NEJM: cirurgia bariátrica pode ser melhor do que o tratamento convencional do diabetes mellitus para algumas pessoas com a doença
Dois estudos, publicados pelo New England Journal of Medicine, mostraram que a cirurgia bariátrica1 pode ser melhor do que o tratamento convencional do diabetes mellitus2 para alguns diabéticos obesos que não conseguem controlar a sua glicemia3. A cirurgia também ajudou a reduzir a pressão arterial4 e o colesterol5.
Os novos estudos são os primeiros a comparar rigorosamente o tratamento medicamentoso do diabetes6 às cirurgias de redução do estômago7 e desvio de intestino para controlar a doença. Os médicos já sabem que a cirurgia bariátrica1 pode, em algumas situações, melhorar o controle glicêmico de diabéticos tipo 2, mas faltavam dados concretos. A questão agora é se a cirurgia bariátrica1, com seus riscos e complicações, deve ser mais largamente utilizada nesses casos. Alguns especialistas alegam que novos tratamentos para a doença são necessários e que outros estudos maiores do que os dois publicados devem ser realizados.
As cirurgias usadas nos estudos ajudam a controlar o diabetes6 não somente por permitir o emagrecimento, mas também por mudar a anatomia e alterar níveis de hormônios intestinais que afetam o metabolismo8 de açúcar9 e gorduras.
Um dos estudos, conduzido na Universidade Católica de Roma, comparou dois tipos de cirurgia com o tratamento usual para o diabetes6. Ele envolveu 60 pacientes com idades entre 30 e 60 anos, com IMC10 maior ou igual a 35 kg/m², com história de pelo menos 5 anos de diabetes mellitus2 e com níveis de hemoglobina glicosilada11 maior ou igual a 7%. Eles foram escolhidos aleatoriamente para receber tratamento médico ou uma das duas operações. A primeira operação, bypass gástrico, reduz o estômago7 e reorganiza o trato digestivo de modo que o alimento entra no intestino delgado12 um pouco mais tarde que o habitual. A segunda, derivação biliopancreática, também reduz o estômago7 e altera o intestino delgado12 de uma forma mais extrema, além disso, a vesícula biliar13 é retirada. Depois de dois anos dos procedimentos, a equipe cirúrgica observou uma taxa de remissão de 75% (com o bypass gástrico) e de 95% (com cirurgia biliopancreática). Não houve remissão no grupo que recebeu o tratamento medicamentoso padrão.
O segundo estudo, realizado na Cleveland Clinic, comparou dois tipos de cirurgia com um regime medicamentoso intensivo de tratamento para o diabetes mellitus2. A pesquisa incluiu 150 pacientes obesos (IMC10 entre 27 e 43 kg/m²), diabéticos com níveis glicêmicos não controlados e com média de hemoglobina glicosilada11 de 9,2%. As idades variaram entre 20 e 60 anos. Os pacientes receberam tratamento médico intensivo, bypass gástrico ou gastrectomia vertical (corta parte do estômago7, reduzindo o seu tamanho e diminuindo a ingestão de alimentos. É uma operação um pouco mais simples e mais segura do que o bypass gástrico e está se popularizando). As taxas de remissão da doença, após um ano do procedimento, foram mais baixas do que as do estudo italiano - 42% (com o bypass gástrico) e 37% (com a gastrectomia vertical) - pelo menos em parte, porque o grupo americano usou uma definição mais estrita da remissão. O tratamento medicamentoso intensivo levou à remissão em 12% dos pacientes.
O Dr. Philip Schauer, que liderou o estudo americano e realizou as cirurgias, disse que as taxas de remissão foram menores do que o esperado. Uma possível razão é que os pacientes tinham diabetes6 muito avançado.
Nenhum dos estudos envolveu a cirurgia conhecida como Banda Gástrica Ajustável, a qual usa um balão inflável de silicone que é colocado na parte superior do estômago7. Este procedimento é completamente reversível, pois não corta nem retira nenhuma parte do estômago7, permitindo a digestão14 e o aproveitamento dos nutrientes.
As publicações envolveram estudos relativamente pequenos, que não ultrapassaram dois anos de seguimento. Os autores dizem que não está claro se a cirurgia pode ajudar os pacientes diabéticos que não são obesos ou não tão pesados quanto os que participaram dos estudos. As cirurgias foram realizadas por cirurgiões altamente qualificados e os resultados com outros cirurgiões podem não ser tão bons. Não houve mortes nos dois estudos, mas houve complicações como infecções15, deficiências nutricionais, perda óssea e problemas cirúrgicos que necessitaram de cirurgias repetidas para solucioná-los.
Fonte: NEJM, de 26 de março de 2012