Gostou do artigo? Compartilhe!

Codeína: é hora de parar de prescrever para crianças?

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie esta notícia

A codeína é receitada há muitos anos para pacientes1 pediátricos como analgésico2 e agente antitussígeno. Ela é um pró-fármaco3 que tem de ser metabolizado no fígado4 em morfina para se tornar eficaz. No entanto, existe uma grande variabilidade genética na atividade da enzima5 hepática6 responsável por esta metabolização, a CYP2D6, e, como consequência, a resposta individual à codeína varia de nenhum efeito a uma alta sensibilidade.

Tem sido documentada a ocorrência de depressão respiratória inesperada e morte depois de crianças terem feito uso de codeína, muito em decorrência da metabolização ultrarrápida da droga pelo fígado4. Os pacientes com apneia obstrutiva do sono7 documentada ou suspeita parecem estar particularmente em risco de hipersensibilidade aos opioides, sendo agravado o perigo entre os metabolizadores rápidos neste grupo.

Saiba mais sobre a "Apneia obstrutiva do sono7".

Nos últimos cinco anos, várias organizações e agências reguladoras têm promulgado advertências relativas às respostas adversas associadas à codeína, como segue:

  1. Março de 2011: A Organização Mundial de Saúde8 excluiu a codeína da sua lista de medicamentos essenciais para crianças por causa de preocupações com a eficácia e segurança questionáveis numa parte imprevisível da população pediátrica.
  2. Agosto de 2012: A Food and Drug Administration (FDA) emitiu um alerta de segurança sobre o uso de codeína em crianças após amigdalectomia, adenoidectomia9 ou adenotonsilectomia.
  3. Fevereiro de 2013: Uma atualização da FDA acrescentou um “box preto de advertência" em preparações contendo codeína. O aviso aconselha os profissionais de saúde8 a prescreverem um analgésico2 alternativo à codeína para o controle da dor pós-operatória em crianças submetidas à amigdalectomia e/ou adenoidectomia9. A contraindicação foi adicionada para restringir o uso de codeína em tais pacientes. Os "Avisos de precaução", "Uso pediátrico" e "Seções de informações aos pacientes" da bula também foram atualizados.
  4. Veja mais sobre "Amigdalectomia" e "Adenoidite".
  5. Junho de 2013: A Agência Europeia de Medicamentos emitiu um relatório recomendando a restrição da codeína para o tratamento da dor de crianças com mais de 12 anos, bem como uma contraindicação ao seu uso em crianças menores de 18 anos submetidos à amigdalectomia e/ou adenoidectomia9. Além disso, recomenda não usar a codeína em mulheres em amamentação10.
  6. Junho de 2013: A Health Canada anunciou que tinha revisto a segurança do uso da codeína e contra indicava o uso de codeína para tratamento da dor e da tosse em crianças menores de 12 anos.
  7. Março de 2015: A Agência Europeia de Medicamentos concluiu uma revisão do uso de codeína para tosse e resfriado e recomenda contra o seu uso em crianças menores de 12 anos, bem como crianças e adolescentes entre 12 e 18 anos que têm problemas respiratórios.

Pesquisas clínicas adicionais devem ampliar a compreensão dos riscos e benefícios de opioides e não opioides, como alternativas à codeína, a serem administrados por via oral como agentes eficazes para a dor aguda e crônica.

Leia também "Os perigos da automedicação11" e "Você está tomando seus remédios como devia?".

 

Fonte: Pediatrics, de 19 de setembro de 2016

 

NEWS.MED.BR, 2016. Codeína: é hora de parar de prescrever para crianças?. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/pharma-news/1276193/codeina-e-hora-de-parar-de-prescrever-para-criancas.htm>. Acesso em: 19 nov. 2024.

Complementos

1 Para pacientes: Você pode utilizar este texto livremente com seus pacientes, inclusive alterando-o, de acordo com a sua prática e experiência. Conheça todos os materiais Para Pacientes disponíveis para auxiliar, educar e esclarecer seus pacientes, colaborando para a melhoria da relação médico-paciente, reunidos no canal Para Pacientes . As informações contidas neste texto são baseadas em uma compilação feita pela equipe médica da Centralx. Você deve checar e confirmar as informações e divulgá-las para seus pacientes de acordo com seus conhecimentos médicos.
2 Analgésico: Medicamento usado para aliviar a dor. As drogas analgésicas incluem os antiinflamatórios não-esteróides (AINE), tais como os salicilatos, drogas narcóticas como a morfina e drogas sintéticas com propriedades narcóticas, como o tramadol.
3 Fármaco: Qualquer produto ou preparado farmacêutico; medicamento.
4 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
5 Enzima: Proteína produzida pelo organismo que gera uma reação química. Por exemplo, as enzimas produzidas pelo intestino que ajudam no processo digestivo.
6 Hepática: Relativa a ou que forma, constitui ou faz parte do fígado.
7 Apnéia obstrutiva do sono: Pausas na respiração durante o sono.
8 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
9 Adenoidectomia: Retirada cirúrgica das adenoides.
10 Amamentação: Ato da nutriz dar o peito e o lactente mamá-lo diretamente. É um fenômeno psico-sócio-cultural. Dar de mamar a; criar ao peito; aleitar; lactar... A amamentação é uma forma de aleitamento, mas há outras formas.
11 Automedicação: Automedicação é a prática de tomar remédios sem a prescrição, orientação e supervisão médicas.
Gostou do artigo? Compartilhe!