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Medicamento experimental reduziu os níveis de lipoproteína(a), uma partícula envolvida no risco de ataque cardíaco

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Cerca de uma em cada cinco pessoas apresentam níveis elevados de uma pequena partícula no sangue1. Essa partícula pode aumentar significativamente o risco de ataques cardíacos e AVCs.

Mas poucos sabem sobre isso e quase nenhum médico realiza testes para detectar os níveis dessa partícula, porque não havia muito o que fazer com a informação. A dieta não ajuda. Nem os exercícios. Não há medicamentos. Mas, em um futuro próximo, isso pode mudar.

Recentemente, cardiologistas anunciaram que um medicamento experimental fabricado pela Eli Lilly, o lepodisiran, poderia reduzir os níveis da partícula em questão, lipoproteína(a), ou Lp(a), em 94% com uma única injeção2. Os efeitos duraram seis meses e não houve efeitos colaterais3 significativos. As descobertas foram publicadas no The New England Journal of Medicine.

Mas ainda não está confirmado que a redução dos níveis de Lp(a) também reduza o risco de ataques cardíacos e AVCs. Isso aguarda grandes ensaios clínicos4 que já estão em andamento.

Lepodisiran é um agente de RNA interferente pequeno (siRNA), que consiste em uma seção de RNA de fita dupla projetada para degradar o RNAm que codifica a apolipoproteína(a) no fígado5 e é um componente essencial para produzir Lp(a) lá.

Leia sobre "Entendendo o colesterol6 do organismo" e "Doenças cardiovasculares7".

A dose de 400 mg do medicamento reduziu a Lp(a) em 93,9 pontos percentuais em comparação com o placebo8 entre os dias 60 e 180 após a injeção subcutânea9 inicial, diminuindo os níveis em até 252,3 nmol/L a mais do que o placebo8 no dia 300 e mantendo uma redução absoluta ajustada ao placebo8 de 196,9 nmol/L em relação ao valor basal no dia 540.

Os resultados de segurança foram “favoráveis”, com reações transitórias e leves no local da injeção2 em até 11,6% dos pacientes, e elevações das enzimas hepáticas10 em 3% a 5% dos pacientes, que também retornaram aos valores basais na consulta seguinte, relatou Steven Nissen, MD, da Cleveland Clinic, na reunião anual do American College of Cardiology (ACC).

“A conclusão dos ensaios clínicos4 de fase III em andamento sobre desfechos cardiovasculares é agora uma prioridade crítica de pesquisa para determinar se essas terapias podem reduzir a morbidade11 e a mortalidade12 cardiovascular”, concluiu Nissen na sessão. “Os pacientes estão esperando.”

A Lp(a) foi descoberta há 6 décadas e, desde então, demonstrou ser um fator de risco13 geneticamente determinado para doença cardiovascular aterosclerótica e estenose14 aórtica, mas as terapias só agora estão sendo exploradas.

Pessoas com níveis de Lp(a) ligeiramente acima do normal têm um risco cerca de 25% maior de sofrer um ataque cardíaco ou AVC. E níveis muito altos, como observado em 10% da população, podem dobrar o risco.

“Nós e nossos pacientes estamos muito ansiosos para ver alguns resultados e obter terapias para a lipoproteína(a), que está levando a eventos muito devastadores em muitos de nossos pacientes”, disse a debatedora do estudo da sessão do ACC, Eugenia Gianos, MD, diretora de Saúde15 Cardíaca da Mulher no Lenox Hill Hospital na cidade de Nova York.

No artigo publicado, os pesquisadores relatam os resultados do lepodisiran, um RNA interferente pequeno de longa duração direcionado à lipoproteína(a).

Eles contextualizam que concentrações elevadas de lipoproteína(a) estão associadas à doença cardiovascular aterosclerótica. A segurança e a eficácia do lepodisiran, um RNA interferente pequeno de longa duração que atua na síntese hepática16 de lipoproteína(a), são desconhecidas.

Neste estudo, atribuiu-se aleatoriamente os participantes em uma proporção de 1:2:2:2:2 para receber lepodisiran na dose de 16 mg, 96 mg ou 400 mg no início do estudo e novamente no dia 180, lepodisiran na dose de 400 mg no início do estudo e placebo8 no dia 180, ou placebo8 no início do estudo e no dia 180, todos administrados por injeção subcutânea9.

Os dados dos dois grupos que receberam lepodisiran na dose de 400 mg no início do estudo foram agrupados para a análise primária. O desfecho primário foi a variação percentual média temporal da concentração sérica de lipoproteína(a) em relação ao valor basal (diferença entre lepodisiran e placebo8 [ou seja, ajustada ao placebo8]) durante o período entre o dia 60 e o dia 180.

Um total de 320 participantes foi submetido à randomização; a concentração basal mediana de lipoproteína(a) foi de 253,9 nmol por litro. A variação percentual média temporal ajustada por placebo8 em relação ao valor basal na concentração sérica de lipoproteína(a) do dia 60 ao dia 180 foi de -40,8 pontos percentuais (intervalo de confiança [IC] de 95%, -55,8 a -20,6) no grupo de lepodisiran de 16 mg, -75,2 pontos percentuais (IC de 95%, -80,4 a -68,5) no grupo de 96 mg, e -93,9 pontos percentuais (IC de 95%, -95,1 a -92,5) nos grupos combinados de 400 mg.

A variação correspondente do dia 30 ao dia 360 foi de -41,2 pontos percentuais (IC de 95%, -55,4 a -22,4), -77,2 pontos percentuais (IC de 95%, -81,8 a -71,5), -88,5 pontos percentuais (IC de 95%, -90,8 a -85,6) e -94,8 pontos percentuais (IC de 95%, -95,9 a -93,4) nos grupos de dose de 16 mg, 96 mg, 400 mg-placebo8 e 400 mg-400 mg, respectivamente.

Eventos adversos graves, nenhum dos quais foi considerado pelos pesquisadores como relacionado ao lepodisiran ou ao placebo8, ocorreram em 35 participantes. Reações no local da injeção2, geralmente leves e dependentes da dose, ocorreram em até 12% (8 de 69) dos participantes no grupo com a dose mais alta de lepodisiran.

O estudo concluiu que o lepodisiran reduziu as concentrações séricas médias de lipoproteína(a) entre 60 e 180 dias após a administração.

Veja também sobre "O que fazer para reduzir o colesterol6" e "Aterosclerose17".

 

Fontes:
The New England Journal of Medicine, Vol. 392, N° 17, em 30 de março de 2025.
MedPage Today, notícia publicada em 01 de abril de 2025.
The New York Times, notícia publicada em 30 de março de 2025.

 

NEWS.MED.BR, 2025. Medicamento experimental reduziu os níveis de lipoproteína(a), uma partícula envolvida no risco de ataque cardíaco. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/novos-medicamentos/1490370/medicamento-experimental-reduziu-os-niveis-de-lipoproteina-a-uma-particula-envolvida-no-risco-de-ataque-cardiaco.htm>. Acesso em: 29 mai. 2025.

Complementos

1 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
2 Injeção: Infiltração de medicação ou nutrientes líquidos no corpo através de uma agulha e seringa.
3 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
4 Ensaios clínicos: Há três fases diferentes em um ensaio clínico. A Fase 1 é o primeiro teste de um tratamento em seres humanos para determinar se ele é seguro. A Fase 2 concentra-se em saber se um tratamento é eficaz. E a Fase 3 é o teste final antes da aprovação para determinar se o tratamento tem vantagens sobre os tratamentos padrões disponíveis.
5 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
6 Colesterol: Tipo de gordura produzida pelo fígado e encontrada no sangue, músculos, fígado e outros tecidos. O colesterol é usado pelo corpo para a produção de hormônios esteróides (testosterona, estrógeno, cortisol e progesterona). O excesso de colesterol pode causar depósito de gordura nos vasos sangüíneos. Seus componentes são: HDL-Colesterol: tem efeito protetor para as artérias, é considerado o bom colesterol. LDL-Colesterol: relacionado às doenças cardiovasculares, é o mau colesterol. VLDL-Colesterol: representa os triglicérides (um quinto destes).
7 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
8 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
9 Injeção subcutânea: Injetar fluido no tecido localizado abaixo da pele, o tecido celular subcutâneo, com uma agulha e seringa.
10 Enzimas hepáticas: São duas categorias principais de enzimas hepáticas. A primeira inclui as enzimas transaminasas alaninoaminotransferase (ALT ou TGP) e a aspartato aminotransferase (AST ou TOG). Estas são enzimas indicadoras do dano às células hepáticas. A segunda categoria inclui certas enzimas hepáticas como a fosfatase alcalina (FA) e a gamaglutamiltranspeptidase (GGT) as quais indicam obstrução do sistema biliar, quer seja no fígado ou nos canais maiores da bile que se encontram fora deste órgão.
11 Morbidade: Morbidade ou morbilidade é a taxa de portadores de determinada doença em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento.
12 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
13 Fator de risco: Qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença.
14 Estenose: Estreitamento patológico de um conduto, canal ou orifício.
15 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
16 Hepática: Relativa a ou que forma, constitui ou faz parte do fígado.
17 Aterosclerose: Tipo de arteriosclerose caracterizado pela formação de placas de ateroma sobre a parede das artérias.
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