Mal de Chagas: pesquisadores dão passo importante na descoberta de novos medicamentos
Pesquisadores brasileiros participam de pesquisas internacionais para seqüenciar o DNA de três parasitas que causam doenças na população pobre do planeta. É um passo importante na descoberta de novos medicamentos contra a doença de Chagas1. Foram detalhados e comparados o genoma do Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas1, do T. brucei, responsável pela doença do sono, e da Leishmania major, um dos causadores da leishmaniose.
Participaram da pesquisa cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de São Paulo (USP) e Fundação Oswaldo Cruz. Os pesquisadores descobriram pontos em comum nas moléculas destes parasitas, o que cria a possibilidade da decoberta de um medicamento que atue contra as três doenças concomitantemente. Os estudos estão disponíveis na revisrta Science deste mês.
Cerca de 18 milhões de pessoas estão infectadas pelo Trypanosoma cruzi, causando a morte de 21 mil pessoas por ano, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde2 (OMS). Atualmente, não estão disponíveis vacinas ou medicamentos para controlar este mal que causa danos irreparáveis a órgãos vitais, como o coração3.
Ainda não se conhece o número exato de cromossomos4 do DNA deste parasita5. Segundo o biólogo José Franco da Silveira, do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Unifesp, "o número e o tamanho dos cromossomos4 pode variar em diferentes cepas6 do parasita5". Estima-se que ele tenha cerca de 12 mil genes (cerca de metade da atual conta para os seres humanos), muitos dos quais parecem conter o "código" para a fabricação de proteínas7 da mesma família, com algumas pequenas variações. "Essa repetição é muito interessante, embora o que ela significa ainda não esteja muito claro", afirma Carlos Renato Machado, biólogo do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG. Machado trabalhou com Santuza Ribeiro Teixeira, também da UFMG, estudando os genes que o parasita5 usa para consertar o próprio DNA. Muitos codificam proteínas7 da superfície das células8 do parasita5, "relacionadas com a virulência9 e evasão do sistema de defesa do organismo", afirma Silveira. Ou seja, estariam ligadas à capacidade de enganar as células8 humanas que o T. cruzi precisa invadir para sobreviver.
Outros trechos de DNA muito abundantes poderiam ser chamados de "genes-ladroeira". Daniella Bartholomeu, bióloga mineira que faz pós-doutorado com a equipe de El-Sayed nos EUA, explica: "O parasita5, por exemplo, não é capaz de sintetizar ácido siálico. Por isso "rouba" essa molécula do hospedeiro". As substâncias do T. cruzi e do T. brucei conhecidas como trans-sialidases, poderão ser alvos de drogas contra eles, uma vez que estão presentes nos parasitas mas não nos hospedeiros - ou seja, é menos provável que possam causar efeitos colaterais10.
O desenvolvimento de um medicamento único capaz de combater os três parasitas é mais atartivo para o mercado farmacêutico, já que se trata de doenças que geralmente afetam populações mais carentes.
Fonte: Science Magazine