Triclosan pode ajudar a combater malária resistente a medicamentos, publicado pelo Scientific Reports
A malária resistente a medicamentos está se tornando uma ameaça cada vez mais significativa e os tratamentos efetivos estão se esgotando lentamente.
Quando um mosquito infectado com parasitas da malária pica alguém, ele transfere os parasitas para a corrente sanguínea através da sua saliva. Esses parasitas atravessam o fígado1, onde amadurecem e se reproduzem. Após alguns dias, eles deixam o fígado1 e sequestram os glóbulos vermelhos, continuando a se multiplicar, a se espalhar pelo organismo e causam sintomas2, incluindo complicações potencialmente fatais.
Saiba mais sobre "Malária" e "Diferenças entre endemia, epidemia e pandemia3".
A malária mata mais de meio milhão de pessoas por ano, predominantemente na África e no Sudeste Asiático. Enquanto uma série de medicamentos são usados para tratar a doença, os parasitas da malária estão crescendo cada vez mais resistentes a essas drogas, aumentando o espectro da malária intratável no futuro.
Em um estudo publicado na revista Scientific Reports, uma equipe de pesquisadores usou o robô “Eve” e descobriu que o triclosan, um ingrediente encontrado em muitos dentifrícios, pode ajudar a combater a resistência a medicamentos antimaláricos4.
Quando usado na pasta de dentes, o triclosan previne o acúmulo de bactérias na placa5 bacteriana, inibindo a ação de uma enzima6 conhecida como enoyl redutase (ENR), envolvida na produção de ácidos graxos.
Os cientistas sabem há algum tempo que o triclosan também inibe o crescimento do Plasmodium na cultura do parasita7 da malária durante o estágio sanguíneo e assumiam que isso era porque ele estava direcionado à ENR, que é encontrada no fígado1. No entanto, um trabalho subsequente mostrou que melhorar a capacidade do triclosan em atingir a ENR não teve efeito sobre o crescimento do parasita7 no sangue8.
Trabalhando com o robô “Eve”, a equipe de pesquisa descobriu que, de fato, o triclosan afeta o crescimento do parasita7, inibindo especificamente uma enzima6 completamente diferente, chamada DHFR. A DHFR é o alvo de um medicamento antipalúdico bem estabelecido, a pirimetamina. No entanto, a resistência à droga entre os parasitas da malária é comum, particularmente na África. A equipe de Cambridge mostrou que o triclosan foi capaz de atingir e atuar sobre esta enzima6, mesmo em parasitas resistentes às pirimetaminas.
Como o triclosan inibe tanto a ENR como a DHFR, os pesquisadores acreditam ser possível atingir o parasita7 no estágio do fígado1 e no estágio tardio no sangue8.
A autora principal deste estudo, Dra. Elizabeth Bilsland, professora adjunta da Universidade de Campinas, no Brasil, acrescenta que "A descoberta com o uso do robô Eve, de que o triclosan é eficaz contra alvos da malária, oferece esperança para desenvolver uma nova droga. O triclosan é um composto seguro e sua capacidade de atingir dois pontos no ciclo de vida do parasita7 da malária significa que o parasita7 terá dificuldades em evoluir a resistência aos medicamentos".
O robô Eve foi desenvolvido por uma equipe de cientistas nas Universidades de Manchester, Aberystwyth e Cambridge para automatizar e acelerar o processo de descoberta de drogas, desenvolvendo e testando automaticamente hipóteses para explicar observações, executar experiências usando a robótica de laboratório, interpretar resultados para alterar suas hipóteses e, em seguida, repetir o ciclo, automatizando pesquisas de alto rendimento com base em hipóteses.
A pesquisa foi apoiada pelo Conselho de Pesquisa em Biotecnologia e Ciências Biológicas, a Comissão Européia, a Fundação Gates e a FAPESP (Fundação de Pesquisa de São Paulo).
Leia a pesquisa completa em: AI 'scientist' finds that toothpaste ingredient may help fight drug-resistant malaria.
Fontes:
Scientific Reports, publicação online em 18 de janeiro de 2018
University of Cambridge, em 18 de janeiro de 2018