtorno depressivo maior. A angústia do diabetes1 ocorre porque praticamente todos os cuidados com o diabetes1 envolvem um comportamento de auto-gestão que exige um equilíbrio complexo de um conjunto de tarefas comportamentais por parte da pessoa e da família, 24 horas por dia, sem "dias de descanso". As tarefas de autogestão para o diabetes tipo 18 envolvem a verificação cuidadosa dos níveis de glicose11 no sangue12 para ajustar múltiplas doses de insulina13 necessárias durante o dia e à noite. Isto é equilibrado com as decisões alimentares e com a prática de atividades físicas que influenciam os níveis de glicose11 no sangue12, prevenindo a hipoglicemia14, que pode levar a convulsões e ao coma15.
Viver com diabetes1 está associado a uma ampla gama de angústias, tais como sentir-se sobrecarregado com a rotina do diabetes1, estar preocupado com o futuro e a possibilidade de complicações graves e sentir-se culpado quando a gerência da doença vai mal. Este peso e o sofrimento emocional de indivíduos com diabetes1 tipo 1 ou tipo 2, mesmo em níveis de gravidade abaixo do limiar para um diagnóstico16 psiquiátrico de depressão ou ansiedade, estão associados com a baixa adesão ao tratamento, ao controle glicêmico inadequado, a taxas mais altas de complicações do diabetes17 e a uma qualidade de vida prejudicada.
A depressão em diabéticos também está associada a um cuidado pessoal pobre no que diz respeito ao tratamento do diabetes1 (não aderência), ao controle glicêmico inadequado, às complicações no longo prazo, à diminuição da qualidade de vida e ao aumento do desemprego e da invalidez. A depressão entre indivíduos com diabetes1 aumenta a utilização e as despesas com serviços de saúde5, independentemente da idade, sexo, raça/etnia e nível social.
Mas a depressão pode ser tratada com sucesso em pessoas com diabetes1. Os ensaios clínicos18 de eficácia do tratamento da depressão com psicoterapia e com medicamentos antidepressivos têm demonstrado efeitos moderados sobre a depressão, mas mínimos sobre o controle da glicose11. Em contraste, os ensaios clínicos18 de efetividade, como o modelo de cuidados colaborativos avaliado entre pessoas com diabetes1 e depressão em cuidados primários, têm demonstrado melhorias significativas na depressão e no controle da glicose11, bem como economias com gastos médicos.
DISTÚRBIOS DE ANSIEDADE
Muitas pessoas com diabetes1 e depressão também tem distúrbios de ansiedade, como transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do pânico ou transtorno de estresse pós-traumático. Os transtornos de ansiedade também podem ocorrer em pessoas com diabetes1, mas sem depressão. O aumento da ansiedade em pessoas com diabetes tipo 18 ou tipo 2 pode ocorrer principalmente quando o diabetes1 é diagnosticado pela primeira vez e quando as complicações do diabetes17 ocorrem pela primeira vez. A ansiedade complica a vida dos diabéticos e sua gestão de pelo menos três formas:
- Perturbações da ansiedade graves se sobrepõem, em grande parte, com os sintomas19 da hipoglicemia14, tornando difícil para uma pessoa com diabetes1 diferenciar entre os sentimentos de ansiedade e os sintomas19 de hipoglicemia14 que requerem tratamento imediato.
- A ansiedade pré-existente em relação a injeções ou a coletas de sangue12 pode levar à ansiedade grave ou transtornos de pânico, quando uma pessoa é diagnosticada com diabetes1.
- O medo da hipoglicemia14, uma fonte comum de ansiedade severa para pessoas com diabetes1, pode levar alguns pacientes a manterem os níveis de glicose11 no sangue12 acima da meta de controle. Os pais de crianças com diabetes tipo 18 também estão em alto risco para terem um medo extremo da hipoglicemia14.
TRANSTORNOS ALIMENTARES
Mulheres com diabetes tipo 18 têm um risco duas vezes maior de desenvolver distúrbio alimentar e um risco 1,9 vezes maior para o desenvolvimento de transtornos alimentares subconscientes do que as mulheres sem diabetes1. Pouco é conhecido sobre distúrbios alimentares em meninos e homens com diabetes1. Comportamentos alimentares alterados em mulheres com diabetes tipo 18 incluem compulsão alimentar e purgação calórica através da restrição de insulina13, com taxas desses comportamentos alimentares alterados relatados em 31% a 40% das mulheres com diabetes tipo 18, com idade entre 15 e 30 anos. Além disso, comportamentos alimentares desordenados persistem e agravam-se ao longo do tempo. Mulheres com diabetes tipo 18 e transtornos alimentares têm pior controle glicêmico, com maiores taxas de hospitalizações e retinopatia, neuropatia20 e morte prematura, em comparação com as mulheres da mesma idade com diabetes tipo 18 sem transtornos alimentares.
RASTREAMENTO DE DOENÇAS MENTAIS EM DIABÉTICOS
Apesar dos efeitos adversos potenciais das patologias mentais sobre o controle do diabetes1 e nas despesas com cuidados de saúde5, apenas cerca de um terço dos pacientes com essas condições coexistentes recebem diagnóstico16 e tratamento. De acordo com os padrões de atendimento atuais da American Diabetes1 Association, “as pessoas com diabetes1 devem receber cuidados médicos de uma equipe com médicos, enfermeiros, assistentes do médico, técnicos de enfermagem, nutricionistas, farmacêuticos e profissionais de saúde5 mental com experiência em diabetes1...". O comunicado também recomenda que os médicos "rotineiramente rastreiem problemas psicossociais, como depressão, ansiedade, distúrbios alimentares e comprometimento cognitivo4 relacionados ao diabetes1." No entanto, poucas clínicas fornecem exames de saúde5 mental ou integram os serviços de saúde5 mental/comportamental em cuidados com os diabéticos.
CONCLUSÕES
Das perspectivas econômica, de saúde5 pública e humanitárias, identificar e tratar os pacientes diabéticos com comorbidades2 mentais deve ser uma prioridade. Jovens adultos com diabetes1 são especialmente vulneráveis a comorbidades2 mentais, pois eles experimentam várias transições que os colocam em risco para a perda de acompanhamento médico adequado. A alta prevalência6 e os custos da depressão no contexto do diabetes1, combinados a evidências de que fatores comportamentais são importantes para a auto-gestão eficaz do diabetes1, criam uma oportunidade importante para integrar o rastreamento de alterações mentais e o tratamento de pessoas com diabetes1 por uma equipe multidisciplinar, para melhorar os resultados individuais e públicos e para ajudar a diminuir as despesas com os cuidados necessários com a saúde5.
Fonte: The Journal of the American Medical Association (JAMA), publicação online, de 10 de julho de 2014