Associações entre o uso de mídia baseada em tela e a integridade da substância branca do cérebro em crianças em idade pré-escolar
A Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda limites para o uso da mídia baseada em tela, citando seus riscos cognitivo1-comportamentais. O uso de tela por crianças pequenas é predominante e crescente, embora suas implicações para o desenvolvimento do cérebro2 sejam desconhecidas.
O objetivo deste estudo, publicado pelo periódico JAMA Pediatrics, foi explorar as associações entre o uso da mídia baseada em tela e a integridade dos setores da substância branca do cérebro2 que apoiam as habilidades de linguagem e alfabetização em crianças em idade pré-escolar.
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Este estudo transversal de crianças saudáveis com idades entre 3 e 5 anos (n = 47) foi realizado de agosto de 2017 a novembro de 2018. Os participantes foram recrutados em um hospital infantil americano e em clínicas comunitárias de cuidados primários.
As crianças concluíram o teste cognitivo1 seguido de imagem por tensor de difusão (ITD) e seus pais completaram uma pesquisa ScreenQ.
ScreenQ é uma medida de 15 itens do uso de mídia baseada em tela, refletindo os domínios nas recomendações da AAP: acesso a telas, frequência de uso, conteúdo visualizado e visualização conjunta. Pontuações mais altas refletem maior uso.
Os escores ScreenQ foram aplicados como variável independente em 3 modelos de regressão linear múltipla, com escores em 3 avaliações padronizadas como variável dependente, controlando a idade da criança e a renda familiar: Teste Abrangente de Processamento Fonológico, segunda Edição (CTOPP-2; subteste de Nomeação Rápida de Objetos); Teste de Vocabulário Expressivo, segunda edição (EVT-2; linguagem expressiva); e teste “Prepare-se para ler!” (do inglês: Get Ready to Read! [GRTR]; habilidades emergentes de alfabetização).
As medidas da ITD incluíram anisotropia fracionada (AF) e difusividade radial (DR), que estimaram a organização microestrutural e a mielinização dos setores da substância branca. O ScreenQ foi aplicado como um fator associado à AF e à DR nas análises de regressão do cérebro2 inteiro, que depois foram reduzidas a três setores do lado esquerdo, apoiando a linguagem e as habilidades emergentes de alfabetização.
Das 69 crianças recrutadas, 47 (entre as quais 27 [57%] eram meninas e a idade média [DP] foi de 54,3 [7,5] meses) completaram a ITD. A pontuação média (DP; intervalo) do ScreenQ foi de 8,6 (4,8; 1-19) pontos.
O escore médio (DP; intervalo) do CTOPP-2 foi de 9,4 (3,3; 2-15) pontos, o escore do EVT-2 foi de 113,1 (16,6; 88-144) pontos e o escore do GRTR foi de 19,0 (5,9; 5-25) pontos.
Os escores do ScreenQ foram correlacionados negativamente com EVT-2 (F2,43 = 5,14; R² = 0,19; P < 0,01), CTOPP-2 (F2,35 = 6,64; R² = 0,28; P < 0,01) e GRTR (F2,44 = 17,08; R² = 0,44; P < 0,01), controlando a idade da criança.
Os escores mais altos do ScreenQ foram correlacionados com menor AF e maior DR nos setores envolvidos com a linguagem, função executiva3 e habilidades emergentes de alfabetização (P < 0,05, corrigido para erro familiar), controlando a idade da criança e a renda familiar.
Este estudo encontrou uma associação entre o aumento do uso de mídia baseada em tela, em comparação com as diretrizes da AAP, e a menor integridade microestrutural e mielinização dos setores da substância branca do cérebro2 apoiando a linguagem e as habilidades emergentes de alfabetização em crianças antes da pré-escola, além de avaliações cognitivas correspondentes.
Os resultados sugerem que mais estudos sobre o tema são necessários, principalmente durante os estágios iniciais do desenvolvimento do cérebro2, na primeira infância.
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Fonte: JAMA Pediatrics, publicação em 4 de novembro de 2019.